GRUPO DE TRABALHO DE HUMANIZAÇÃO: COMO É O MODO DE OPERAR DESTE COLETIVO EM RENOVAÇÃO PERMANENTE?

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Os Grupos de Trabalho de Humanização – GTH se expandem nos serviços de saúde, à medida em que a Política de Humanização – PNH torna-se transversal. Eles são considerados espaços democráticos onde os participantes têm o “mesmo direito a dizer pensamentos, críticas, sugestões, proposições de mudanças na atenção e gestão” e também à expressão de sentimentos. Reflexões coletivas sobre o processo de trabalho, propiciando tomada de decisões e um pensar o cotidiano calcado na interdisciplinaridade são fundamentais no agir destes grupos.
 Na prática, no entanto, nem sempre isso acontece. Temos encontrado grupos que se tornaram departamentos dentro das unidades que cuidam de várias problemáticas: qualidade, gestão de pessoas, recrutamento e seleção, eventos etc. e onde há pouca prática da formação de rodas e coletivos nas organizações onde são criados para discutir o próprio trabalho e a PNH. As pessoas se envolvem em uma série de atividades que entendem serem importantes para a “humanização”, mas terminam por reproduzir uma lógica de ação pontual e perpetuando uma visão limitada de humanização como projeto ou evento. Em outras ocasiões se firmam como um grupo da diretoria, e perdem a força de movimento instituinte junto aos trabalhadores e usuários. De outro modo, encontramos grupos em resistência à cooptações, posicionando-se criticamente diante das realidades e fomentando processos de mudança. Essas são algumas das formas que temos observado no modo de operar dos GTH em unidades hospitalares.
Entendemos que a compreensão da PNH, a diversidade de contextos, política local e macro política, tipo de gestão, realidades, tipos de composição, cultura, desejos, interesses, afetos, condições de trabalho, são alguns dos fatores que promovem uma diversidade considerável no modo de operar dos GTH. O que fazer nestes contextos onde o grupo tem enfraquecida sua potência transformadora? Longe de querer apontar uma resposta, gostaríamos de compartilhar idéias e uma experiência prática. Temos experimentado a problematização com os membros destes grupos sobre a PNH, seu método e as características do GTH, passando pela reflexão sobre grupo, GTH, sentimento de pertença e como o grupo tece suas relações e suas posições e operatividade nos serviços de saúde.
Em recente oficina de GTH no Hospital Geral de Fortaleza, no dia 7 de abril, trabalhamos os significados de GTH e de estar em grupo. O GTH do Hospital existe desde 2000, quando o hospital participou do Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), teve seu protagonismo em uma época, passou por descontinuidades na última gestão, e agora renasce com o desejo e vontade de se repensar para integrar o movimento de humanização em andamento no hospital.  Colocar-se na relação com o outro, rever características, papéis e planejar de forma participativa e integrada as ações são também, muito importantes. A partir da experiência, o grupo traça seus caminhos, compreendendo o contexto, as singularidades de cada um, mas movidos pelo interesse coletivo de transformar a dura realidade do maior hospital da rede pública do estado do Ceará.
Dentre os principais desafios elencados pelo grupo que constituem ações concretas a serem feitas em 2009 destacamos: apoiar o acolhimento e a classificação de risco, criar rodas multidisciplinares nos serviços para pensar processos de trabalho com foco na humanização (refeitório, ambulatórios, laboratório, imagenologia dentre outros), discutir a humanização do óbito (morte), apoiar a criação do conselho local e colegiados gestores da emergência e das gerências, desenvolverem grupo de estudo sobre os dispositivos da PNH, fomentar a pesquisa de satisfação dos trabalhadores, criar meios de divulgação das ações exitosas de humanização e da PNH no hospital, apoiar o Seminário Acolhimento no Hospital Geral de Fortaleza: um desafio para a rede de serviços na atenção e gestão do SUS-CE, desenvolver uma atitude de escuta ativa aos sujeitos trabalhadores, gestores e usuários.
 
É permanente a necessidade de renovação nestes grupos, pois estão de algum modo sempre correndo risco de se acomodarem, de se intimidarem diante do status quo, de caírem nas armadilhas da humanização descontextualizada das dimensões ético-estética-política que a PNH tem como diretriz fundamental. O exercício da crítica, juntamente com o diálogo, a capacidade de se afetar uns com os outros e criar pontes entre pessoas e serviços, parecem constituir em contínuo aprendizado dessas equipes que pretendem não só ter o nome como membro do grupo, ou realizar ações dita humanizadora, mas se comprometerem com a mudança das práticas para contruir saúde digna.
 
Annatália Meneses de Amorim Gomes
Consultora PNH/MS