As narrativas da Dor e do Prazer

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As narrativas da Dor e do Prazer

Somos seres híbridos de razão e instinto, seres miscigenados entre sentimento, emoção e cálculo. Trazemos em nós a irritação dos sentidos. Pensamos que uma ruptura nos separou da cadeia mais ampla em que estamos implicados. Achamos que não somos mais os seres naturais que fomos na alvorada de nossos dias sobre a terra. Mas só há pouco inventamos nossas histórias de sentido, começo meio e fim.

Recentemente nossos mitos através dos feitos de memória e da linguagem dão um reconfortante sentido ao mundo inóspito e misterioso em que estamos imersos. Durante milênios fomos seres integrados ao mundo natural. Hoje, pensamos que não somos mais. Ledo engano.

As narrativas de dor e prazer são complementares. Nós não as lemos, não pensamos nelas o tempo todo. O esforço continuo de purificar o mundo de sua dimensão sombria, não eliminou as sombras. Tornou a luz um fator de cegueira, como escreveu Saramago.

Nos desacostumamos a dimensão complementar da tragédia no destino e devir humanos. Isto nos desumaniza. A loucura desperta e lúcida é nossa resposta ao niilismo que se vestiu de sono humanista e esperança hipócrita. Esquecemos que temos em comum com os demais seres e com o lar que nos abriga.

Tudo em troca de sonhos pervertidos e espúrios. Que a páscoa nos permita renascer de novo, em paz com o que somos e com os que são em relação permanente conosco.

Feliz páscoa profana, judaica e cristã a todos!