No encontro das águas…

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Vê bem, Maria aqui se cruzam: este
É o Rio Negro, aquele é o Solimões.
Vê bem como este contra aquele investe,
como as saudades com as recordações.

Leio o poema do poeta cearense Quintino Cunha e mergulho ainda mais no contentamento provocado pelo belo encontro de educação popular em Manaus; escrevo pensando em como fazer a travessia das palavras.

Cheguei ao Rio Grande do Norte, mas apenas a palavra "rio" parece caber  no lugar em que me encontro agora. Faço da rede embarcação; espero que a correnteza e o bom tempo me levem a visitar os amigos de Manaus com frequência, assim como fazem as equipes de saúde em suas rabetas para chegarem aos lugares mais distantes.
A rede se dobra e se desdobra como rios que correm lado a lado: mansos, velozes, densos, leves, de diferentes cores e sabores. Não é assim com os rios Negro e Solimões? Não é a diversidade que faz do encontro das águas essa maravilha que enche nossos olhos?
Deleito-me na alegria do encontro com os “manos” e aviso que junto à equipe daqui, reabriremos a mala da tenda do conto. Exibiremos na mesa os novos poemas, as cartas encontradas na mochila, os novos objetos. Mostraremos como os fios da nova tapeçaria se entrelaçam às cirandas; como a louça florida e o velho candeeiro são aquecidos pela cenopoesia; falaremos sobre como a boneca de pano vestida com as cores da redehumanizasus conversa com os cadernos da educação popular.
Como águas que se encontram, as histórias antigas se reinventam ao aquecerem as histórias que chegam. Elas têm corpo, cheiro, voz. Em cada uma delas há um brilho, uma cor, uma textura, uma linguagem, um riso, um calor, um gesto singular. Todas são histórias que afirmam paixões. Todas são paixões que reafirmam a vida.
Faço-me redondinha como a farinha de Uarini que cobre generosamente o delicioso tambaqui; enfeito-me com brincos de plumas e colares coloridos, danço ao som dos tambores, bebo dos guaranás de diferentes sabores e lanço nesta rede – braços de rio, as palavras escritas.
Queridos manauaras e manauenses, sintam nas palavras do poeta, uma profecia que se refaz. Recebam-nas como quem recebe um terno, caloroso, afetuoso e interminável abraço de toda a equipe da tenda do conto.
Se estes dois rios fôssemos, Maria,
Todas as vezes que nos encontramos,
Que Amazonas de amor não sairia

De mim, de ti, de nós que nos amamos!…