Exposição dialogada sobre DSTs e gravidez na adolescência: uma estratégia de troca de saberes na atenção primária.

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Trata-se de uma análise crítico-reflexiva de intervenção realizada pelos doutorandos Breno Medeiros Cunha, Fernanda Galvão Pinheiro e Vitor Tavares Paula do internato de saúde coletiva do curso de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Atuou-se na comunidade do Vilar (Macaíba-RN) em parceria com a Unidade Básica de Saúde, com Estratégia Saúde da Família, do Vilar. Ação realizada com a preceptoria do médico Eider Maia Saraiva e enfermeira Isabelle Albuquerque, sob tutoria da professora Vilani Nunes e da coordenadora do estágio, Dra. Ana Tânia Lopes Sampaio.

INTRODUÇÃO: As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) são doenças transmitidas, principalmente, por contato sexual desprotegido (sem uso de condom), adquirido por meio de um indivíduo previamente infectado (1). Seus agentes são múltiplos e variados e suas manifestações orgânicas envolvem desde o âmbito cutâneo (feridas, corrimentos, bolhas, máculas ou verrugas), seja em região genital ou não, até acometimentos de sistemas como o nervoso central, linfático, órgãos dos sentidos etc. É sabido, porém, que muitas dessas condições seguem cursos assintomáticos ou oligossintomáticos, fazendo com que a doença possa ser transmitida silenciosamente (2). Quadros de resolução espontânea não são raros e aqueles de tratamento difícil, com recorrência, de alto risco à saúde ou mesmo de cura ainda não obtida merecem menção, sobretudo, para que a busca por prevenção seja ressaltada como primordial entre indivíduos com vida sexual ativa.

METODOLOGIA: Realização, no dia 19/11/2013, de exposições dialogadas contemplando a totalidade de alunos nos turnos matutino e vespertino da Escola Municipal José Arinaldo Alves, na comunidade do Vilar, em Macaíba-RN. Esta intervenção foi planejada e executada pelos doutorandos do Internato em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Norte que estagiaram na Unidade Básica de Saúde (UBS) do Vilar.

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DESENVOLVIMENTO: Durante as atividades do Internato em Saúde Coletiva na UBS do Vilar, em Macaíba-RN, fez-se o diagnóstico de alto número de consultas de pré-natal (cerca de 40/mês). Tal constação foi obtida através do estudo de demanda, vivência de territorialização e prática de clínica ampliada no estágio, quando se percebeu o expressivo contingente de gestantes adolescentes em acompanhamento. Ao levarmos o problema identificado para ser dialogado com a comunidade local em uma roda de co-gestão, os usuários queixaram-se, dentre outros problemas, da frequência com que adolescentes engravidam, assim como da fraqueza na integração escola-família na educação sexual preventiva de agravos transmissíveis ou planejamento familiar. Frente à confirmação social do problema detectado, fomos ao encontro dos diretores da Escola Municipal José Arinaldo Alves, dispositivo social onde havia pretensão de se atuar na educação em saúde. Foi, então, firmada a parceria com a escola e programada a intervenção com adolescentes da comunidade para 19/11/2013.
O público-alvo da ação envolveu todas as turmas matriculadas nos turnos matutino e vespertino da instituição, contando com turmas do 6o ao 9o ano do ensino fundamental. Foram contemplados 113 alunos, dentre os quais a faixa de idade variou entre 11 e 17 anos.
As exposições foram realizadas em um processo constituído por etapas de ação. Na primeira etapa, um acolhimento humanescente era proposto, de modo que todos os indivíduos se apresentavam e falavam um pouco sobre si. Ainda nessa etapa, um contrato de convivência era firmado entre todos de modo à obtenção de silêncio e respeito mútuo durante a atividade. De forma consensual, por exemplo, quando algum dos componentes da roda percebesse que estava faltando silêncio, ele deveria levantar seu braço e assim permanecer até que a calma se restabelecesse. Os demais colegas, se também desejassem silêncio, levantariam seus braços conjuntamente. A aceitação e adesão da proposta foi surpreendentemente boa e a convivência coletiva pôde ser exercitada intensamente.
Em seguida, a segunda etapa do processo consistiu em conversar informalmente sobre temas pré-selecionados pela equipe, envolvendo conceitos de DSTs, modos de transmissão e prevenção destas, tipos de doenças, manifestações clínicas, além da reflexão sobre a gestação no período adolescente. Ao serem indagados sobre estes temas, os alunos foram participativos e mostraram-se com dúvidas pertinentes e crenças populares que foram esclarecidas pelos doutorandos. Para consolidar ainda mais as ideias debatidas, a terceira etapa da exposição dialogada consistiu em discussão de imagens contendo expressões clínicas das DSTs mais comuns, com ênfase na prevenção como mecanismo de evitá-las.
Por fim, a última etapa do processo de intervenção constituiu-se em exibição de dois vídeos: o primeiro era parte integrante da série sobre SIDA feita pelo Dr. Dráuzio Varela, que desmistifica aspectos ligados à infecção por HIV como grupos de risco e modos de transmissão; o segundo vídeo, de encerramento, envolvia um trecho do longametragem  de animação Up, mostrando um casal vivendo sua sexualidade com segurança, confiança, afeto e responsabilidade. Ao final dos vídeos, houve distribuição de preservativos masculinos aos alunos, com reforço de que a UBS os oferece de maneira gratuita e acessível, assim como os testes rápidos para sífilis e HIV.photo_2.jpg

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CONCLUSÃO: A intervenção apresentou aceitação por parte dos alunos, os quais se envolveram, dividiram seus conhecimentos e se mostraram abertos para conscientização e diálogo sobre DSTs e gravidez na adolescência. Certos de que nossa ação possa ter gerado sujeitos ativos na promoção de sua saúde, finalizamos destacando um techo que define a promoção à saúde, retirado da carta da Primeira Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, em Ottawa, 1986: “Promoção à saúde é o processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria da sua qualidade de vida e saúde, incluindo maior participação no controle desse processo. Para atingir um estado de completo bem-estar físico, mental e social, os indivíduos e grupos devem saber identificar aspirações, satisfazer necessidades e modificar favoravelmente o meio ambiente… Assim, a promoção à saúde não é responsabilidade exclusiva do setor da saúde, e vai para além de um estilo de vida saudável, na direção de um bem-estar global. (3)”

REFERÊNCIAS:

(1) Ministério da Saúde, Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Portal sobre aids, doenças sexualmente transmissíveis e hepatites virais. Brasília, Ministério da Saúde 2013.

(2) Biblioteca Virtual em Saúde: dicas de saúde – Doenças sexualmente transmissíveis, 2007.

(3) Saúde e Cidadania, caderno 02: planejamento em saúde: um conceito ampliado de saúde. Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Disponível em <https://portalses.saude.sc.gov.br/arquivos/sala_de_leitura/saude_e_cidadania/extras/pref.html>, acesso em 20/11/2013.

(4) Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Manual de Controle. Doenças Sexualmente Transmissíveis. DST, Brasília, 2006.