Meu local de trabalho

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Ambiência – Local: Pensão Nova Vida
Com relação à ambiência da Pensão Nova Vida, gostaríamos de considerar os seguintes aspectos físicos:

 

  1. -trata-se de um espaço físico amplo, onde é a moradia temporária de usuários da saúde mental, atualmente são oito pessoas, mas já houve vinte moradores. É também o espaço físico que sedia a equipe de profissionais que atende os três SRTs do município e a Equipe Itinerante;

– há quartos masculinos e femininos, salas de estar, salas de reunião, espaço de atendimento de grupo, refeitório, cozinha, banheiros, corredores, lavanderia, dispensa e pátio;
– esta situada nas imediações do Jardim Botânico;
– é um prédio velho, com mais de trinta anos, sendo que sua última reforma estrutural foi no ano de 1995;
– a manutenção é feita pela equipe da SMS;
– estamos com uma ação judicial para sairmos do local, com prazo determinado. Isso fez com que não houvesse investimento por parte do gestor nas melhorias das condições físicas, já há alguns anos;
– nossos móveis são velhos, boa parte de doações;
– no ano de 2004, após nosso credenciamento junto ao MS como SRT, recebemos 30 mil reais e conseguimos adquirir alguns equipamentos novos, mas não o suficiente para uma efetiva melhoria no aspecto físico da Casa;
– temos um carro disponível durante quatro dias da semana para atividades externas.

Apesar de ter havido pouco ou quase nenhum investimento estrutural ou físico, temos conseguido produzir a diferença em termos de gestão e de atenção em saúde. Nosso trabalho de rotina não deixou de ser resolutivo e inventivo mesmo diante das nossas precárias condições físicas e materiais. A equipe se dedica, trabalha e conduz os planos terapêuticos dos usuários com a implicação que cada um demanda.

Estamos acostumados a nos relacionar com outros equipamentos de saúde, outras instituições, outras esferas do poder público como, por exemplo, o Ministério Público, Hospitais e demais secretarias da prefeitura, sempre em função de algum caso concreto relacionado às necessidades de um ou mais usuários do nosso serviço.

Neste ambiente, ocorrem reuniões semanais de equipe em que se debatem as diferentes visões que cada profissional tem a respeito de um dado contexto em que uma pessoa sofre e precisa de ajuda. Consideramos que o sofrimento (ou a doença) emerge de um conjunto de fatores internos (clínicos, genéticos e neurológicos) e externos (familiares, sócio-culturais e econômicos).

Assim, cada olhar sobre o caso (multi e transdisciplinar) nos ajuda a refinar a partir de consensos e dissensos, qual o melhor tratamento, quais recursos são possíveis de serem acessados e como vamos tratar o caso. Os conflitos que decorrem deste pacto de trabalho são inúmeros e o sofrimento que cada trabalhador vivencia só pode ser compensado pela gestão qualificada que é exercida de forma a valorizar todas as intervenções, sem abrir mão da crítica e, trazendo à roda de conversa, todas as inquietações e ansiedades que vão nos atingindo ao longo do processo de trabalho.

Portanto, nosso ambiente de trabalho apresenta uma contradição no que se refere aos aspectos físicos e operacionais, ou seja, mesmo diante do pouco investimento material, a equipe segue produzindo histórias inéditas de vida e de saúde. Se fossemos nos acomodar a aguardar pelas melhorias estruturais, provavelmente não teríamos muito a contar. Mas mesmo em um ambiente precário e feio, existe afeto, cuidado, acolhimento e projetos de vida. Nesse caso, o subjetivo tem afetado positivamente o físico.

Texto escrito em parceria com minha colega Loiva Leite