O QUE DIZER

16 votos

A princípio pensei em escrever alguma coisa sobre nossa estada em Manaus onde a educação popular deu o norte e exercitamos Círculo de Cultura, Práticas de Cuidado, Tenda do Conto e Cenopoeisa. Brincamos de pensar, refletir sobre a vida, o trabalho, a política, o cuidado; sobre o  que aprender e para que serve o que aprendemos; o convívio amoroso, mas pleno de sinceridade e criticidade. Foram dias de muita alegria e aprendizagens mútuas. Inesquecível mesmo. Um cheiro carinhoso para a gente linda de Manaus, generosa e potente como o encontro dos rios Negro e Solimões que achando pouco formam o majestoso, universal e mitológico Amazonas. Disse tudo isso para ver se chegava aos pés do depoimento de uma das 150 atrizes do nosso encontro. Claro que em vão tentei. Por isso segue o texto escrito a mão já na saída ao final da manhã do dia 17. Uma beleza de fala, quase uma confissão, um sentimento que quero compartilhar com todos(as) que construíram este momento tão único e particular quanto o um de cada um. Peço então licença à Lilian para dividir com os demais o impacto do seu texto sobre  nós.

 

"MANAUS

Ao chegar a esse “curso” realmente vim com aquela impressão de que eu iria ficar sentada na minha cadeira e que o professor iria ficar em pé, numa sala de aula, me passando toda sua experiência científica.

Confesso que fiquei um pouco espantada ao ver “aquelas pessoas” com roupas coloridas, cantando e recitanto versos, pensei até em não voltar depois do intervalo, no primeiro dia. “Esse curso não tem nada a ver comigo”, pensei, não gosto muito dessas coisas de me mexer e abraçar pessoas que eu nem conheço. Estava no lugar errado.

Eu estava tão endurecida da lida diária do trabalho e cheia de preconceitos, por culpa minha ou não, devido à criação familiar que recebi ou a minha formação acadêmica, que demorei para entender que este não era mais um daqueles treinamentos no qual estava acostumada a participar. Era algo mais, que essa sensibilização iria mudar o meu coração e o meu modo de ver o outro. Eu tive que me “despir” do meu egoísmo para poder me vestir de um novo olhar e uma nova maneira de me enxergar e de enxergar  o outro.

Ao final dessa “conversa” que tivemos nesses quatro dias saio com a certeza de que a semente da mudança foi plantada no meu coração. Não é fácil, vai ser um processo diário de luta interior, mas sei que dará frutos, pois já consegui abraçar e me deixar ser abraçada por pessoas que, a princípio, eram estranhas, mas que agora já fazem parte da minha vida."

 

Lilian Franklis Zagury Matos Cardoso

Obrigada!

Manaus, 17 de agosto de 2012.