TRABALHANDO VIDAS

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Apresentação: Trata-se de um projeto intervenção desenvolvido durante o Internato em Saúde Coletiva do curso de Medicina da Universidade Federal Rio Grande do Norte (UFRN) pelos alunos Afonso Xavier, Elker Abreu e Ronne Costa, sob preceptoria do médico Francisco Américo Micussi, tutoria da professora Isabel Brandão e ambientado na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Campo da Mangueira, Macaíba/RN. O projeto contou com o auxílio de toda a equipe de saúde da referida UBS em sua execução e foi voltado para a população de trabalhadores da área de abrangência da UBS.

Introdução: A valorização da Saúde do Trabalhador, com o seu reconhecimento como competência do Sistema Único de Saúde (SUS) pela Constituição Federal de 1988 e pela Lei 8080/90, reflete uma resposta aos movimentos sociais que, entre a metade dos anos 70 e os anos 90, reivindicavam que as questões de saúde relacionadas ao trabalho fizessem parte do direito universal à saúde. A portaria nº 1823 de 23 de agosto de 2012 foi mais um avanço importante no que diz respeito ao processo de valorização do trabalhador ao instituir a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora. O papel do SUS foi mais uma vez reforçado de modo a desenvolver uma atenção integral à saúde do trabalhador, visando a promoção e a proteção da saúde dos trabalhadores e a redução da morbimortalidade decorrente dos modelos de desenvolvimento e dos processos produtivos.

Neste contexto, a atenção primária em saúde surge como o ponto da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST) responsável por ampliar o olhar para além do processo laboral, de modo a considerar os reflexos do trabalho e das condições de vida dos indivíduos e das famílias, envolvendo uma abordagem integral do sujeito. Desta maneira, as ações de saúde do trabalhador, assim como as demais ações da atenção básica devem ser oportunidades para identificação, tratamento, acompanhamento e monitoramento das necessidades de saúde relacionadas ou não ao trabalho.
Entretanto, é bem conhecido o fato de os trabalhadores geralmente não terem acesso aos serviços de saúde tradicionais devido à jornada de trabalho e a consequente incompatibilidade de horários. Logo, para que seja assegurado o atendimento ao trabalhador, é necessário que os municípios utilizem mecanismos que possam incluí-los no rol dos atendimentos do Sistema Único de Saúde (Andrade e Silva, 2010).
Durante as semanas que passamos na UBS do Campo da Mangueira foi perceptível que um dos maiores problemas levantados pela comunidade foi a dificuldade de acesso ao atendimento médico na UBS, dado o fato de a distribuição de fichas para demanda espontânea ocorrer apenas uma vez por semana. Se isso já dificulta o acesso daqueles que dispõem de tempo para enfrentar o longo processo de espera em uma fila, prejudica mais ainda a possibilidade de aqueles que trabalham durante todo o dia receberem um atendimento digno.
Sendo assim, optamos por realizar uma intervenção com a temática voltada para saúde do trabalhador, que tivesse como objetivo geral proporcionar um horário alternativo de atendimento médico, odontológico e de enfermagem voltado a trabalhadores da área de abrangência da UBS; e como objetivos específicos: orientar os trabalhadores quanto a informações importantes relacionadas à saúde do trabalhador, tais como prevenção de acidentes de trabalho, assédio moral e função do CEREST; aumentar o número de usuários do sexo masculino que frequentam a UBS, dado o fato de serem os homens a maior parcela da população trabalhadora do bairro; e incentivar perante a equipe e a gestão em saúde a efetivação de um horário alternativo voltado ao atendimento do trabalhador.

Metodologia: A intervenção foi realizada na Unidade Básica de Campo da Mangueira no dia 19 de março de 2013 iniciando às 17 horas. A ação teve como público alvo os trabalhadores residentes na área de abrangência da UBS, os quais foram convidados pelos agentes de saúde para participar desse momento.
Com o apoio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Macaíba/RN e em parceria com o SAE (Serviço de Atendimento Especializado) do município, foram disponibilizados uma Unidade Móvel odontológica e material de teste rápido para HIV, sífilis e hepatites B e C.
Objetivando a orientação dos trabalhadores, organizou-se uma roda de conversa em que foram abordados temas referentes à Saúde do Trabalhador, além da distribuição de folders disponibilizados pelo CEREST.
Realizou-se também atendimento médico, avaliação odontológica e atendimento de enfermagem. Com o intuito de incentivar a prática de atividades que previnam agravos, promovam benefícios a saúde e alívio do estresse, foi desenvolvida uma Ginástica Laboral, que contou com a participação maciça dos usuários.

Resultados: Foram realizados 16 atendimentos médicos, 12 odontológicos e 06 de enfermagem. A maioria dos pacientes atendidos pelo médico (cerca de 94%) eram homens.

O SAE realizou 110 testes rápidos, dentre os quais 30 consistiram em Anti-HCV, 30 HbsAg, 28 Anti-HIV e 22 testes para sífilis, obtendo 02 deste último positivos. Dos 30 pacientes que realizaram os testes, 76,7% (n=23) eram homens.
Foram abordados os seguintes temas na roda de conversa: prevenção de acidentes de trabalho focando a necessidade de uso de EPI’s (Equipamentos de Proteção Individual), LER (Lesão por Esforço Repetitivo) e DORT (Doença Osteomuscular Relacionada ao Trabalho), assédio moral no trabalho e função do CEREST.

Quando os trabalhadores participantes da Roda de Conversa foram questionados sobre o uso de EPI’s no trabalho, responderam “só de vez em quando”; “não é obrigatório usar na empresa”; “uso quando quero”. Indagados sobre qual a opinião a respeito do horário de atendimento oferecido durante a ação (a partir das 17 horas), a resposta foi unânime: “ótimo” e “muito bom para os trabalhadores”.

Conclusão: Nosso projeto de intervenção, além de ter permitido o atendimento de trabalhadores sem a necessidade de falta no emprego, funcionou como uma ação-gatilho para estimular a SMS e outras UBS’s a desenvolverem projetos semelhantes. Apesar de ter sido uma ação pontual e com pouco tempo hábil para divulgação, contou com grande quantidade de usuários, o que pode ser indicativo de uma demanda reprimida significativa, reforçando ainda mais a necessidade da continuidade do projeto.

Agradecimentos: Agradecemos à Secretaria Municipal de Saúde de Macaíba/RN e SAE pelo apoio no desenvolvimento da ação em Saúde do Trabalhador e aos funcionários da Unidade de Saúde Campo da Mangueira, que contribuíram com a elaboração e desenvolvimento desse projeto.