Reflexões/contribuições sobre a entrada dos apoioadores no CONDISI.

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Prezados apoiadores da Saúde Indígena (SI),
Neste Post pretendo compartilhar alguns cuidados, reflexões e sugestões relativas à entrada e envolvimento dos apoiadores no CONDISI em cada DSEI.
Cada realidade deve ser tratada de forma específica sendo que a forma de resolver situações nem sempre serão as mesmas em todos os DSEI. Entretanto, algumas dicas podem ajudar.
Temos observado facilidades e dificuldades relativas à entrada de apoiadores Saúde Indígena (SI) nos CONDISI. Este fato nos remete, tanto à dinâmica de como os fatos aconteceram até o momento, quanto ao que ainda podemos fazer para qualificar esta entrada.
No início do projeto alguns movimentos foram realizados no sentido de informar, esclarecer e envolver os Coordenadores dos DSEI e presidentes dos CONDISI. Entretanto, sabemos que esta relação realmente dar-se-á no dia-a-dia do trabalho e conforme a realidade situacional e de interesses em cada DSEI.
Portanto, fico à vontade para compartilhar as seguintes ponderações:
1. O CONDISI é um espaço que vem sendo conquistado ao longo de muitos anos na construção histórica da Politica Nacional de Atenção à Saúde Indígena. Este espaço é composto por 50% de indígenas (representantes dos Conselhos Locais do respectivo DSEI) + 50% de não indígenas, sendo a metade (25%) trabalhadores e metade (25%) gestores e entidades governamentais (SMS, SES, Funai…).

2. Constantemente luta-se pela construção do espaço do CONDISI como porta de entrada ao universo indígena, principalmente nas questões relativas à saúde dos povos pertencentes ao DSEI. Ali são discutidas (ou deveriam ser) todas as questões que impactam na saúde/vida dos indígenas daquele território.

3. De maneira geral, a expectativa dos Conselheiros de Saúde Indígena é de se sentirem respeitados e considerados. Isso acontece quando, antes de qualquer ação relevante que irá envolver a saúde da população indígena do DSEI, os projetos e proposições de ações são, primeiro, discutidas neste espaço, de forma compreensiva e no tempo de funcionamento dos indígenas, para que eles se apropriem do que estiver sendo colocado, se sintam coatores no processo e possam compartilhar/divulgar o que se passa com seus parentes e suas comunidades, com facilidade, coerência e legitimidade.

4. A entrada de uma pessoa nova nestes espaços nunca deve ser na perspectiva pretenciosa de quem vem de fora demostrando que já sabe o que deve ser feito antes dos conselheiros conhecerem esta pessoa, saberem de onde ela vem e ao que ela se propõe. É importante que os membros do conselho sintam que esta pessoa tem interesse em conhecer este espaço, reconhecendo e valorizando as concepções indígenas e a dinâmica de funcionamento do espaço/CONDISI.

5. Mesmo que tenham sido apresentados e/ou anunciados, é sensato que, nas primeiras entradas de apoiadores nos CONDISI, eles se coloquem mais como observadores, assistindo as discussões como ouvintes, se colocando disponíveis para quaisquer esclarecimentos sobre si e sua presença alí, caso isso seja solicitado. A intensão é a construção de uma relação de confiança que deve ser conquistada a cada dia no contato com este espaço e com as pessoas que o compõe, mesmo que em momentos pontuais ou informações fora das reuniões do conselho.

6. Caso haja espaço para participação do apoiador nos CONDISI, as primeiras aproximações podem se restringir a falar de si e de seu papel com apoiador e de sua disponibilidade, antes de falar dos índios e dos problemas deles, de preferencia para que eles percebam as ofertas e onde o apoiador pode ajudar e passarem a solicitar sua ajuda.

7. Em relação à Conferência Nacional de Saúde Indígena (CNSI) e as conferências locais e distritais, é importante que esta pauta seja valorizada, o que não impede que outras pautas sejam sugeridas desde que negociadas antes com o CONDISI. Sempre que possível, o apoiador pode acompanhar a pauta da CNSI na perspectiva de se aproximar e conhecer o universo da saúde indígena identificando os pontos mais valorizados pelos índios, pois aí pode se estabelecer aberturas para diálogos como ponto de partida para construção de relações de confiança e cumplicidade.

8. Enfim, a postura inicial do apoiador nos espaços do CONDISI é quase que pedir licença para chegar e entrar num espaço desconhecido, se apresenta e tenta compartilhar porque está ali com vontade de participar daquele espaço, sendo legítimo, transparente e o mais verdadeiro possível. É como alguém desconhecido que chega em nossa casa e, mesmo que tenha boas intensões, agente fica um bom tempo bastante desconfiado.

9. Caso, a entrada esteja difícil de fazer “sozinho” talvez a dica seja primeiro se aproximar de alguém mais acessível que tenha entrada e transito no CONDISI “colando” nesta pessoa, esclarecendo o quanto possível o papel do apoiador, de forma que esta pessoa se torne “porta voz” para o Conselho e em algum momento estabeleça uma ponte com o CONDISI ou ajude a construir a entrada do apoiador.

10. Para aqueles que já conseguiram se inserir nos espaço do CONDISI e que já estão partindo para trabalhar informações de óbitos, vale o seguinte: geralmente, a apresentação de informações e leituras/interpretações de dados relevantes de saúde sobre a realidade da população do DSEI como um todo, são pontos de muito interesse dos representantes indígenas nos CONDISI, pois muitas vezes eles sabem o que se passa em suas aldeias ou micro regiões, mas desconhecem o significado e relevância desta situação em relação a todo o DSEI.

No mais, mesmo que alguns já tenham superado esta etapa, espero que estas reflexões sejam pertinentes e ajudem no trajeto que vocês estão traçando para entrada nos Conselhos Distritais de Saúde Indígena.
Atenciosamente e com apreço,
Paulo Morais.