UM OLHAR PARA O CUIDADOR: APRENDENDO A CUIDAR E SE CUIDAR

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INTRODUÇÃO

Esta intervenção foi realizada durante o Internato de Saúde Coletiva do Curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN, desenvolvida pelos doutorandos Ana Carolina Araújo Pinheiro, Giulianna Petra Dantas de Medeiros, Sebastião Medeiros Neto do 9º período, realizada na Unidade Básica de Saúde da Vila São, em Macaíba – Grande Natal/Rio Grande do Norte (RN), coordenado pela profª Dra Ana Tania Lopes Sampaio, sob a tutoria da professora Vilani Medeiros de Araújo Nunes, preceptoria do médico Jailton Barbosa de Oliveira e da enfermeira Maria Gracimani Souto P. Trindade.
A Estratégia de Saúde da Família (ESF) tem sido implementada com maior intensidade nos últimos anos ampliando-se rapidamente a população coberta, que passa de quase 30 milhões de pessoas em 2000, para mais de 85 milhões em 2006, chegando a praticamente 97 milhões em fevereiro de 2010. Como pode se perceber, a ampliação da ESF tem sido uma constante nos últimos anos e estas equipes já cobrem mais de 51% da população brasileira.
A ESF ampliou o acesso e qualificou o atendimento, ampliando a resolutividade dos serviços, a satisfação dos usuários, o que implicou a redução de gastos com internações. Estes efeitos foram decorrentes, entre outros, da reorganização dos processos de trabalho, pois a ESF passou a enfatizar o trabalho em equipe e estabeleceu maiores vínculos com as comunidades.
Diante da melhoria evidente que a ESF vem proporcionando ao serviço de saúde público, sabe-se que um diferencial importante dessa estratégia é a prática da visita domiciliar. É através da visita que se realiza o acompanhamento dos pacientes que possuem alguma impossibilidade de ir até à Unidade de Saúde. O atendimento domiciliar possibilita que o paciente acamado ou com limitações físicas/mentais permaneça em sua casa junto a sua família, porém recebendo cuidados ambulatoriais no domicílio. Para tanto, os profissionais de saúde contam com o apoio do familiar ou cuidador para ajudar a observar as manifestações biopsíquicas, ministrar medicamentos, cuidar da higiene e informar problemas que requeiram intervenção especializada. Diante da presença cada vez mais necessária dos cuidadores, existe a necessidade de eleger e incentivar um ou mais cuidadores familiares para se prepararem e conhecerem a melhor forma de cuidar, de maneira segura e eficiente.
A tarefa de cuidar de alguém geralmente se soma às outras atividades do dia-a-dia. O cuidador fica sobrecarregado, pois muitas vezes assume sozinho a responsabilidade pelos cuidados, soma-se a isso, ainda, o peso emocional da doença que incapacita e traz sofrimento a uma pessoa querida. Diante dessa situação é comum o cuidador passar por cansaço físico, depressão, abandono do trabalho, alterações na vida conjugal e familiar.
No livro “Você não está sozinho” produzido pela ABRAz (Associação Brasileira de Alzheimer), Nori Graham, Chairman da ADI – Alzheimer Disease International, diz: “uma das maneiras mais importantes de ajudar as pessoas é oferecer informação. As pessoas que possuem informações, estão mais bem preparadas para controlar a situação em que se encontram”.
Diante disso, reconhecendo o papel fundamental que o cuidador tem para a Saúde, a Unidade de Saúde da Família da Vila São José busca proporcionar um momento para orientar o cuidador quanto à atenção à saúde da pessoa dependente de seus cuidados como também dele próprio.

OBJETIVOS

O objetivo principal da intervenção é promover uma troca e transferência de informações entre os doutorandos de medicina, a equipe de saúde da USF (em especial os agentes comunitários) e os usuários cuidadores de idosos, acamados ou pacientes com limitações físicas ou mentais. Isso envolverá orientações baseadas no Guia Prático do Cuidador (Ministério da Saúde, 2008), a fim de capacitar os usuários cuidadores e os agentes de saúde, os quais agirão como multiplicadores do conhecimento.

OBJETIVOS SECUNDÁRIOS

– Esclarecer quais as funções a serem desempenhadas pelos cuidadores;
– Orientar sobre realização da higiene; alimentação; mobilização da pessoa cuidada; realização de exercícios com a pessoa cuidada; adaptações ambientais; cuidados com a medicação;
– Informar sobre o que são escaras e como preveni-las;
– Orientar o cuidador a se cuidar;
– Criar um cadastro dos cuidadores na Unidade de Saúde;
– Construir a “Carteirinha do cuidador”, a “Cartilha para o Cuidador” e distribui-las entre os usuários;
– Construir a “Caderneta de Saúde do Cuidador” e disponibilizar o modelo para a Unidade.

METODOLOGIA

A intervenção foi realizada no dia 04 de dezembro de 2012, na própria USF, contando com a presença de 12 usuários cuidadores, os 5 agentes comunitários de saúde da USF, 3 doutorandos de medicina, o médico, a enfermeira, a técnica de enfermagem e a auxiliar de serviços gerais da USF. Na semana anterior à intervenção, foram distribuídos 40 convites para usuários cuidadores por meio dos agentes de saúde. No dia da intervenção, inicialmente os doutorandos realizaram o acolhimento recepcionando os usuários. Explicou-se a intenção da promoção desse “Mini-curso para cuidadores”, passando então a ouvir cada um dos usuários sobre seu nome e de quem era cuidador. Através desse momento, pôde-se ter uma melhor caracterização daquele grupo de cuidadores ali presente. Após esse momento iniciou-se uma exposição de slides de forma dialogada, abordando os diversos temas presente no “Guia prático do cuidador”, do Ministério da Saúde. Nesse momento a fala do usuário era “peça” norteadora na exposição de cada tema. No segundo momento, apresentou-se a proposta da criação do “Cadastro dos cuidadores” na Unidade, se entregou a “Carteirinha do cuidador” e a “Cartilha para o Cuidador” a cada usuário. Mostrou-se o modelo de “Caderneta de Saúde do Cuidador” construído para ser um possível instrumento de melhor acompanhamento da saúde do cuidador, o qual foi fornecido à Unidade com intenção de reprodução e distribuição posterior. Por último, foram entregues certificados de participação a todos os presentes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A atividade foi realizada de acordo com o que se havia planejado, contamos com a presença de 100% da equipe da USF e com 30% dos usuários convidados, o que representa um número importante, diante da dificuldade desses cuidadores saírem de seu domicílio onde está a pessoa dependente de seus cuidados.
Houve uma grande aceitação por parte dos usuários, que participaram ativamente durante todo o encontro, com seus relatos sobre suas rotinas e dificuldades, e disponibilidade em participar do momento de relaxamento e demonstração de exercícios físicos para o cuidador. Ao final, expuseram o quanto estavam satisfeitos por ter sido abordado esse tema, em especial por ter se preocupado com a saúde do cuidador.
Os objetivos foram alcançados com sucesso, se realizou o cadastramento dos usuários cuidadores, sendo entregue a carteirinha do cuidador e a cartilha a cada um dos presentes. A ideia de realizar o cadastro dos cuidadores e a entrega das carteirinhas teve como objetivo proporcionar prioridade de atendimento aos cuidadores na Unidade. O envolvimento dos usuários com as propostas foram notórias, ao se perceber o interesse no preenchimento de suas carteirinhas. Houve um reconhecimento por todos da importância do cadastro e da prioridade no atendimento, diante das dificuldades específicas que esse grupo enfrenta. A proposta da Caderneta de saúde do Cuidador foi muito bem aceita, ficando-se na expectativa de recebê-la em breve. Por fim, a equipe e os usuários avaliaram positivamente a atividade.

CONCLUSÃO

Após realização de uma roda de conversa com a equipe da UBS e visualizando a área adscrita da USF da Vila São José, o grupo teve a oportunidade de perceber uma quantidade elevada de pacientes com limitações de origem física ou mental que exigem cuidado constante, quando avaliou-se a necessidade de capacitar os familiares “cuidadores” desses indivíduos. A parte explicativa da intervenção visou não apenas comentar a melhor forma de cuidar desses pacientes, como também mostrar a importância de cuidar de si mesmo para aprimorar a qualidade de vida de quem já acumula tantas atribuições. Por não se tratar de uma palestra, e sim de uma troca de experiências, o grupo passou por um intenso crescimento e amadurecimento ao ouvir “desabafos” dos usuários presentes no mini-curso sobre as dificuldades que enfrentam todos os dias em sua árdua e gratificante tarefa.
Pela importância do referido assunto na Unidade de Saúde, o grupo pretende que a ação seja prolongada na forma de discussões periódicas entre a equipe e os cuidadores da área, além da utilização da “caderneta do cuidador”, para que o mesmo atente também para a própria saúde.

REFERÊNCIAS

– Atenção Básica / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Política Nacional de Humanização. – Brasília : Ministério da Saúde, 2010.
– Guia prático do cuidador / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. – Brasília : Ministério da Saúde, 2008.