Por um outro mundo possível, a história de um sobrevivente!

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Em tempos em que a reforma psiquiátrica brasileira e a luta por uma sociedade sem manicômios perde importantes batalhas com a aprovação do PL do Osmar Terra, o financiamento público de instituições não laicas de isolamento, entre outros retrocessos atuais, venho aqui falar a história de um sobrevivente que, semanalmente, me diz que outro mundo é possível.

Maximiliano Dantas é um jovem, usuário da rede de saúde mental de Natal (RN) e militante da luta antimanicomial. Max, como é conhecido por nós aqui, ainda adolescente teve seu primeiro surto psicótico, foi internado em alguns dos manicômios locais até encontrar cuidado no então CAPS II Leste da cidade. Desde então, foi progressivamente se apoderando do lugar de militante e protagonista da própria vida. 

"Tive de passar 10 anos no CAPS para me curar de 10 dias que vivi no inferno do manicômio", "É preciso pensar por si próprio e é preciso pensar por todos os lados", "Não quero sonhar com pouca coisa, posso sonhar em ser presidente da República! Ninguém tira de mim meus sonhos e é por eles que luto e luto não só por mim, luto por todos!"… Eis algumas das frases que já escutei de Max e que nos potencializam, nos fazem acreditar na força dos sonhos coletivos, na insistência cotidiana de espaços de pensamento e ação, na sustentação necessária da luta por um sociedade livre de manicômios e desejosa da diferença.

Em 2010, numa audiência pública sobre a Saúde Mental na Assembleia Legislativa do RN, Max inicia sua fala: "A gente não pode começar essa reunião sem falar na prisão que é o manicômio. Muitas vezes a gente sai de lá, mas continua lá. Quando nossos direitos não são respeitados, nossa fala, nossas ideias são jogadas fora." Os desdobramentos desta fala, junto a ação coletiva que envolveu Ministério Público, entidades de classe, sindicatos e movimentos sociais de direitos humanos, resultou no descredenciamento dos leitos da Casa de Saúde Santa Maria, manicômio no qual foi internado e onde sofreu incontáveis agressões. Max, como representante dos usuários e do Conselho Municipal de Saúde, foi um dos principais protagonistas deste acontecimento. 

Recentemente, Max viajou pela primeira vez sozinho de ônibus para participar, como representante dos movimentos sociais do RN, do III Encontro de Formação Política para Usuários e Familiares de Saúde Mental, realizado nos dias 23 a 25 de maio, no município de Luiz Correia, próximo à Parnaíba, no Piauí.

Agora, Max está lançando um livro que conta a sua história de resistências e sonhos e nos emociona a todos. Em cada uma de suas "falas" um encontro potente, um grito de liberdade, um modo de fazer o corpo poder mais…

Há braços e afetuosos abraços antimanicomiais,

Ana Karenina Arraes