Histórias de Inovação na Produção da Saúde na Atenção Básica presentes na Rede Humaniza SUS:Um Convite à Leitura

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Passear entre as histórias de inovação na Atenção Básica colhidas na RedeHumanizaSUS é como pisar com pés infantis entre os franzidos coloridos dos retalhos que formam as florzinhas do fuxico: imagem que logo nos seduz na capa da dissertação de Érica Menezes.

Para tecer com o guardado é preciso ter mãos habilidosas que dêem forma ao que parece desformado e olhos que brilhem diante da beleza do achado. É preciso sensibilidade para perceber que a aparente opacidade do retalho de uma só cor, de uma só forma, vai compondo brilho e ganhando vida ao juntar-se a retalhos de outras cores, formas e tamanhos diversos.

Érica soma ao nosso, o seu olhar. Puxa-nos pela mão e convoca-nos a revisitar os posts com passos alegres e curiosos e a examinar os pontos miúdos que, alternando-se, se unem. Convida-nos a pousar entre os nós, contorná-los, arrematá-los e a surpreender-se no percurso dos caminhos. Um convite a dar voltas, seguir com potência de quem diz “posso ajudar”, fazer retornos como se fossem idas. Girar sem medo. Ser compasso.

Para recontar a história da RHS no período de 2008 a 2012, Érica faz fuxico. Em torno dos retalhos, junta a academia e o saber popular. SCHWARTZ, Raquel, Campos, Rodrigues, Passos, Dantas, Régio, Pasche, Guedes, Dimenstein, Monteiro, Freitas, Merhy, Nicolau, Tesser, Lima, Cecccim, Matthes, Weber e muitos outros, convidam-nos a conversar sem pressa sobre as inovações na RHS. E inovam. Vivenciam o cotidiano invisível no trabalho. Fazem rodas no velho galpão do Panatis e dependuram seus textos no varal.

Seguindo o “bloco dessa mocidade que não tá na saudade e constrói a manhã desejada”, é possível seguir as palavras que se repetem: rede, resistência, vínculo, apoio, Tenda, práticas integrativas, cuidado… sentar nas rodas “quadradas” na igreja de Soledade I e se aquecer no Sul mesmo quando o Minuano sopra frio; atravessar os bougainvilles que se enroscam na cancela da casa de Seu Francisco e reencontrar junto a ele a canção deixando-se seduzir pela sua gaita; ver como os imprevistos enriquecem a melodia em Recife e conhecer uma pequena notável no Oeste Paranaense. 

No balançar da cadeira, Érica conta histórias da RHS. E a escuta muda o olhar. Reencontros com as vozes de Lourdinha Freitas, Lucinalva Rodrigues, Evanilde Dantas, Shirley Monteiro e tantos outros companheiros que hoje finalizam o curso de formação de apoiadores da PNH. Reencontros entre as inquietações de Rejane Guedes, a cenopoesia de Ray Lima e as crianças da Unidade que brincam no edredom. Reencontros que se ocupam em fazer “o dia nascer feliz”.

Juntando-se ao olhar de Érica, nossos olhos são afogueados pelo calor sertanejo e, marejados, transbordantes de mar, se voltam para o horizonte.

À medida que o fuxico ganha corpo e cresce em beleza, nossos corpos cirandam desejos. E porque "a gente não quer só comida”, dança-se com as cirandas da vida refazendo-se no desejo/rede. Desejo de "permanecer árvore RHS: esse lugar para chamar de nosso, onde fazemos amizades com muitas, multicoloridas e diversas borboletas".
 
Érica se debruça com leveza sobre as experiências da RHS; suas palavras intercaladas por figuras e canções, recriam com simplicidade. 

Com olhos ternos e mãos generosas, ao unir retalhos diversos no "fazer" dissertação, a autora nos presenteia com delicadeza; um quê de eternidade a bordar grandezas nas coisas pequenas.