APRESENTAÇÃO DA IMPLANTAÇÃO DO ACOLHIMENTO E AMBIÊNCIA NO SETOR DE EMERGÊNCIA DA MATERNIDADE CARMELA DUTRA

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1 HISTÓRICO

A Maternidade Carmela Dutra (MCD) é caracterizada como um hospital público administrado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) do Estado de Santa Catarina, que presta assistência à saúde da mulher no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
Inaugurada em 03 de julho de 1955, com atendimento exclusivo no âmbito da obstetrícia (parturientes e seus recém-nascidos). As internações iniciaram em 1956, com disposição de 79 leitos distribuídos entre quartos, enfermarias e um anexo (isolamento em caso de aborto infectado e mastite puerperal).
Passados 56 anos desde sua fundação, a MCD ampliou em muito suas atividades criando novos e relevantes serviços direcionados a Saúde integral da mulher e do binômio prestando atendimento às mulheres de nível social diversificado, provenientes de todos os municípios vizinhos, em situação de saúde/doença, estando ou não relacionados com as fases do ciclo-grávido-puerperal.
Hoje dispõe de 112 leitos destinados ao atendimento obstétrico, ginecológico, oncológico e neonatal com importantes serviços direcionados à saúde integral da mulher e do binômio, ganhando maior poder de resolução, transformando – se, de fato, em referência estadual.
Nascem aproximadamente 3.400 bebês por ano, sendo responsável por cerca de 50 % dos atendimentos obstétricos em Florianópolis. O total de atendimento geral é em média de 35.000 pacientes/ano (SAME – 2012).
O Serviço de Neonatologia é referência no atendimento aos recém-nascidos. Possui unidade de cuidados intermediários Neonatais com 08 leitos extraoficiais e UTI Neonatal com um total de 10 leitos cadastrado (CNES – 2012). Possui o Serviço de Medicina Fetal para diagnóstico e tratamento das doenças fetais intrauterinas, que juntamente com o serviço de gestação de alto risco com 12 leitos (CNES- 2012), mantém os índices de mortalidade neonatal e materna compatível com dados de países desenvolvidos.
O Serviço de Ambulatório com 14.000 atendimentos anual (SAME – 2012) desenvolve ações nos diferentes níveis, destacando-se: saúde do adolescente, planejamento familiar, pré-natal de baixo e alto risco, cirurgia, ginecologia, patologia cervical, mastologia, climatério, reprodução humana, oncologia ginecológica (mama, colo uterino, útero, vulva, ovário, entre outros).
Como vocação a MCD visa uma assistência hospitalar e Ambulatorial à mulher no ciclo gravídico – puerperal e ao seu recém-nascido e os problemas ginecológicos de natureza oncótica ou não. Sua visão é manter-se como Centro de Referência em saúde da Mulher, também dedicando à docência e à pesquisa, com capacidade preventiva e resolutiva objetivando os melhores resultados imediatos e tardios. A missão da MCD é uma assistência segura, de qualidade, humanizada e ética (SANTA CATARINA, 2003).
Perante isso, a MCD trata- se de uma Maternidade / Escola conveniada a Universidade Federal de Santa Catarina e com demais Instituições Assistências de Ensino, com Residência Médica em Mastologia e Obstetrícia, Ginecologia e Neonatologia, servindo também como campo de estágio e pesquisa para alunos de Graduação, Pós – Graduação e ensino técnico.
A MCD vem gradativamente colocando-se num movimento humanizador, desde 2002 é parte integrante da Politica de Humanização da Atenção e Gestão – PNH – SUS.  Esse também foi o momento de criação do Grupo de Trabalho Humanizado (GTH) sob a minha coordenação, que se destinava ao resgate da humanização da Assistência à Saúde, em benefício dos usuários e dos profissionais de saúde. Infelizmente o grupo não se consolidou, e eu permaneci apenas como representante da PNH – MCD não deixando que a essência desta Politica e nem das suas diretrizes fossem esquecidos.
Em 2006, a SES com parceria do Ministério da Saúde (MS), promoveu cursos de capacitação aos futuros apoiadores do PNH em Santa Catarina, novamente como representante GTH da Instituição, fui capacitada e hoje estou como apoiadora da PNH, com expectativas de instigar o Grupo e/ou atividades relacionadas à PNH.
Em agosto/2006 fui convidada pela Gerente de Enfermagem a implantar o Setor de Emergência Obstétrica e Ginecológica da MCD. Propus uma forma de organização do serviço com a implantação de uma tecnologia assistencial chamada de Acolhimento com Classificação de Risco (ACCR), proposta esta fundamentada nos conceitos e diretrizes da PNH – Humaniza SUS / MS, favorecendo assim, um atendimento não somente organizado e ágil, mas também estabelecendo uma relação respeitosa e ética com as usuárias / trabalhadores de saúde.
Essa proposta foi apoiada não só pela Direção e Gerencia de Enfermagem e funcionários do setor mas, sobretudo pela Associação das Voluntárias que possibilitou a captação de recurso financeiro de empresários da grande Florianópolis para reforma geral, vindo de encontro com a urgente necessidade de mudança do modelo assistencial existente onde gerava descontentamento e estresse diário dos profissionais que sobrecarregados de trabalho viam que o modo de atendimento não era eficiente e poderia incorrer em riscos as usuárias. Por fim, após meses de reformas e orientações à equipe de enfermagem inauguramos em novembro de 2007 a adequação da estrutura física e ampliação do setor de emergência.

O modelo adotado para realizar os atendimentos baseou-se no protocolo do MS – QualiSUS (adaptado à obstetrícia) unindo as experiências acumuladas da equipe de enfermagem nos atendimentos obstétricos/ginecológicos dando as usuárias um  modo diferenciado da triagem, pois se constituiria numa ação de inclusão, de escuta sensível e de um olhar voltado ao cuidado emergencial e prioritário.

Assim, a usuária após realizar seu cadastro na recepção se assim suas condições permitisse seria acolhida pela equipe de enfermagem e esta por sua vez iria observar suas condições gerais, escutar suas principais queixas e verificar seus sinais vitais colocando estas informações dentro do sistema informatizado.

A prioridade seria dada às mulheres que apresentassem sinais e sintomas de franco trabalho de parto (expulsivo), sangramento vaginal intenso com ou sem gestação diagnosticada, dor intensa em baixo ventre, intercorrências na gestação e puerpério, mulheres em encaminhadas em macas e cadeira de rodas, sinais vitais alterados entre outros.

Hoje apesar de não termos um protocolo para ACCR propriamente dito implantado, mas um acolhimento de enfermagem no momento da chegada da usuária já se observa que este tipo de intervenção no processo de trabalho modificou sensivelmente a qualidade no atendimento, permitindo a identificação das usuárias que necessitam de intervenção imediata, de acordo com o potencial de risco, agravos à saúde ou grau de sofrimento, evitando riscos a vida enquanto espera por atendimento médico, assim como obtivemos uma diminuição do estresse do profissional que antes desconhecia a condição em que a usuária se encontrava como também possibilitou a administração dos seus recursos e diminuição de esforços.

O acolhimento não é um espaço ou um local, mas uma postura ética; não pressupõe hora ou profissional específico para fazê-lo, mas implica necessariamente a socialização de saberes, angústias e invenções; quem acolhe toma para si a responsabilidade de “abrigar e agasalhar” outrem em suas demandas, com a resolutividade necessária para o caso em questão. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010, p. 17).

A classificação de risco é uma ferramenta que, além de organizar a fila de espera e propor outra ordem de atendimento que não a ordem de chegada, tem também outros objetivos importantes, como: garantir o atendimento imediato do usuário com grau de risco elevado; informar o paciente que não corre risco imediato, assim como a seus familiares, sobre o tempo provável de espera; promover o trabalho em equipe por meio da avaliação contínua do processo; dar melhores condições de trabalho para os profissionais pela discussão da ambiência e implantação do cuidado horizontalizado; aumentar a satisfação dos usuários e, principalmente, possibilitar e instigar a pactuação e a construção de redes internas e externas de atendimento. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

Atualmente continuamos em constante mudança, seja na ambiência, nos materiais, nos equipamentos ou nos recursos humanos como educação permanente, mesmo porque trabalhar com um dispositivo como o “acolhimento” é entrar num processo de pensar no cotidiano e é em cada relação que se faz com o outro que muda o modo de fazer e nos leva a evoluir.

OBRIGADA!
ENFª ANA APª WOLFFBORGES
 

Outras imagens da Inauguração: