Psicologia, Violência e Direitos Humanos

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 Acaba de sair o livro "Psicologia, Violência e Direitos Humanos", publicação do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, numa iniciativa de dar visibilidade e abrir a problematização em torno de questões como a violência e a luta pela garantia de direitos. Reúne 24 textos de autores de campos diferentes, mas intimamente interligados, que escrevem a partir de várias vertentes de pensamento.

Quero chamar a atenção especialmente para o artigo " Direitos Humanos e Interfaces Psi-Jurídicas: uma pauta ético-política para a questão dos adolescentes "perigosos", de Maria Cristina Vicentin, Jorge Broide e Mirian Debieux Rosa, por trazer à tona a importante discussão sobre os processos de medicalização que, de forma cada vez mais intensa, capturam a vida de jovens.

O campo de batalha em que se transformou a vida de jovens pobres na contemporaneidade vela e revela, ao mesmo tempo, uma reedição da violência que herdamos dos sinistros anos de ditadura militar, quando os esforços de produção de um mundo novo foram literalmente silenciados.

Os autores nos convocam para pensar sobre a crescente onda de patologização por que passam algumas práticas psis quando se colocam a serviço da associação da psicopatologia com a "periculosidade". Apontam uma "construção da figura do adolescente perigoso e intratável" por intermédio de pressupostos teóricos e ideológicos definidores da adolescência nas políticas de saúde pública, inspirados pelas práticas de psicometria, psicologia e pedagogia. Nesta mesma esteira de práticas comparece, de forma mais contundente, a contribuição da psiquiatria e do direito, com os processos de encarceramento de jovens por "transtornos da personalidade". A periculosidade ganha o status de diagnóstico clínico. Assim, fecha-se um ciclo, melhor dizendo, um cerco aos comportamentos, sem nenhuma possibilidade de alusão aos contextos de vida, historicidade e produção dos mesmos. 

Muitas iniciativas vêm se somando à denúncia de um certo modo de eliminar as possibilidades de outros saberes, menos duros. Saberes que levam em conta a necessidade de se pensar e acionar o SUJEITO que está em jogo em qualquer manisfestação comportamental. E, fundamentalmente, a forma ou formatação social que lhe dá sentido e existência.

 

 link para o livro: diversitas.fflch.usp.br/node/3262

Iza Sardenberg

Coletivo de Cuidadores da RHS