Intereção Social, Receita de Saúde

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Interação Social, Receita de Saúde !

Festa da interação, foi o que tivemos em junho durante a Quadra Junina do Hospital Barros Barreto. As equipes de profissionais do Projeto Biblioterapia e da Pediatria realizaram seus arraias aproveitando os espaços internos e externos do hospital. Momentos de muita alegria e acolhimento fraterno entre trabalhadores e usuários.

As apresentações dos Grupos Folclóricos Roceiros da São Miguel e Arraia do Pavulagem abrilhantaram os “terreiros de São João” do hospital e contagiaram os participantes. Teve ainda distribuição de brindes e lanches para as crianças e comidas típicas da época para acompanhantes e funcionários. Bandeirinhas, balões, brincadeiras de pescaria e cabra cega, mingau de milho, bolo de fubá e sucos regionais fizeram o clima junino. Tudo animado com muita música “rastapé”, forró e carimbó.
 

Durante a abertura das festividades a direção do hospital ressaltou o quão importante é para os pacientes e para o ambiente hospitalar, visto pela sociedade apenas como local de “cura de doenças”, que sejam realizados eventos como estes. Que contribuem significativamente na luta do hospital pela “promoção da saúde das pessoas”. Tendo, na alegria e na interação da comunidade hospitalar, o seu “ingrediente especial”.
 

Esta percepção inicial de valorização dos “momentos de festa” como espaços de integração dos profissionais e usuários em prol da saúde, permite-nos entender o porquê da Política Nacional de Humanização do SUS (PNH) estabelecer entre seus princípios: “a valorização da dimensão subjetiva em todas as práticas da atenção e da gestão da saúde”. Pois, quando fomentados conscientemente sob este princípio norteador, tais momentos tornam-se uma “ferramenta qualitativa” a ser usada no enfrentamento dos desafios da rede pública hospitalar.
 

Sob este enfoque os Arraiais, as Ceias do Natal, o Café do Dia das Mães etc. no ambiente hospitalar deixariam de ser simbólicas e pontuais atitudes voluntariosas e humanitárias, para contribuírem na “prescrição médica”, a fazerem parte do “receituário do paciente”. Representariam alcances maiores à proposta do SUS de Atenção Integral. Pelo envolvimento multiprofissional agora também nestes “espaços informais”. Representaria a seara técnico-científica, dos clássicos Processos de Produção da Saúde, explorar terapeuticamente o “potencial significante das relações sociais”.
 

Trata-se de investir na interação social das pessoas como fator aglutinador da “capacidade afetiva” e de “bagagem cultural” desses sujeitos. Reconhecendo nesta interação o “elemento catalisador” que influencia nos resultados dos processos de saúde.
 

Contextos subjetivos, ainda hoje à margem dos Protocolos da Assistência, mas que já “apóiam” a terapêutica fazendo-a avançar sobre sua eficiência técnica, para alcançar sua eficácia através do estreitamento das relações humanas. Relações estas, também impactadas pela dinâmica cotidiana da “luta contra a doença,
pela saúde” e pelos conflitos alimentados culturalmente pelo modelo burocrático e objetivado de estruturação e de gestão existente nas organizações de saúde públicas.
 

Tais “eventos festivos” pautados hoje em um “calendário lúdico”, podem, no futuro, investidos de cuidados com a sua “dimensão subjetiva”, estar inseridos nos Protocolos da Atenção. Gerando um “clima de Humanização da Saúde” onde os membros da comunidade hospitalar passem a se sentir de alguma forma mais do que “periodicamente animados”; sintam-se continuamente e fraternalmente
acolhidos numa “festa de interação social”. E, principalmente, sejam transformados em sujeitos conscientemente protagonistas de um novo momento, mais coerente com a proposta de criação do SUS e sua Política de Humanização. Como preconiza a PNH:

“Tomamos a humanização como estratégia de interferência no processo de produção da saúde, levando-se em conta que sujeitos sociais, quando mobilizados, são capazes de transformar realidades transformando-se a si próprios nesse mesmo processo.” (PNH/MS, 2004)