Aspectos étno-culturais na investigação de óbitos nos DSEI

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Olá Pessoal,
Com o andamento dos trabalhos na implementação do projeto Apoio DASI/SESAI aos DSEI pensamos que podemos gradativamente ir qualificando a ação dos apoiadores SI nos territórios/DSEI em relação a algumas questões etnoculturais pertinentes a este universo indígena onde estamos adentrando.
Desta forma, fiquei com vontade de compartilhar com vocês o trecho de um email que respondi para Maria Lia (Coordenadora Geral de Monitoramento e Avaliação-CGMASI / Departamento de Gestão da Saúde Indígena-DGESI / SESAI) na ocasião em que ela nos encaminhou uma versão da situação de óbitos nos DSEI, onde aparece a informação de 15 DSEI com investigação de óbitos igual a 0,0%. Vejam abaixo:

Olá Lia, obrigado pelo trabalho de sua equipe e pelas importantes informações que nos ajudam a dimensionar e localizar o trabalho que temos por fazer!!
Destaco os 15 DSEI onde a investigação de óbito é 0,0%, e lembro que no caso do Povo Yanomami a investigação de óbito, do jeito que propomos, certamente pode encontrar uma grande dificuldade de ser realizada, além das naturalmente relativas à organização do serviço, uma vez que, para este Povo, “quando uma pessoa morre, além de realizar os rituais de morte, queimar o corpo e comerem o pó dos ossos num mingau de banana, nunca mais se diz o nome dessa pessoa nem se faz referencias ou perguntas relativas a ela”. Citar o nome da pessoa que morreu ou perguntar sobre ela pode atualizar /trazer muito sofrimento e desconfortos além de indisposição na relação com a equipe, não indígenas, pela falta de respeito e pelo descuidado com o jeito de existir daquele povo. Trago isso para lembrar que junto à necessidade de investigar o óbito ainda será importante pensar e criar formas cuidadosas e respeitosas de fazer isso considerando as realidades dos DSEI.
Penso que, com o apoiador SI, questões como essa podem ser discutidas cuidadosamente em espaços estratégicos que estão sendo criados como: colegiados (gestão do DSEI), conselhos (distrital e local), envolvendo o Agente Indígena de saúde, lideranças e membros das comunidades com os quais já tenha se estabelecido graus de confianças que permita este tipo de questão”.

 

Portanto, esta reflexão se propõe a contribuir com os item 9 e 10 do texto postado anteriormente pelo Roberto nesta comunidade: QUESTÕES ORIENTADORAS PARA ELABORAÇÃO DO MAPA DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO, NOTIFICAÇÃO E INVESTIGAÇÃO DE ÓBITOS NO DSEI, relembradas abaixo:
9. Quais são os movimentos realizados para a identificação de situações ou aspectos etno-culturais em torno do tema “morte” que possam interferir na notificação e investigação do óbito? (verificar dentro, do possível se estas situações existem e quais seriam – fontes de ajuda: Antropólogo do DSEI se houver; Plano Distrital no item caracterização do DSEI; profissionais que já acumulam experiência no DSEI sobre questões antropológicas locais; Agentes Indígenas de Saúde; demais membros das comunidades indígenas).

10. Existe discussão nos Conselhos Locais, Distritais e comunidade indígena sobre a situação e impacto da mortalidade infantil e materna?(verificar quais são as impressões/interpretações a esse respeito, assim como, sobre questões relativas a informação, notificação e investigação de óbito).

No mais, com o apoio e contribuições da Vera, antropóloga da SESAI envolvida com o apoio aos DSEI, aos poucos estaremos disponibilizando alguns textos e estimulando mais diálogos relativos a estes aspectos que perpassam todo nosso trabalho no universo das populações indígenas.
Abraços atenciosos a todos!!!
Paulo Morais.