A PARTE TRISTE DO POETA…

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 …revelou-se virulenta, contra a reforma psiquiátrica brasileira, na coluna deste domingo de páscoa da "Falha" de São Paulo. Ao  resumir-se a um pai de filhos esquizofrênicos, Ferreira Gullar, tem todo o direito de falar de sua dor e publicizar seu desencanto com os limites das possibilidades de alívio que seu sofrimento possa ter encontrado. Ao "traduzir-se", entretanto, em sujeito amargurado, cidadão desinformado sobre os avanços que a política de saúde mental do país fez alcançar a milhares de outras famílias com dores equivalentes e condições diferentes de tratá-las, o poeta fere brutalmente um dos mais importantes movimentos de luta na saúde de nosso país, desrespeita profissionais, pacientes, gestores e teóricos da saúde mental que muito têm se esforçado para mostrar por que reclusão não é tratamento e, pior, se utiliza do poder de homem público – com acesso a canais importantes de divulgação – para generalizar sua ignorância e dessorar seu ressentimento.  Ainda bem que os afetos alegres que sempre sustentaram a luta anti-manicomial falaram mais forte e geraram, em meio à avalanche de respostas circulantes à infeliz opinião, inspirações como a de  Rita de Cássia de A. Almeida, trabalhadora de CAPS de Juiz de Fora/MG, que evoca o poema Traduzir-se de Gullar para dizer: “Outra parte de você também ficaria encantado em saber que esta lei construiu muito mais coisas do que desconstruiu, desconstruiu os manicômios, mas construiu um sem número de outras possibilidades, dispositivos, formas de tratamento, além de muita arte, música e poesia…Creio sinceramente que quem escreveu este artigo é a parte de você que ainda não conheceu a outra parte da história…então venha conhecê-la, tenho certeza de que nenhuma parte de você irá se arrepender”.

A carta na íntegra de Rita e outras inúmeras cartas,mensagens – de apoio e estupefação – que sucederam a publicação da FSP (inclusive a mesma) encontram-se num dossiê de manifestações que anexo a este post.