Pensar além é preciso

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Na noite de 24 de maio de 2011, na aula de Introdução à Psicologia da Saúde, o professor Douglas Casarotto propôs que escolhessemos um capítulo de um livro ou um artigo dentre os tantos que ele trouxe para que fizéssemos um trabalho sobre ele. Após as escolhas frenéticas dos alunos, ele explicou que na próxima aula iria definir o que realmente iríamos fazer e portanto, deveríamos estar, dentro do assunto que competia aos nossos materiais, minimamente inteirados.

Semana seguinte, nossa tarefa era cadastrar-nos na REDEHUMANIZASUS.NET e elaborar um post, compartilhando nossos pensamentos sobre àqueles materiais. Dito e agora feito.

Pois bem, dizem que nossas escolhas são baseadas em experiências e descobertas anteriores, quem sabe, até muito antigas e que nos acompanham. Quem me visse com o “Desinstitucionalização”, organizado pela doutora em Saúde Coletiva Maria Fernanda de Silvio Nicácio, e vou confessar que até mesmo eu se me visse, acabaria por estranhar ou não compreender totalmente o que significaria o título do livro. Pois bem, busquei todos os significados da palavra institucionalização e percebi que talvez sim, nossas escolhas possam estar ligadas às experiências anteriores, mas querer ficar atadas a elas é uma questão de escolha.

Institucionalização é o termo usado para descrever tanto o processo de, quanto os prejuízos causados a seres humanos pela aplicação opressiva ou corrupta de sistemas de controle sociais, médicos ou legais inflexíveis por instituições públicas, ou sem fins lucrativos criadas originalmente com fins e razões benéficas.”

 

Como nunca gostei do que comumente chamamos de rótulos, pois sempre senti, antes mesmo de ser acadêmica de Psicologia, que eles limitavam e muito as pessoas que os recebiam, pude fazer uma conexão com isso: quem nunca foi rotulado e então, institucionalizado (isolado de um grupo do qual gostaria de pertencer)?

Com isso, o texto do qual resolvi me aprofundar foi “A Instituição Inventada” do médico italiano Franco Rotelli, precursor da história da reforma psiquiátrica em seu país. Além de falar sobre sua experiência em Trieste (cidade onde o autor atua), ele problematiza os aparatos utilizados para isolar e “tratar” aqueles que eram os ditos doentes mentais.

O que era a instituição a ser negada? A instituição em questão era o conjunto de aparatos científicos, legislativos, administrativos, de códigos de referência cultural e de relações de poder estruturados em torno de um objeto bem preciso: “a doença”, à qual se sobrepõe no manicômio o objeto ‘periculosidade’.”

Vejo essa nominação de doença como periculosidade, dita por Rotelli, como uma fuga de muitos de nós, normais, em admitir que a condição de adaptação aos acontecimentos da vida de uma forma equilibrada não é, digamos, natural ou comum. Para quem vê a doença como uma forma criativa do ser humano para lidar com esse mundo passando a se constituir em redes sociais que limitam as relações a um mero clique; aos atendimentos, infelizmente ainda existentes, mediados por uma lista de espera e uma assinatura em um papel colorido; a insultos gratuitos no trânsito; às forças das relações de poder em convivências humanas; e tantas outras situações que desgastam cada vez mais a existência de muitos, jamais considerará que o perigo precisa ser isolado.

Quando estudamos em psicanálise que, ao recalcarmos uma ideia, ela adquire mais forças no inconsciente; o mesmo pensamento poderia ser utilizado agora, pelo menos para minha compreensão em Psicologia da Saúde, que o isolamento de pessoas acometidas por sofrimentos psíquicos é no mínimo um erro, já que elas precisam perceber na convivência, compreensiva da nossa parte, que o que os difere é uma forma nova de viver e que pode ser sim adaptada a esse mundo em que vivemos. O trabalho é árduo e ninguém vai negar, principalmente eu que apenas estou estudando isso, mas as ações jamais se tornam em experiências se não tentarmos, se não nos propusermos a mudar aquilo que percebemos como dificultadoras da vida de quem queremos cuidar.

Por toda a temática apresentada no texto, pude sentir que o simples ato de discutirmos e pensarmos sobre as mudanças que levaram e ainda continuam levando a uma desinstitucionalização dessa doença, dessas loucuras, fazem sim uma enorme diferença, já que só fazendo isso, primeiramente, é que podemos criar novas estratégias, novos rumos para o tratamento de pessoas que são como nós, de carne e osso e sentimentos.


Referências Bibliográficas:

ROTELLI, F. A Instituição Inventada. In: NICÁCIO, Maria Fernanda (org.). Desinstitucionalização. São Paulo: Hucitec, 1990