L’anima Dannata: A Ira no Sujeito Pós-Moderno

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Por: Lincoln Almeida

E o sujeito confuso, atordoado, recorre ao intelecto para compreender a razão de tanto ódio e explosão desmedida ao ser acometido por pensamentos banais que, longe de estarem à altura de gatilhos justificadores de cólera, nele, são como faísca em paiol. Animais, supostamente menos evoluídos, têm explosões raivosas quando necessidades básicas são ameaçadas: fome, sede, reprodução, território, perpetuação da espécie e a própria vida… Mas, o sujeito-homem não. Desenvolveu o cérebro há milhões de anos, passou a vagar pela Terra, fazendo escolhas e protelando gratificações instintivas para que mais tarde pudesse construir o que chama de civilização. Sem que tivesse refreado impulsos mais odiosos (e desejosos), seria impossível sua sobrevivência, pois seguramente iria imperar a vontade do mais poderoso, com isso, ou se destruiriam todos, ou seriam esmagados por espécies mais fortes.

A cria humana é sem dúvida a mais dependente e frágil de todas. Enquanto tartarugas ou jacarés logo após nascerem se lançam sozinhos ao mundo, ela depende por longos anos de cuidados intensivos e formadores do penoso processo de humanização. Vale dizer com isso que todos nascem bichos e aos poucos vão incorporando a humanidade em sua constituição.

O sujeito sabe no seu íntimo que a condição básica para a civilização continuar a existir é o desejo coletivo permanecer preponderante ao individual. Mas, sabe também que o preço cobrado por isso é alto, isto é, exige que impulsos vindos do interior da mente, desejosos por realização, sejam adiados, refreados e modificados (FREUD,1980). […]

Voltando ao sujeito em questão, civilizado, pós-moderno, capitalista, agora, neste exato momento em que rumina sobre sua condição existencial, em algum lugar do planeta, sente o coração subitamente queimar tal fornalha, enquanto seus lábios se cerram.

A respiração é ofegante e ele hesita tentando controlar o impulso odioso para não lançar o veículo contra o algoz que lhe ultrapassou a frente de súbito, logo após o semáforo abrir. Decide se emparelhar com seu novo desafeto e na menor olhada de repreensão, sarcasmo, escárnio ou revide, explodirá com certeza toda a ira, agora revestida de ferro e lata contra o infeliz que cruzou seu caminho. O peito, no entanto, se congela quando vê ao volante daquele veículo uma cabecinha branca, sulcos profundos na face, óculos grossos, lutando com expressão assustada pra compreender o caos da civilização e o trânsito frenético que há mais de setenta anos não existiam em sua vida. Uma garotinha no banco de trás sorri e abraça o avô ao volante, acenando para o sujeito sem saber da iminência de uma possível desgraça. Naquele instante, seus sentimentos se repolarizam e logo dão lugar ao buraco da culpa, do remorso, da estupidez e do desejo de se redimir. […]

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