Saberes Científicos e Saberes da Tradição.

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Bom dia caríssim@s companheir@s da redehumanizasus.

Trago para essa grande Ágora um resumo do conteúdo do livro Complexidade, Saberes Científicos e Saberes da Tradição, de Maria Conceição Almeida (GRECOM-UFRN). Recorro a leitura do texto para problematizar a questão da cientificidade enquanto baliza de Verdades para nossas práticas. Mais especificamente para as práticas no setor saúde.

Não desconsidero a importância dos parâmetros objetiváveis, testáveis, mensuráveis, desde que o saber científico não desqualifique a sabedoria cultural das pessoas, suas experiências enquanto viventes encarnados e viventes conectados à esfera arquetípica dos mitos, das tradições sapienciais, da cultura popular. 

Vamos ao texto:

     

Ceiça Almeida procura, neste livro, desconstruir e problematizar 2 questões: a) A que limita a concepção de intelectual somente aos portadores da cultura científica; b) A que consagra o intelectual acadêmico como um tradutor privilegiado das concepções do mundo e dos fenômenos.

Consegue concomitantemente escrever um texto denso e palatável, que instiga a reflexão sobre as formas de pensar e fazer ciência. Em suas vastas pesquisas constrói uma matriz que enfoca os saberes científicos e os saberes da tradição, deixando claro que a tradição não deve ser rejeitada como superstição, nem exaltada como conhecimento primordial.
Reitera a aposta na complexidade do pensamento e do conhecimento, ressaltando que não basta religar disciplinas científicas, mas aproximar domínios de saberes identificados como não científicos, ou seja, substituir a monocultura da mente por uma ecologia de afetos e ideias.

A autora recorre a epígrafes como operadores cognitivos que acionam desdobramentos de argumentos e ideias. Distingue a ciência instituída e a ciência como um modo de operar do pensamento humano.
Anuncia, corroborando as palavras de Morin, o estreito parentesco do homem com o universo. Essa noção evoca um padrão que religa todas as coisas materiais e imateriais.
Traz a noção de uma terra viva (Elisabet Sahtouris), de um limite difuso entre os domínios bióticos e pré-bióticos (Henry Atlan), no qual as fronteiras tênues provocam dificuldade na colocação de barreiras. Evoca a concepção de coletivos e hibrido proposta por Bruno Latour, configurando uma nova arquitetura do paradoxo humano. Aponta a inexistência de algo puro, uma vez que o antropos corresponde a intercruzamentos de formas híbridas, É esse argumento que Cyrulnik utiliza para afirmar que o pensamento é um ‘ato neuroimaginário’.

Destaca Lévi-Strauss que anuncia a necessidade da dissolução do homem na natureza. Isso muda  o foco da lente que usamos para estudar um fenômeno, seja nos domínios da ciência ou nos domínios de uma ciência primeira, da qual emergem construções maestradas por uma ecologia das ideias.  Esses novos conhecimentos “convidam a uma maior humildade” daqueles que se julgam os grandes e eloqüentes  comunicadores do nosso tempo.

Lembra que o cenário de reorganização do conhecimento não é monolítico nem harmônico. Ocorre em dinâmica tensional (Khun -1989) que comporta resistência à mudança, campos de colisão, desclassificações, luta para manter discursos de autoridade e antigos poderes discursivos.

Para  autora, a transformação da ciência contém um processo de bifurcação que facilita o diálogo interciências, sem que haja redução de uma disciplina a outra. Faz dialogar saberes sobre o mundo físico, a vida e o homem. Alia prosa e poesia. Ultrapassa o método da simplificação que opera, ora por redução, ora por disjunção.

A ciência transborda, procura fugir do hermetismo. Se antes o rigor cientifico era expresso e aferido por critérios de formalização excessiva, quantificável, padronizado, , hoje esses critérios estão abalados. O rigor se engendra num contexto de maior acuidade, destreza e abertura do pensamento. Em síntese, a autora diz que é possível ser otimista diante da metamorfose da ciência contemporânea. Mas há pontos de entrave que precisam ser considerados.

Vamos adiante. Rejane Guedes.