Indígena é monitor da Mostra HumanizaSUS em Campo Grande

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O enfermeiro e pós-graduando em saúde pública Silvio Ortiz trabalha há dez anos na FUNASA, na atenção básica e saúde indígena e desde 2004 é interprete da sua etnia – kaiwá (uma subdivisão  do guarani). Ele faz parte do grupo de monitores da Mostra Interativa HumanizaSUS, o SUS que dá certo e se destaca dos demais por seu envolvimento em atividades de humanização. Seu trabalho de conclusão de curso traz um levantamento sobre humanização e saúde indígena, com 480 usuários do Hospital Universitário de Dourados – todos eles indígenas.

 O estudo teve como foco a aceitação dos profissionais de saúde quanto ao atendimento ao indio e a satisfação dos indígenas que eram acompanhados por serviço de intérprete. De acordo com a pesquisa,   90% dos indígenas se sentiam mais seguros com a presença do intérprete, pois isso facilita o encaminhamento de qestões básicas do atendimento, como o motivo de ter sido levado até aquele hospital e não ao posto de saúde próximo à aldeia, por exemplo. A pesquisa, concluída em 2007,   trouxe à tona também que 80% dos tratamentos ambulatoriais eram interrompidos pelos indígenas, antes da utilização do serviço de intérprete.

Segundo Ortiz, há muitas barreiras no atendimento em saúde indígena no Brasil. “Os índios  interrompem o tratamento por não entenderem o que o profissional de saúde diz, ou por não terem suas crenças e costumes levados em conta na hora do tratamento”, afirma. Sua experiência na FUNASA traz diversos casos de sucesso, a partir da interpretação das línguas e também conciliação entre os costumes da etnia e a medicina tradicional. Até mesmo dentro de sua própria  família, houve conflito devido a uma gravidez gemelar. De acordo com a cultura dos kaiwá, nesses casos um dos bebês deve ser sacrificado para evitar uma maldição. Porém, a partir da intervenção de Ortiz, as crianças sobreviveram e uma delas foi levada à adoção.

No Mato Grosso do Sul concentra-se a segunda maior população indígena do Brasil, com cerca de 60 mil indígenas divididos em sete etnias, sendo aproximadamente 39 mil da etnia kaiwá referenciados no Hospital Universitário de Dourados.