INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA COM MÃES PARTICIPANTES DO MÉTODO CANGURU NA MATERNIDADE DONA EVANGELINA ROSA DE TERESINA-PI

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INTERVENÇÃO PSICOLÓGICA COM MÃES PARTICIPANTES DO MÉTODO CANGURU NA MATERNIDADE DONA EVANGELINA ROSA DE TERESINA-PI: um relato de experiência.2010.(Lydia de Carvalho Pires, psicóloga)
O Método Canguru no Brasil, enquanto política de saúde mostra-se como um conjunto de estratégias de intervenção que viabilizam fatores de proteção para o desenvolvimento de bebês prematuros, pois assegura a formação do vínculo afetivo mãe-bebê e estimulação precoce, respeitando sua capacidade neurológica de interação, inserção da família nos cuidados e acompanhamento do bebê, além de representar para a família um suporte social importante na situação de crise em que se encontra. A hospitalização do filho na unidade neonatal exige da mulher o afastamento do convívio familiar e a submissão a uma rotina hospitalar estressante, estando em contato diário com procedimentos dolorosos e invasivos que compõem a assistência ao neonato e, durante todo esse processo, podem surgir sentimentos de medo, insegurança e incerteza quanto à sobrevivência do filho. O objeto deste estudo foi à experiência de intervenção psicológica com mães participantes do método canguru. O presente estudo teve como objetivos: descrever e refletir sobre a experiência de intervenção psicológica com mães participantes do método canguru em maternidade pública de Teresina – PI. As intervenções foram realizadas individualmente, direcionadas às dificuldades enfrentadas durante a internação e através de grupos de apoio, que se constituíram em espaços facilitadores de reflexão de sentimentos e de orientação, valorizando a escuta e minimizando o sofrimento psíquico das mães. Portanto, esta experiência proporcionou o fortalecimento do vínculo e apego mãe-bebê, o aumento da competência materna no cuidado do seu filho, melhoria das relações interpessoais entre as mães e entre estas e a equipe multiprofissional, uma comunicação mais efetiva, diminuição da ansiedade e redução do tempo de internação.
Com a realização deste estudo observou-se o quanto a chegada de uma criança provoca uma mudança profunda no ciclo familiar, trazendo um grande desafio para as famílias. No caso do nascimento prematuro, a família se vê frente a uma experiência desgastante, o que ocasiona profundas alterações na sua dinâmica, e se prolonga com a internação do filho em situação de risco. A mãe, num curtíssimo espaço de tempo se torna acompanhante do filho, tendo que se afastar das atividades do dia-a-dia, da família, dos amigos, da casa, do trabalho, sem que esteja preparada para isso, passando, geralmente, por momentos de muito sofrimento.
            Percebeu-se que o processo de comunicação tão importante nessa fase, muitas vezes não era efetivado, ficando as mães desinformadas sobre a real situação de seu filho, gerando sentimentos de incerteza, insegurança e apreensão, que podiam ser minimizados através do efetivo diálogo, propiciando troca de informações, permitindo espaço para a escuta, verificando-se assim, de que forma elas absorviam o conteúdo explicado.
            Diante dessa realidade passou-se a desenvolver intervenções psicológicas direcionadas à escuta, apoio e orientação às mães, que minimizavam o sofrimento psíquico e fortaleciam o vínculo mãe-bebê, fazendo com que o período de internação fosse menos traumático para ambos, cumprindo os objetivos propostos ao iniciar este trabalho.
            Com o incentivo constante para que os pais e, especialmente, as mães se fizessem presentes à UTIN e UCIN, o que preconiza o Método Canguru, houve uma maior aproximação entre a equipe e a família, oferecendo vantagens para o estabelecimento do vínculo mãe-bebê, as mães se tornaram mais familiarizadas com os cuidados do bebê, diminuindo a ansiedade ao chegarem à enfermaria canguru e reduzindo o tempo de permanência até a alta hospitalar.
            Outro aspecto importante observado foi o efeito positivo trazido pelos grupos de apoio às mães, gradativamente a enfermaria canguru passou a ser vista como um espaço de novas amizades, aconselhamentos com troca de experiência, amenizando, deste modo, os efeitos indesejáveis da hospitalização. Após a participação nos grupos, as mães sentiam-se melhor, e isto pode ser percebido no cuidado delas com os filhos. Cuidavam com maior tranqüilidade, demonstrando mais segurança e conscientização sobre o que estava acontecendo com seus bebês, interagiam melhor com os profissionais da unidade e com as outras mães, diminuindo os conflitos existentes anteriormente.
            Estas intervenções encontraram eco com a chegada de um grupo de psicólogas voluntárias que ao conhecerem este trabalho, se disponibilizaram a apoiá-lo, possibilitando a ampliação da assistência às mães, com repercussões que se estenderam além das portas da unidade neonatal.
            Constatou-se a importância do trabalho psicológico dentro da maternidade como um todo, especialmente junto às mães acompanhantes de bebês prematuros, e isto aponta para a necessidade de se encontrar meios de capacitar mais profissionais da área, a fim de garantir a efetiva implementação destas intervenções, tendo em vista a grande demanda existente no local.
            Cabe salientar, que este estudo não esgota o tema escolhido, pelo contrário, é mais um trabalho que procurou compreender sentimentos e emoções, respeitando a subjetividade dos indivíduos, para melhorar a qualidade do cuidado, a partir de uma perspectiva ampliada de humanização.