AGENDAMENTO DE CONSULTAS + ACOLHIMENTO A DEMANDA ESPONTÂNEA: VALORIZAR A ATENÇÃO É O OBJETIVO DESTA SOMA

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Esta intervenção foi realizada durante o Internato de Saúde Coletiva do Curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN, desenvolvida pelas doutorandas Gabriella Lúcio Calazans Duarte, Ingrid Tinôco Silvestre e Rafaella Santos Mafaldo, do 9º período, realizada na Unidade Básica de Saúde do Vilar, em Macaíba/Rio Grande do Norte (RN), coordenado pela profª Dra Ana Tania Lopes Sampaio, sob a tutoria da Profª Vilani Nunes e preceptoria do médico Eider Saraiva e da Enfermeira Isabelle Albuquerque.

INTRODUÇÃO

         A atenção básica pode ser definida como um conjunto de ações em prol da saúde, tanto no âmbito individual quanto coletivo, abrangendo promoção e proteção da saúde, bem como prevenção de agravos(1). Dentre seus fundamentos está o acesso universal e contínuo ao sistema de saúde. Nesse contexto, as Unidades Básicas de Saúde (UBS) devem garantir mecanismos que assegurem a acessibilidade e o acolhimento dos usuários com uma lógica organizacional que otimize este princípio, empenhando-se em construir estratégias que promovam mudanças na rotina dos serviços(2).
        Apesar disso, são constantes as reclamações de usuários quanto a dificuldade de acesso à algumas UBS devido a inexistência de um sistema de agendamento de consultas pré-estabelecido que permita a organização da demanda agendada e o estabelecimento de vagas para atendimento à demanda livre diária. Isso implica na formação de filas em horários inconvenientes, prejuízo ao bem estar da população e no comprometimento do propósito de longitudinalidade preconizado para a Estratégia de Saúde da Família (ESF), visto que, pela dificuldade de acesso, o usuário não retorna ao serviço corretamente. Além de estimular práticas ilegais como o comércio de lugares na fila de espera de marcação.
Baseado nisso, o acolhimento com avaliação e classificação de risco insere-se como uma intervenção potencialmente decisiva na reorganização e realização da promoção de saúde em rede, executando-se a partir da análise, problematização e proposição da própria equipe em relação ao usuário(5)
          Entendendo a importância e sabendo da aplicabilidade desse sistema de acesso às Unidades Básicas, decidimos intervir na Unidade Básica de Saúde do Vilar, em Macaíba/RN, implantando a ideia de marcação de consultas agendadas associada ao acolhimento da demanda livre que surge em busca do serviço a partir de uma capacitação dos profissionais que compõem a ESF e que atuam na linha de frente do acolhimento ao usuário, com o objetivo de estruturar o serviço de maneira a ampliar o acolhimento já executado, diminuir filas de espera e a demanda reprimida sempre crescente, tentando melhorar a satisfação do usuário e da equipe de saúde(6).

METODOLOGIA

        No dia 15 de outubro de 2013 foi realizada uma capacitação sobre acolhimento da demanda espontânea com classificação de risco e diferentes modelos de marcação de consultas em Unidades Básicas de Saúde, para a equipe de Saúde da Família da UBS do Vilar, em Macaíba, Rio Grande do Norte. Esta foi realizada pelas doutorandas do internato de Saúde Coletiva de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) associando a proposta de um novo sistema de marcação de consultas médicas para a Unidade.

 

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DESENVOLVIMENTO

        A UBS do Vilar é composta por 1 equipe de Saúde da Família, contendo 1 médico, 1 enfermeira, 1 técnica de enfermagem, 1 dentista, 1 auxiliar de Saúde Bucal e 3 agentes comunitários de saúde (ACS). O sistema de consultas para clinica médica era feito através da distribuição de fichas em dois dias da semana pela manhã (terça-feira e sexta-feira) para que os usuários fossem atendidos no mesmo dia.
        A iniciativa de atuar nessa problemática, presente há muito tempo no acesso à Unidade, partiu da realização de uma roda de co-gestão com os principais atores sociais existentes na área adstrita da UBS do Vilar, com a equipe de saúde da Unidade e representantes dos gestores do município. Ao promover esse encontro, esperava-se ouvir da população as suas principais insatisfações, ouvir da gestão suas propostas e viabilizar as melhores soluções com o único objetivo de melhora a saúde daquela população. Nesse ponto, a problemática das “fichas” foi a que mais chamou atenção.
        A prática de distribuir fichas estimulava a formação de filas desde a madrugada ou noite do dia anterior, com permanência do usuário de cerca de 7h em uma fila para obter uma das 15 fichas distribuídas ao dia. Isso induzia, também, a venda de fichas por pessoas que posicionavam-se precocemente na fila, mesmo sem necessitarem de consulta médica, como também a “marcação de lugar” com objetos diversos, tornando-se um sistema de acesso de exclusão (7).
Observava-se, então, uma sobrecarga à demanda espontânea visto que, pela dificuldade de conseguir a consulta, os usuários procuravam o atendimento em horários diversos, mesmo quando em casos de doenças crônicas e gravidade mínima, ou até mesmo para apresentação de exames solicitados em consultas prévias, sem necessidade de atendimento de urgência.
       A partir disso, viu-se que uma forma de atuar seria através da organização de um sistema de marcação, que desse oportunidade àqueles que necessitam de consultas ambulatoriais em um prazo de 15 dias. Quinzenalmente, 48 marcações de consultas serão realizadas, sendo 12 para cada dia da semana que oferece o atendimento de clínica médica (permanecendo os dias antigos de atendimento já referidos), além de, pelo menos, 3 atendimentos para a demanda livre que chega à unidade, garantindo o acesso à maioria. Estabelecemos regras de marcação das consultas para evitar, mais uma vez, as trocas e vendas.
    As mudanças começaram a ser implementadas de maneira programada, a partir de um treinamento da equipe, deixando-a pronta para responder aos questionamentos que surgirão por parte da população, e capaz de informar às pessoas sobre as modificações que ocorrerão, educando-as sobre a procura dos diversos serviços oferecidos na atenção básica de acordo com seu caso específico, tudo em linguagem simples e de fácil compreensão para a comunidade assistida (7).
       Esse treinamento deu-se a partir de uma capacitação realizada pelas estudantes de medicina do 9º período do internato de saúde coletiva da UFRN, a partir de uma roda de conversa, com um diálogo direcionado ocorrida no dia 15 de outubro de 2013 na própria UBS. Nesta, a proposta de mudança na sistematização do atendimento foi exposta para toda a equipe de saúde através de uma cartilha de confecção própria baseada nos manuais de atenção básica desenvolvidos pelo Ministério da Saúde e adequados para a realidade local. Estavam presentes os 09 profissionais componentes da ESF, de modo que todos ficassem nivelados igualmente com relação às informações novas e familiarizados com as mudanças.
     O impacto da reorganização do trabalho na Unidade dá-se, principalmente, sobre os profissionais não-médicos que fazem a assistência. A equipe de acolhimento passa a ser o centro da atividade no atendimento aos usuários. Esses profissionais passam a usar todo seu arsenal tecnológico, o conhecimento para a assistência, na escuta e solução de problemas de saúde trazidos pela população usuária dos serviços da Unidade (3), por isso sua importância primordial.
      É importante que a equipe da ESF esteja capacitada em relação a definir intervenções de acordo com a estratificação da necessidade do usuário (mediante a avaliação de risco e vulnerabilidade) em “não agudo”, que podem esperar para intervenções programadas, e “agudo”, que necessitam de atendimento imediato, prioritário ou no dia. Dessa forma, o princípio da equidade preconizado pelo SUS pode ser garantido e necessidade do usuário atendida de acordo com a demanda (9). 

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CONCLUSÃO

A proposta teve boa aceitação por parte da equipe, os questionamentos levantados foram respondidos através de exemplos práticos da unidade e alguns sugeridos pelo Caderno de Atenção Básico, nº 28, Acolhimento à demanda espontânea. Foi ressaltada a importância do acolhimento a todo e qualquer usuário que chegue à unidade a procura de ajuda, bem como a capacidade da UBS em atender boa parte dos problemas e necessidades de saúde das pessoas, funcionando como uma articuladora entre as diversas tecnologias disponíveis para a atenção básica (9).

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REFERÊNCIAS

1. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2006.
2. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS. Acolhimento e classificação de risco nos serviços de urgência: um paradigma ético-estético no fazer em saúde. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde, 2006.
3. Franco TB, Bueno WS, Merhy EE. O acolhimento e os processos de trabalho em saúde: o caso de Betim, Minas Gerais, Brasil. Cad Saúde Pública. 1999 abr-jun; 15(2): 345-53.
4. Medeiros FA, Araújo-Souza GC, Albuquerque-Barbosa AA, Clara-Costa IC. Acolhimento em uma Unidade Básica de Saúde: a satisfação do usuário em foco. Rev. salud pública. 2010; 12 (3): 402-413.
5. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: acolhimento com avaliação e classificação de risco: um paradigma ético-estético no fazer em saúde. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde, 2004.
6. FERREIRA ML. ACOLHIMENTO Uma revisão de literatura. [Dissertação]. Viroglândia, Minas Gerais. Curso de Especialização em Atenção Básica em Saúde da Família. Universidade Federal de Minas Gerais; 2009.
7. SOUZA CFM. A percepção dos usuários da UBS Cedro-Alvorada sobre o acolhimento  de demandas de pronto-atendimento e de acompanhamento no PSF da UBS Cedro. [Dissertação]. Rio Grande do Sul. Escola de admnistração. Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2007.
8. Ministério da Saúde; Secretaria de Atenção à Saúde; Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: Documento base para gestores e trabalhadores do SUS. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde, 2006.
9. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Acolhimento à demanda espontânea. Brasília (Brasil): Ministério da Saúde, 2011.