Adesão/Não-Adesão – O que está em jogo?

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Esta semana li o artigo intitulado: “Produção bibliográfica sobre adesão/não-adesão de pessoas ao tratamento de saúde” das autoras Annelita Almeida Oliveira Reiners; Rosemeiry Capriata de Souza Azevedo; Maria Aparecida Vieira e Anna Lucia Gawlinski de Arruda, do Departamento de Enfermagem Médico Cirúrgica, Universidade Federal de Mato Grosso. Artigo publicado na revista Ciência e Saúde Coletiva, vol13, 2008.
O artigo traz uma revisão crítica da produção bibliográfica latino-americana, no período de 1995 a 2005, acerca da adesão/não-adesão ao tratamento de pessoas portadoras de problemas crônicos de saúde: hanseníase, tuberculose, hipertensão, diabetes e aids.
Alguns trechos interessantes do artigo:
“Foram analisados 36 artigos, identificando-se as variáveis: ano de publicação, área de publicação e tipo de estudo. A maior parte dos artigos (27) foi produzida por profissionais da área de Medicina em estudos epidemiológicos e da área de Enfermagem (7) em estudos qualitativos e quanti-qualitativos. A produção científica sobre o assunto cresceu até 2002, caindo a partir desse ano.”
“Nas definições descritas pelos autores, a idéia recorrente foi a de que o papel do paciente é o de ser submisso às recomendações dos profissionais de saúde e que ele tem autonomia para seguir ou não o tratamento, mas o profissional exime-se da responsabilidade sobre as conseqüências dessa decisão.”
“A maioria dos fatores apontados pelos autores como contribuintes para a não-adesão está relacionada ao paciente, mostrando que a maior carga de responsabilidade pela adesão/não-adesão é conferida a ele (quadro 1).”
“As medidas assinaladas pelos autores para a resolução do problema permitem a identificação da responsabilidade dos profissionais, serviços de saúde, governos e instituições de ensino (quadro 2).”
“A investigação também mostrou que as idéias de adesão/não-adesão contidas nos textos revelam uma concepção reduzida do papel do paciente no seu processo de aderir ao tratamento, pois o considera submisso ao profissional e ao serviço de saúde e não como um sujeito ativo no seu processo de viver e conviver com a doença e o tratamento.”
 
Frente aos achados publicados neste artigo, poderíamos colocar uma questão: O que está em jogo nessa maneira de fazer clínica?
Certamente um dos fatores é o poder do saber do profissional de saúde que parece ser colocado superior aos outros, mesmo que todas as evidências indiquem sua insuficiência frente às questões de saúde.
A questão do modelo de atenção raramente é colocada em questão em sua relação direta com a problemática da adesão. O modelo do atenção centrado no atendimento individual e ambulatorial, predominante no Brasil, teria alguma influência sobre a problemática adesão/não-adesão?
Endereço do artigo: https://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232008000900034