A Cultura Profissional do Psicólogo e o Ideário Individualista

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Na aula de Seminários de Práticas Integradas I, a professora Fernanda Berichello nos propôs a leitura do texto “A Cultura Profissional do Psicólogo e o Ideário Individualista: Implicações para a Prática no Campo da Assistência Pública à Saúde”, de autoria de Magda Dimenstein. Este aborda o papel desempenhado pelo psicólogo sob a perspectiva do ideário individualista. A autora mostra claramente as conseqüências dessa concepção para as práticas do profissional da psicologia que realiza suas atividades na assistência pública à saúde.
            Magda Diemenstein traça o histórico da ideologia individualista, remontando aos anos 60 quando a difusão da psicanálise no Brasil, que era voltada para o atendimento individual e para uma clientela economicamente privilegiada. Da mesma forma, ela aponta a representação de um ideal de sujeito, a qual ela chama de sujeito psicológico. Este sujeito seria subjetivo e definiu a identidade e cultura profissional dos psicólogos.
            Diemenstein propõe uma reflexão acerca da atuação dos profissionais da psicologia e defende que muitas vezes os mesmos realizam práticas descontextualizadas, o que os impedem de perceber o caráter histórico dos problemas sociais, que consequentemente, refletem na vida individual do sujeito. Para ela, essa questão está relacionada à formação universitária, uma vez que os estudantes aderem, sem uma reflexão crítica (e sem um olhar social e global) a teorias, técnicas e modelos de atuação que condicionam determinadas respostas para os problemas que venham a surgir durante a vida profissional. Desta forma, estes profissionais desconsideram os aspectos sociais e culturais que atravessam os indivíduos – o que, para a autora, é uma consequência das grades curriculares dos cursos de psicologia, que tem seu foco na individualidade.
            Considerando tudo isso, é comum acontecer de o psicólogo transpor para o setor público este modelo aprendido durante a faculdade. Aqui reside alguns sérios problemas que a autora expressa muito bem: baixa eficácia da terapêuticas e alto índice de abandono dos tratamentos, bem como a psicologização dos problemas sociais. Na rede pública de saúde, a clientela geralmente é de baixa renda e chega à sua procura com uma expectativa diferente daquela que o profissional está acostumado na clínica particular.  A principal diferença é que os primeiros buscam a eliminação dos sintomas, ao passo que os segundos buscam o autoconhecimento. Além disso, o psicólogo se depara com problemas que escapam aos seus conhecimentos específicos – problemas estes que dizem respeito às condições de vida desta população que vai em busca de atendimento público de saúde. Aqui entra a necessidade de um olhar social!            
            O texto traz ainda a questão da representação de saúde/doença, que difere substancialmente entre os pacientes da rede pública de saúde e os pacientes do consultório privado, bem como do próprio psicólogo – o que é saúde e o que é doença para cada classe social que busca atendimento.
            Desta forma, fica claro que é imprescindível que o profissional que atua na rede pública de saúde (não apenas o psicólogo, mas todos os profissionais que compõe a rede) deve reinventar seu conheciemento e suas práticas, para que a terapêutica seja eficaz e motive o paciente a permanecer no tratamento.