Um pouco mais que alimentos

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 Se pensarmos na vida como um grande processo de gratificações, acredito que o primeiro passo desse processo seria o aleitamento materno, quando somos preenchidos de fato com alimento substancial e o prazer que toda aquela situação promove. A partir desta primeira experiência, a alimentação nunca mais deixará de ser algo prazeroso para o indivíduo.

Nossos hábitos são construídos e desconstruídos pelo mundo ao nosso redor, ao longo da vida. Diante disso, aquela afirmação (que muitos pais incorporam) de que criança não gosta de comer verdura, não passa de uma falácia.

A ideia de que possamos sempre renovar costumes e percorrer um caminho que traga mais reforços positivos para o ser humano é algo gratificante, assim como saber lhe dar com alguns tipos de compensações. Depositar no alimento, no ato de comer (que também é um ato social) toda negatividade de uma experiência ruim pode configurar àquela situação de certo desprazer ou ainda levar o indivíduo a fazer escolhas menos qualitativas e mais densas, ao preferir alimentos mais gordurosos ou doces. É aquela coisa: “ah, hoje meu dia foi péssimo! Vou me acabar de comer!” Expressões como essa são comuns e refletem como nós, seres humanos, somos dotados de uma necessidade de compensação, de prazer imediato.

Atribuir ao alimento as sensações de desprazer de uma vida pouco elaborada pode constituir no sujeito uma busca por compensações positivas que, quando não encontradas em outros aspectos da vida, encontram nos alimentos resposta a todas essas expectativas.

Fazer do alimento um pouco mais que alimento, pode nos ajudar a controlar certos impulsos e desmistificar a ideia de compensação imediata que poderíamos obter por meio dele. Deixemos as generalizações de lado porque não quero aqui afirmar que “todos buscamos esse prazer imediato no alimento”. Apenas gostaria de apontar que alguns perfazem esse caminho, essa busca, e para esses sujeitos dependentes de um alimento compensatório, só resta pensar um pouco mais sobre a vida e as dificuldades que delas surgiram, para que no ato de comer você mesmo não acabe sendo engolido pelos seus próprios impulsos.