“IR AO ENCONTRO” DA SAÚDE COLETIVA

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O legado médico, o profissionalismo, a dedicação e o valor humano-histórico de sua labuta essencial são indiscutíveis. Questiona-se, problematiza-se sobre uma postura corporativista (que acredita-se minoritária), que mostrou sua visão míope, equivocada, ao ir de encontro aos seus colegas estrangeiros. Faltou cuidado, sensibilidade, princípio de solidariedade humana. Para esse tipo de corporativismo umbilical, seja de qualquer carreira profissional deve-se problematizar e a reação foi instantânea, de norte a sul do País. Mas não vejo como foco uma tentativa de diminuir o papel, o caráter e a essência da carreira médica e dos nossos estimados e admirados médicos patrícios. Da mesma forma que a presença dos médicos de outras nações, entre nós, para ajudarem no desafio de melhorar as condições de saúde do povo brasileiro mais desassistido e aviltado em seus direitos à saúde, não se constitui em "desprestígio" da medicina brasileira e dos seus valorosos médicos, historicamente reconhecidos e prestigiados.

A questão é de natureza política, mas sobre a política e as disputas que lhe são inerentes deve-se (se) acercar de alguns princípios que ajudem a fazer uma mediação, de modo que, a visão do todo não seja perdida. A saúde coletiva é um desafio que nos remete a integralidade, sem perder de vista a equidade que precisa ser considerada no contexto das várias carreiras da saúde, que apontam para a universalidade gigantesca, a perder de vista, diante do fosso imenso que separa princípio e prática. Princípios e práticas quase não se encontram, na dureza, na escassez e na negligência que é praticada cotidianamente nos territórios deste imenso País. Esta situação diz respeito aos médicos, aos enfermeiros, aos engenheiros, aos cientistas das diversas áreas, como também aos pedreiros, carpinteiros, professores, donas de casa, políticos carreiristas ou não, governos, gestores e trabalhadores em geral.

Outra questão para o debate diz respeito à saúde como direito humano colocada dentro da lógica do mercado e o mercado colocado dentro da lógica da saúde pública. Quando os profissionais, os governos, os gestores, a população e as academias se tornam reféns ou subalternos da grande indústria… Esta "lógica" insana do mercado vai ditar o jogo e as suas regras. Demanda  reprimida faz parte do jogo, precarização do trabalho, formação voltada para o "privado" mesmo se servindo do "público", os dramas cotidianos das mortes nas filas de espera "virtuais", dos hospitais e outras negligências mil aquecem o mercado, que sem ática e voraz se sustenta neste paradoxo. Então, há que haver uma tomada de consciência maior, para além das carreiras, dos interesses corporativos e desta perversa lógica do mercado. A saúde é um bem maior, que requer valor humano praticado e vivenciado, requer interesse de classe para além da classe. E esse bem maior nos deve desafiar a todo dia, a sairmos das nossas "áreas", numa prática de saúde coletiva e compartilhada que nos permita conhecer a "casa toda". Isto não significa negligenciar a si mesmo, sua profissão e nem aquilo que é de direito. Lutar e se organizar é preciso. Mas significa pensar e agir para muito além da carreira, do individualismo, do corporativismo egoísta e da saúde como negócio. Talvez, quem sabe, a grande palavra, a grande oração seja: IR AO ENCONTRO.