Fraternidade e Saúde Pública
Sei que muitos discordarão em se relacionar assuntos tão diferentes como religião e saúde pública, mas vou falar sobre o assunto mesmo assim.
No meu trabalho, por exemplo, vejo todos os dias o quanto as pessoas são carentes de atenção, de alguém que "olhe nos seus olhos", que lhes ouça…
Então, porque não ser fraterno no ambiente de trabalho? Porque não ser compassivo? Quem disse que não posso sorrir ao atender um paciente?
Hoje em dia, devido a correria e falta de tempo, muitos profissionais não conseguem se dedicar ao trabalho totalmente, e tem que, muitas vezes, atender "às pressas", fazer a "fila andar".
Mas mesmo assim, sempre é possível ser atencioso, não é mesmo?
Percebo o quanto um paciente fica feliz quando a gente conversa um pouquinho, lhes dá um sorriso. É gratificante!
Então, não estou certa quando afirmo que fraternidade e saúde pública tem tudo a ver?
Nesse cartaz da campanha da fraternidade da igreja católica, é possível ver bem mais do que um simples médico e paciente, observe melhor: o médico expressa a alegria em atender, e segurando nas mãos do paciente, lhe transmite carinho e atenção, propiciando um clima de confiança.
O sorriso do paciente demonstra uma relação de amizade, que vai além do simples atendimento médico-paciente.
Talvez seja exatamente isso que esteja faltando para melhorar nossa saúde pública.
Valores que não estão apenas limitados a recursos financeiros, mas valores que podemos cultivar gratuitamente em nosso trabalho, apesar de todas as dificuldades que venhamos a enfrentar.
Eu acredito que uma saúde pública de qualidade acontece quando compreendemos que em nosso ambiente de trabalho podemos ser pessoas fraternas, seres humanos cuidando de seres humanos. Nesse contexto, estaremos construindo um mundo melhor, uma saúde pública melhor.
Certamente, esse não é o único caminho, mas um bom começo para a construção de uma Saúde Pública melhor em nosso país.
Por Emilia Alves de Sousa
Prezada Fabiana,
Concordo com as suas afirmativas. A atenção, o diálogo/escuta, a solidariedade, o sorriso, o olhar são dimensões humanas que devem estar presentes em todas as práticas de trabalho. E na produção de saúde não poderia ser diferente, até porque, via de regra, estamos lidando com pessoas fragilizadas fisicamente, psicologicamente e que necessitam de uma atenção integral, ultrapassando o binômio queixa-doença. Essas dimensões humanas dentro de um modelo de saúde humanizada fazem parte do acolhimento, da clínica Ampliada, dentre outras diretrizes defendidas pela PNH.
Como você mesmo pondera, nesse contexto de produção de saúde pública, não podemos nos limitar às questões subjetivas. A questão é bem mais complexa, envolve outras ações, outros fazeres, outros olhares, tecnologias, que agregadas a uma conduta fraterna vai dar conta das demandas da saúde pública.
Muito pertinentes as suas reflexões, e aguardamos o seu retorno com outras publicações, para continuarmos esta conversa sobre a saúde pública.
Um abraço!
Emília