Ancorar um navio no espaço…

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Estive no 2° Seminário Nacional de Humanização e estou com algumas coisas para digerir. Os vários posts (Erasmo, Patinutri, Mariela e etc), fotos, textos e vídeos aqui na Rede demonstram a riqueza do evento.

Levanto alguns pontos para pensar: 

A organização corajosamente fez as grandes falas na ágora. Uma proposta ousada de construir e manter o espaço público no debate da humanização, sem o estabelecimento prévio de quem fala e quem ouve. Esse exercício ora trouxe reflexões interessantes p/ tds nós e ora foi mal aproveitado já que alguns usaram o microfone sem lembrar que ali estavamos em aproximada/e 1200 pessoas…

Bom, como incluir quem tem posições tão diversas na roda? No discurso da inclusão como não cair num "blablabla" sem fim, numa repetição das desigualdades, julgamentos morais, assujeitamentos, etc? Como usar o espaço de modo a construir e fortalecer as discussões ao invés de ‘despotencializá-las’?

Estamos então num exercício diário de reflexão, compartilhamento e democratização, mas a forma da roda não é garantia que isso aconteça, é um convite (e ora acontece, ora não, né Ricardo?!).

Como não transformarmos a PNH em palavras de ordem, em ‘igreja’, em verdades absolutas, numa repetição infinita de seus princípios e dispositivos sem questionamentos? Como usá-la para pensar e fazer de outros modos, para pensarmos a partir deles, com eles, pra´lém deles? 

Nessa grande roda, peço, então, que incluam a minha posição contrária ao discurso do amor, da caridade, da bondade, do voluntarismo… Não, não é abrindo o coração que teremos um SUS mais fortalecido, com práticas mais respeitosas, na efetivação do direito à saúde e na construção do bem comum.

A caridade mantém de um lado um benfeitor e de outro um carente sem questionar porque essa relação é como é. A desigualdade não é natural e tem uma longa história.

O voluntarismo tem seu belo papel, mas não podemos esquecer que saúde é um direito e o Estado tem o dever de garantir que isso aconteça.

Estive no 1° Seminário Nacional de Humanização, em 2004, e é evidente o amadurecimento e ampliação das discussões, inclusive a minha, mas transformar a PNH numa verdade inquestionável é matá-la, é acabar com o que essa aposta tem de mais inovador e potente.    

Era mais ou menos isso.  Um abraço, Catia

PS: "é sempre mais difícil ancorar um navio no espaço"  (Ana Cristina César)