CRACK! IGNORAR NÃO É NOSSO VÍCIO

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Faz parte da história e da tradição do Ministério Público do Rio Grande do Sul a defesa dos direitos e interesses fundamentais, dentre eles, o direito à saúde, à vida e à dignidade do ser humano. Todos os atos em defesa desses direitos, alavancados pelos Promotores de Justiça, sempre contaram com a adesão significativa do povo de São Sepé.

Os Senhores e as Senhoras, Sepeenses Natos ou de Coração como eu, já contribuíram para a proteção da infância e adolescência; para a preservação do meio ambiente natural e histórico; para a segurança pública; já auxiliaram para a valorização da educação e para favorecer a disciplina do uso desenfreado de álcool entre jovens nossos jovens; dentre outras iniciativas, como aquelas que auxiliaram nas questões relativas à manutenção do Presídio local, no auxílio efetivo às Polícias Militar e Civil e na constante e incansável ajuda aos grupos sociais, como o Amor Exigente, a Apae e a Liga de Combate ao Câncer.

Sem a comunidade sepeense, o que seria do Consepro?

Sem os Senhores e as Senhoras o que seria do Proerd e da Brigada Mirim?

Me orgulho da Comunidade Sepeense e me considero SEPEENSE DE CORAÇÃO!

Pois agora estamos começando GUERRA contra um inimigo terrível, que escraviza pessoas, destrói famílias, degrada a juventude, estimula o crime e provoca mortes.

Falo do crack uma droga devastadora que vicia na experimentação e condena seus usuários à degradação física, mental e social.

Só no Rio Grande do Sul, já existem mais de 55 mil dependentes deste verdadeiro inseticida humano, que começou a ser consumido entre os jovens das classes mais carentes (nas periferias, nas calçadas das cidades grandes) e hoje atinge pessoas de todas as idades e de todos os níveis sociais.

O crack afeta, inclusive, a vida de quem nunca sequer viu a droga, pois está na raiz das tragédias familiares (temos visto pais matando filhos, filhos matando pais e irmão matando irmão), na origem de roubos, assaltos e homicídios, na motivação do absenteísmo escolar e na interrupção de carreiras profissionais.

O crack é considerado pelas autoridades governamentais como um dos maiores problemas de saúde pública do Estado do RS e como a principal causa da violência nos grandes centros urbanos. Tem, portanto, potencial para se transformar na pior epidemia da história do país.

Por tudo isso, pela dimensão do problema, é que a Promotoria de Justiça de São Sepé, resolveu encarar o desafio de convidar a sociedade sepeense (governo e sociedade civil) para uma gigantesca campanha de prevenção, destinada prioritariamente a alertar quem não caiu ainda na armadilha e a evitar novas vítimas da ilusão fatal. Com a ajuda da Associação do Ministério Público do RS, elaborei um TERMO DE COMPROMISSO DE INTEGRAÇÃO OPERACIONAL, o qual foi assinado pela Promotora de Justiça, pelo Prefeito Municipal, pela Câmara de Vereadores, pelos Secretários Municipais de Saúde e Educação, pelas Polícias Civil e Militar, pelo Conselho Tutelar e pelo Comdica, os quais assumiram vários compromissos, não com o Ministério Público, mas COM A COMUNIDADE SEPEENSE.

O Prefeito Municipal, com o apoio das Secretarias de Educação e Saúde e do Comdica, elaborará, em 120 dias, a contar de 23 de junho de 2009, um Programa Municipal de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente em situação de risco, pelo uso de álcool e drogas, em especial crack.

O Conselho Tutelar e a Brigada Militar, juntamente com uma Equipe Multidisciplinar da Secretaria de Saúde, atenderão, via abordagem de rua, crianças e adolescentes em situação de risco, aplicando as medidas de proteção cabíveis, quando acionados ou de ofício. O Ministério Público irá treinar educadores, palestrar para as famílias e proporá, quando necessário, ações para internação de dependentes. Ainda, Ministério Público, Polícia Civil e Brigada Militar atuarão, em sigilo, em ações de combate ao uso e tráfico de drogas. Por fim, a Câmara de Vereadores levará ao interior (em seus projetos de interiorização) o assunto crack e será apoiadora de todas as ações dos firmatários do Termo de Cooperação, além de ceder o espaço físico para as reuniões mensais e um servidor para a feitura dos trabalhos de áudio e vídeo.

 

O Ministério Público, junto com as forças de segurança pública, jamais deixou de trabalhar na questão da repressão aos traficantes e também contamos com o Poder Judiciário para a obtenção do tratamento para a recuperação de viciados, com o propósito de reduzir a incidência de episódios deploráveis que já se tornaram rotineiros na vida dos brasileiros, como crianças e adolescentes acorrentados, filhos agredindo os pais, dilapidando os bens da família e até mesmo sendo mortos por seus progenitores, na tentativa desesperada de se livrar do suplício imposto pela dependência.

A campanha CRACK. INGNORAR NÃO É NOSSO VÍCIO! terá cenas chocantes, como é efetivamente a realidade dos drogados e das pessoas que com eles convivem. Quem vive ou vai a cidades grandes, não desconhece a existência de verdadeiros exércitos de zumbis que perambulam pelas calçadas escuras movidos unicamente pela pedra maldita. Nem parecem mais seres humanos: são farrapos de gente, pessoas que renunciaram à saúde, à vaidade e à dignidade para se deixar embalar pelo feitiço ilusório da fumaça tóxica que atinge o cérebro em segundos, aumenta o ritmo cardíaco, dilata as pupilas, eleva a temperatura e projeta o usuário para um estado de agressividade, de paranoia e torpor.

O crack também causa problemas cardíacos, parada respiratória, derrames, infartos, náuseas, dores abdominais e perda de apetite. A saída deste labirinto de horrores é muito difícil de ser encontrada. O índice de recuperação das clínicas especializadas é baixíssimo e o de mortes, pelos estragos no organismo ou pela violência comum entre usuários e traficantes, é muito elevado. 90% dos usuários, após algum tempo de abstinência, recaem!

A nossa sociedade, infelizmente, ainda, não está preparada para lidar com esta maldição moderna. As famílias tendem a ocultar o problema quando um de seus membros mergulha no poço sem fundo e só procuram ajuda quando as relações domésticas estão irremediavelmente deterioradas. Pior: o poder público e o sistema de saúde não dispõem de alternativas para o atendimento desta população de dependentes químicos. A novela familiar é bem conhecida, porque se repete centenas de vezes em muitos lares. Jovens que experimentam a droga tornam-se dependentes quase que instantaneamente, sentem necessidade de usá-la 20 ou até 30 vezes por dia e são capazes de qualquer coisa para obtê-la. O caminho é quase sempre o mesmo. Os viciados começam roubando da própria família e depois partem para delitos cada vez mais graves e violentos.

A rede de saúde pública no Rio Grande do Sul está despreparada para atender ao aumento avassalador dos dependentes de crack. Por isso, a situação exige urgência na formulação e na prática de políticas públicas eficientes para enfrentar o tráfico, liquidar no nascedouro a produção e distribuição desta droga, e proteger a população do seu avanço, que se dá em velocidade aterrorizante entre os jovens de todas as classes socioeconômicas.

As causas da disseminação desta e de outras drogas são bem conhecidas: ambiente social favorável, decorrente de famílias desestruturadas e especialmente da ausência da figura paterna; crise social de valores e referências morais; baixo nível de informação e educação; baixo preço da droga; fragilidade do sistema repressivo e as já citadas carências do sistema público de saúde.

As consequências são terríveis: dor, prostituição, roubos, assassinatos, famílias destruídas, seres humanos degradados, transformados em personagens de filme de terror.
A solução depende de todos nós, da nossa capacidade de enfrentar o problema, do nosso poder de organização, da nossa vontade de lutar pelas pessoas que amamos, da nossa capacidade de dizer "não" a essa droga maldita com toda a força da nossa alma.

 

CÍNTIA FOSTER DE ALMEIDA,

PROMOTORA DE JUSTIÇA DE SÃO SEPÉ.