Alguns Motivos Para Não Ver “A Árvore da Vida”

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Cinema é arte e a arte não é feita necessariamente para agradar as pessoas, pelo contrário. Ela muitas vezes desaponta porque arranha nossas flores narcísicas, nos joga no rosto o quanto nossas certezas inabaláveis desmancham-se no ar, subverte, nega, (re)afirma.

Caso você queira ver um filme certinho, com sentido linear e cartesiano de tempo, então não assista "A Árvorede da Vida".

Você gosta de narrativas cheias de clichês? Então não assista "A Árvore da vida".

Seu objetivo é ir ao cinema para relaxar, dar umas boas risadas enquanto come uma pipoca cara com refrigerante abarrotado de sódio e não ficar pensando sobre o sentido davida? Então não assista "A àrvore da Vida".

Ah, já sei. Você é fã dos atributos físicos do Brad Pitt e quer vê-lo peladão? Sinto desapontar você, isso não vai acontecer. Não vá assisitir "A Árvore da Vida".

Então você é uma pessoa engajada, com sólida formação esquerdista e quer ver um filme iconoclasta, que pulverize os valores da sociedade burguesa ocidental. Bem, você também não deve assistir "A Árvore da Vida".

Você viu o trailer recentemente no cinema e ficou pensando nos melodramas familiares típcos do cinema americano e acha que o filme irá ajudar você a educar seus filhos. Siga o meu conselho. É melhor pegar a família e ir ver os "Smurfs". Não vá assistir "A Árvore da Vida".

Normalmente os fimes são apresentados a partir de uma sinópse. Não consegui fazer nenhuma. A única coisa que me ocorre dizer é que é um filme profundamente religioso falando sobre a relação do homem com um certo sentido de autoridade paterna que atravessa o tempo. A narrativa vai do big-bang até o fim das eras, isso mesmo, o alfa e o ômega. Aposto que você já se perguntou sobre isso. Pois é, o filme fala sobre estas e outras questões.

Mexe também com coisas atávicas no nosso psiquismo. Fala dos aspectos amorosos e trágicos das relações familiares. Fala do quanto a criança que se sentia ínfima do lado do grande pai permance ainda em nós. Isso tudo traduzido por imagens que materializam belas metáforas. Fotografias sombrias alternam-se com cores fortes e iluminadas assinalando o movimento da vida e da morte, tudo entrelaçado.

No final do filme você se pergunta, mas que fim é este? Um torvelinho de imagens vão aos poucos sendo sedimentadas na mente de tal forma que elas se ancoram em experiências que não são apenas àquelas correlatas a história pessoal. Diz respeito aos sentidos e buscas inerentes ao que chamaríamos de condição humana.

Uma coisa me chamou a atenção enquanto assistia ao filme. Muitos sairam já pela metade. Os que ficaram, em sua maioria, reclamavam e riam. Não estavam dispostos a seguir uma narrativa que colocasse em relevo o sentido de seus papéis no mundo. Nem estavam dispostos a verem o quanto a imagem de Deus e do Pai suspeitamente se confundem. Muito menos compreender a busca do personagem principal, suas afirmativas e questionamentos.

La pela segunda metade do fime uma criança morre afogada. O menino, que na fase adulta é interpretado Sean Penn, pergunta-se onde estava Deus quando aquilo aconteceu e mais adiante chega a contundente conclusão de que Deus também é uma expressão maléfica. Ora, se Deus é mau, porque ele teria que ser bom?

A resposta a esta pergunta é construída o tempo todo pela personagem representada pela mãe, interpretada por Jessica Chastain, e que assinala de uma certa  forma a necessidade da mãe como contraponto à autoridade paterna, talvez a grande mãe perdida das origens do judaismo, devidamente assassinada como mito por uma sociedade que radicalizou seu patriarcalismo. As mulheres com certeza gostarão desse personagem e se identificarão muito com ele.

Enfim, vá preparado para pensar sobre a vida, não tanto para entender o filme. Tentar entender o filme seria como buscar entender a neurose do terapeuta para se sentir melhor e ultrapassar as próprias neuroses. Na verdade, o filme é uma sessão psicoterapêutica. Caso você entre no epírito da narrativa sem a onbsessão racionalista de querer entender tudo, será uma ótima sessão, resolutiva e muito barata. Não sei se este era o objetivo do diretor Terrence Malick mas é com esta impressão que sai ontem a noite do cinema. E ela continua ainda muito forte enquanto escrevo este texto.