11 de novembro – Dia Municipal de Luta contra a Medicalização da Educação em São Paulo

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O dia municipal de luta contra a medicalização da educação foi comemorado em São Paulo no parque Ibirapuera com alegria e imaginação. As crianças tomaram a palavra e disseram com toda a convicção o que esperam do espaço onde passam a maior parte de seu tempo de infância. Cantar, brincar, jogar foram as falas mais presentes em seus relatos plenos de vivacidade. Para elas, a aprendizagem é consequência deste modo lúdico de se colocarem no mundo. Afinal trata-se da lucidez incontestável de criança.

"A infância é um país independente de tudo. É um país em que há reis. Por que ir para o exílio? Por que não envelhecer e amadurecer neste país?… Para que se habituar àquilo em que os outros acreditam? Isso porventura tem mais verdade do que aquilo em que se crê com a primeira e forte confiança infantil? Ainda consigo me lembrar… cada coisa tinha um significado especial, e era coisa que não acabava mais. E nenhuma tinha mais valor do que a outra. A justiça pairava sobre elas. Cada coisa podia uma vez parecer a única, podia ser destino: uma ave que vinha voando pela noite e agora, preta e séria, pousava na minha árvore favorita; uma chuva de verão que transformava o jardim, de modo que todo o verde adquiria um tom mais escuro e brilho; um livro que guardava uma flor entre suas folhas, sabe Deus de quem; um seixo de forma estranha, interpretável: tudo era como se soubéssemos muito mais sobre isso do que as pessoas grandes. Parecia que a gente podia ficar feliz e grande com cada coisa, mas também que podia morrer em cada coisa…" ( Rilke )

Pais e mães aproximavam-se das tendas de roda de conversas, num estilo mais "prudente" como cabe àqueles cuja espontaneidade ficou relegada ao passado. Mas, aos poucos eram tomados pelo contágio com as idéias e manifestações alegres das crianças. E dos artistas que performatizavam no palco e na grama verde do parque…

Comemoramos com música, capoeira, grupos vocais e muita conversa sobre como estamos vivendo e que mundo seria projetado por nossos desejos…e imaginação.

Fizemos, enfim, o que Hakin Bey chamou tão apropriadamente de uma "zona autônoma transitória" – uma TAZ – onde se potencializa a invenção de novos modos de relação, onde se sonha um outro mundo fazendo-o acontecer.

Iza Sardenberg

Coletivo de editores/curadores da Redehumanizasus.net

Membro do Fórum sobre a Medicalização da Educação e da Sociedade