Processos Grupais: Uma análise do filme “Um estranho no ninho”

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“UM ESTRANHO NO NINHO”
( de Milos Forman- 1975)

O título do filme demonstra exatamente como se sente o personagem principal McMurphy, vivido pelo genial ator Jack Nicholson, vencedor do Oscar por sua atuação. Um prisioneiro que não desejava trabalhar , finge estar insano e então é encaminhado para o Hospital psiquiátrico para passar por alguns “testes”.
A rígida administração da ala psiquiátrica pela enfermeira chefe deixa clara a presença de um superego tirano e perverso, onde não é tolerado nenhum tipo de comportamento fora dos padrões da instituição. Chama atenção a forma bizarra em que os medicamentos são entregues aos pacientes onde embalados por uma música clássica ao fundo parecem fazer parte de um balé macabro onde o comportamento humano é reduzido ao funcionamento mecanicista pois o movimento da fila em muito lembra a esteira de uma fábrica.
A enfermeira faz as vezes de grupoterapeuta e tenta fazer um diálogo com o grupo em atendimento porém fracassa pois sua figura não é reconhecida pelo grupo como um continente ao contrário as ansiedades depositadas nela são devolvidas da mesma forma aos membros do grupo sem nomeá-las ou compreende-las o que à configura, segundo Bion, como um continente falho.
O grupo não reconhece no terapeuta um continente, logo lança mão das suposições básicas onde a mais aparente é a de luta-fuga, pois o grupo ora luta, ora foge da figura da enfermeira a fim de se autopreservar. É neste ponto que a formação dos papéis no grupo toma forma, pois a Teoria criada pelo psicanalista Pichon Rivière, demonstra os diversos papéis desempenhados pelos indivíduos nos grupos operativos onde ficam visíveis alguns estereótipos como a figura líder desenvolvida por McMurphy, o bode expiatório representado no paciente que gagueja, o sabotador que em alguns momentos parece estar introjetado em todos os componentes do grupo pois ambos  parecem ter a tendência de se autossabotar como por exemplo no dia da fuga em que todos se embebedam e adormecem deixando as janelas abertas e a possibilidade de fuga escapar.
O filme demonstra como eram os atendimentos aos doentes mentais no passado, inspirado em história real mostra a forma desumana em que esses pacientes eram tratados sendo vítimas de todos os tipos de violência sendo ela física ou psíquica, provavelmente por casos como este é que tornou-se necessário se pensar sobre uma reforma no atendimento psiquiátrico.
Ao contrário do filme se o trabalho do grupoterapeuta em atendimento à esses indivíduos for bem aplicado o tratamento terá bom resultado pois como vimos em aula o terapeuta acontecendo para o grupo como um continente possibilitará aos membros deste se sentirem capazes tornando-se o grupo ele próprio um continente onde a relação simbiótica segundo Bion é a mais bem sucedida pois tanto o continente como o conteúdo crescem e se beneficiam mutuamente. Sendo assim o paciente reconhece o grupo como sendo o “seu grupo” este muitas vezes funcionando como o substituto do vazio de uma família.
Em se tratando do filme se o analista tivesse adotado esta postura por muitas vezes de valência para com o grupo teria se tornado parte dele ao contrário de ser uma presença perturbadora e desorganizadora, o que resultou no filme com um terrível final, mas que na figura do personagem “chefe” teve a possibilidade de salvação.