A gripe Suína e o espírito de Capataz

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O secretário de educação do Estado de São Paulo, Paulo Renato, se viu em dificuldades diante de uma jornalista de um programa de TV. Ao vivo ela perguntava:  porque vocês não afastaram do trabalho as professoras gestantes, assim como fez o Estado do Rio de janeiro? Diante de uma resposta evasiva, explicando que elas estariam afastadas da sala de aula, mas em uma “função administrativa” dentro da escola, a jornalista insistiu: “mas não estarão expostas ao risco desnecessariamente?”. O ex-reitor tergiversou o quanto pode…mas é difícil explicar o que faz um governo tomar uma atitude assim. Do ponto de vista estritamente econômico o prejuízo está configurado. As professoras gestantes terão que ser substituídas, porque os profissionais com função administrativa não poderão “trocar de função” com elas. Então, sequer se pode acusar o governo do PSDB paulista de pensar como “patrão mesquinho”, ou como “dono” de um negócio, que estaria buscando minimizar os prejuízos.  Seria um raciocínio economicista e míope, embora hegemônico. Mas não foi o caso. Não há o que economizar. Não se trata de uma decisão técnica e nem sequer de “um raciocínio”,  e sim de um sentimento, um espírito de capataz, para o qual os trabalhadores sempre são “bandidos”, “preguiçosos”, querendo roubar o patrão e fugir do trabalho. Trata-se de evitar que eles (no caso, as mulheres gestantes) se aproveitem de uma situação como a gripe suína, para não trabalhar. Afinal, lê-se nas entrelinhas, já não basta a licença gestante? O 13º salário, férias… privilégios e mais privilégios que só aumentam o ”custo Brasil”?  Para eles, os trabalhadores e a maioria do povo existem para as instituições, e não contrário. A conduta explicita uma vontade de que a servidão seja um valor em si mesmo. A grande vitória da elite (sim, uma elite econômica e cultural) em um país com a incrível concentração de renda e miséria, como nosso, é produzir este tipo de sentimento, de forma generalizada. O ex-ministro não está sozinho neste sentimento e a questão se expande para além do modelo gerencial: não é a toa que ele é ex-ministro e que o seu partido se re-elege cronicamente neste Estado. Talvez os 10 % que detém a maior parte da riqueza – e os seus capatazes – deveriam envergonhar-se de surrupiarem a maior parte do “bolo”, produzido com o trabalho suado e explorado de todos os brasileiros (inclusive com a fome do “exercito de reserva”,  desempregados agora chamados “estruturais”, que aumentam o lucro do capital). Por incrível que pareça, é justamente o contrário que ocorre: o povo é que se sente culpado, envergonhado e humilhado pela própria miséria, enquanto a “elite econômica” e seus capatazes sentem raiva do povo, por tanta teimosia em ser miserável,  ignorante  e vagabundo.  E não perdem oportunidade de serem pedagógicos, ensinando a obediência e a submissão, como nesta última determinação do governo do Estado de São Paulo.  Diante deste tipo de sentimento compreende-se o ódio às políticas sociais do governo Lula: o Bolsa Família, o microcrédito, o aumento do salário mínimo, o programa de habitação popular… políticas que não deveriam ser nada revolucionárias. Qualquer governo, de qualquer partido, num país com a distribuição de renda que temos, deveria tê-las por princípio e obrigação elementar, ainda mais aqueles que carregam as palavras “social democracia”.  Mas acontece que se trata simplesmente do fato de que alguns partidos (e parte de agremiações de esquerda, incluindo o PT, também) expressam em siglas este tipo de sentimento colonialista, para o qual os trabalhadores e povo brasileiro como um todo, são adversários. Na gestão: neo-taylorismos diversos. Na política: exclusão. Para além das tragédias sociais e políticas, estas violências instituídas, produzem armadilhas difíceis de desfazer: sem saída trabalhadores e populações excluídas facilmente são engolidas por uma reatividade suicida. Então qual espaço de poder resta a trabalhadores em organizações como esta? A relação com os usuários, o próprio trabalho…reações corporativas, contra o todo da organização e um sentimento vago de raiva dos usuários, são comuns. E servem de mais justificatia para o neo-taylorismo e suas vertentes. Na sociedade, esta reatividade facilita a vida do crime organizado e de todos que se alimentam da indústria da violência.