Entrevista do Ministro da Saúde traz balanço dos 20 anos do SUS

11 votos

Neste fim de semana o jornal carioca Extra trouxe entrevista com o Ministro da Saúde José Gomes Temporão. Confiram! 

‘Não há fracasso na rede básica’  

 

Temporão faz balanço positivo dos 20 anos do SUS e admiteque pouca verba e gestão são problemas

 

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão faz parte do grupo que idealizou o SUS. Aqui, ele analisa os 20 anos do sistema.   

 

  – O SUS faz parte de uma reforma sanitária que começou há 20 anos. Como o senhor avalia os resultados obtidos até agora?   

 

 – Muito positivos. Há 20 anos, a sociedade tinha três tipos de brasileiros: uma parte da população rica, que podia pagar consultas, exames e internações; os trabalhadores com carteira assinada e que tinham direito à previdência social daquela época; e a grande maioria da população que não tinha direito a absolutamente nada, ou seja, eles eram objeto da filantropia e da caridade. Apenas em1988, com a nova Constituição e com a estruturação do Sistema Único de Saúde, todos os brasileiros passaram a ter direito à saúde como um direito à cidadania.Houve grandes avanços na cobertura da população com políticas de saúde, programas, o Saúde da Família, políticas de humanização.  

 

  – O SUS é uma utopia? Saúde é direito de todos hoje?  

 

  – Eu diria que sim, que o SUS deixou de ser uma utopia e é uma realidade.A saúde percebida como um direito está presente cada vez mais na consciência dos brasileiros, na obrigação dos governos de prestarem atendimento de qualidade digna, mas é evidente que o sistema se defronta com algumas fragilidades. E a principal delas eu destacaria que é o subfinanciamento crônico. Só para dar um exemplo, em 2005, os brasileiros que dependem do SUS tiveram à sua  disposição, em termos financeiros, um terço do que as pessoas que usam planos de saúde pagaram para ter direito à assistência particular. Esse subfinanciamento crônico coloca obstáculo à ampliação da cobertura e do acesso às políticas e à qualidade desses serviços. 

 

   –O senhor faz parte do grupo que idealizou o SUS. Há 20 anos, qual era o objetivo central da reforma sanitária?

 

    – A saúde como direito de todos é um dever do estado. Outros objetivos eram a unificação do sistema, porque antes de 1988 a saúde estava distribuída por vários ministérios, etambém a descentralização do sistema.  

 

   – Como o senhor descreveria o SUS que temos hoje?    – Eu vejo um sistema que avança, com conquistas significativas, com a cobertura do programa Saúde da Família, os programas de Aids, de imunizações, de transplantes. O Brasil é o segundo país do mundo em número de transplantes. São exemplos do sucesso do SUS. Por outro lado, os obstáculos são de dois tipos: a questão do financiamento e a gestão. Nós temos que melhorar a qualidade do gasto e encontrar arranjos e estratégias institucionais que permitam usar melhor os recursos existentes. 

 

   – Como explicar a existência das "ilhas de excelência" na assistência de alta complexidade e o fracasso na rede de atenção básica?  

 

  – São duas questões. Existem "ilhas de excelência" na alta complexidade, como o Instituto Nacional de Câncer e o Instituto do Coração, que são inclusive de referência internacional. Mas discordo que há um fracasso na rede de atenção básica. Basta olharmos a última Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde daMulher e da Criança, na qual fica estabelecido o fantástico impacto do Saúde da Família na redução da mortalidade infantil e do percentual de óbitos de menores de 5 anos e na melhoria da qualidade de vida da população brasileira.   

 

 – O universo de pessoas atendidas pelo SUS é maior do que há 20 anos. Não é uma contradição cada vez mais brasileiros precisarem de planos de saúde privados?  

 

  – Apenas 20% da população brasileira usa plano de saúde privado. Oitenta por cento da população usa exclusivamente o SUS. Além disso, os brasileiros que usam planos de saúde também utilizam o SUS em vários momentos, embora pensem que não.

 

    – Como o senhor avalia o Farmácia Popular?   

 

 – Talvez seja o programa da área de saúde do governo do presidente Lula melhor avaliado. Ele tem um grande impacto, ampliou muito o acesso da população a medicamentos de qualidade a baixos custos. Vamos anunciar ainda nesse semestre a ampliação dos remédios oferecidos.