Onde dá SUS, dá certo

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Algum tempo atrás tive a oportunidade de participar de uma roda de conversa que tinha como um dos convidados o médico sanitarista Nelson Rodrigues dos Santos – o “Nelsão”, professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Unicamp, ex-secretário municipal de Saúde de Campinas, ex-presidente do Conass, ex-assessor do Ministério da Saúde, personagem importante da Reforma Sanitária, da construção e defesa do SUS.

Levantado por ocasião das comemorações dos 20 anos do Sistema Único de Saúde, o tema da conversa – “O SUS de ontem e de hoje” – convidava a uma análise histórica do SUS, a uma leitura crítica dos avanços e desafios que se registraram desde sua gênese aos dias de hoje, traçando perspectivas para o futuro.

Era uma edição do “Café com Idéias”, evento organizado pelo Ministério da Saúde que traz mensalmente convidados para conversar com o público, de maneira informal, sobre assuntos ligados à saúde pública brasileira. Representantes do Conass e do Conasems e o ex-ministro Agenor Álvares (2006-2007) completavam a mesa de convidados daquela tarde.

Nelsão foi o último dos convidados a falar e presenteou quem estava ali com uma análise sucinta e inspiradora que deixou transparecer seu conhecimento do SUS, sua capacidade de sintetizar teoria e prática, sua intransigência na defesa da saúde pública, seu compromisso com a causa Sistema Único de Saúde.

Já no finalzinho da fala, ao tratar sobre o desafio de levar adiante o “mito fundador” do SUS, levantou uma questão que fez os participantes da conversa se remexerem em suas cadeiras: a necessidade de re-politizar o Sistema Único de Saúde. E seguindo por esta seara, mencionou a Política Nacional de Humanização como uma via possível para dar conta desta tarefa.

Até aí nenhuma novidade, em tese, para aqueles que integram e apóiam esta política – embora a citação reforce a tarefa politizadora do HumanizaSUS. Mas Nelsão foi adiante e fez uma crítica – ainda que generosa – à Política Nacional de Humanização. De forma mais específica, ao seu mote: “O SUS que dá certo”.

Se eu entendi bem, a tese levantada por Nelsão – já ventilada no Coletivo Nacional HumanizaSUS – é a de que “O SUS que dá certo”, bem-intencionado ou não, é um slogan despolitizador. Onde o SUS não dá certo, explicou, é porque o SUS de fato, o SUS como preconizado pela Reforma Sanitária e assegurado pela Constituição Federal, ainda não existe – e não há outro SUS além deste.  Arrematou: “Onde dá SUS, dá certo”.

Saí da conversa com a frase martelando na cabeça e a sensação irresistível de que o HumanizaSUS ganhou de presente um novo slogan. Ganhamos?