Leitura do texto : Análise do Trabalho em Saúde nos Referencias da Humanização e do Trabalho como Relação de Serviço.

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ANÁLISE DO TRABALHO EM SAÚDE NOS REFERENCIAS DA HUMANIZAÇÃO E DO TRABALHO COMO RELAÇÃO DE SERVIÇO.
SERAFIM BARBOSA SANTOS FILHO.
REVISTA TEMPUS ACTAS DE SAÚDE COLETIVA.

O artigo traz os principais eixos metodológicos elencados pelo autor sobre análise do trabalho me saúde, como referencial a política de humanização do Ministério da Saúde (PNH).
Na perspectiva do autor articula eixos e dimensões onde busca articular questões como I- implementar práticas coletivas no trabalho II- participação ativa dos trabalhadores e III- o aumento da capacidade de analise das intervenções no trabalho, com esperança de mudança nas práticas de saúde com uma constante promoção d autonomia e corresponsabilizaçãocom suas realidades de trabalho e da subjetividade.
O autor introduz aspetos referentes a política de humanização que desde sua implantação em 2003 vem crescendo o interesse no campo de estudo e práticas, como o apoio institucional nos serviços de saúde e seus dispositivos como por um trabalho /serviço em análise, sempre dimensionando e articulando referenciais da PNH
A partir dos referenciais da PNH pode-se introduzir práticas e análises coletivas de trabalho, participação ativa dos trabalhadores e com isso intervir nos processos de trabalho
Como se articulam os conceitos estruturantes da PNH?
A política tem por princípio, o que sustenta e dispara um movimento, sendo três: o da Transversalidade -entre os envolvidos no processo, gestores, trabalhadores e usuários- o principio da Indissocialidade, como um modo de cuidar e gerir, a gestão e a atenção caminharem juntas durante o processo e o outro princípio o Protagonismo e Automonia dos sujeitos, com atitudes de corresponsabilidade no processo.
O autor completa que as diretrizes são orientações da Política do SUS, como cogestão de coletivos e redes de compromisso, com ampliação do diálogo e ampliação dos espaços coletivos, inclusão dos diferentes e construção compartilhada e sempre considerar a subjetividade e a singularidade dos sujeitos envolvidos
Continua referindo que os dispositivos são a tradução das diretrizes em arranjos para interferência no processo de trabalho.
E nomeia como metodologia de ‘tríplice inclusão’: dos gestores, trabalhadores e usuários, inclusão do coletivo- como os trabalhadores em sua organização e a inclusão dos ‘analisadores sociais’ como alguns elementos que expressem diferenças, causem estranheza, conflitos em geral no modo de fazer saúde.
A PNH propõe transformações nas relações sociais na experiência cotidiana dos serviços, transformações nas formas de produzir e prestar cuidados em saúde, nas intervenções na maneira de trabalhar. Parte do entendimento do trabalho como espaço coletivo em que se entrecruzam saberes e podem ser compartilhados saberes e práticas.
O autor sugere que a PNH tem como finalidade estar ‘em meio’ aos processos de trabalho/ serviços e podendo produzir outras formas de produzir relações, outras composições, outras possibilidades de cuidar, complementa que poderá feito através do apoio institucional, no sentido de ajudar as equipes a por seu trabalho em análise, como um caminho de exploração do trabalho na vida dos sujeitos, através de discussões sobre modos de operar, produzir e exercer gestão, ou seja, fortalecer o coletivo.
O apoio é um caminho metodológico para se propor a análise do trabalho, com modo de operar as situações problemas com a ampliação da capacidade reflexiva dos coletivos.
Sobre apoio – intervenção na PNH como desafio de potencializar o campo de trabalho, incorpora o entendimento do que é trabalho prescrito e real com normas e re-normatizações e procura-se entender o trabalho como relação de serviço, deslocando o valor para a capacidade de produzir transformações, com oportunidade de aprender novos jeitos de ser trabalhador, compreendendo que todo trabalho pressupõe normas, mas também negociações e diálogos para gerir viabilidades.
As estratégias da PNH situam essa discussão no âmbito da gestão, como a inserção dos trabalhadores como a gestão como desafio coletivo na perspectiva da cogestão e as práticas da PNH efetiva-se a partir delas com o encontro dos sujeitos envolvidos, construindo e transformando ações.
O Trabalho em Saúde como Relação de Serviço
O foco é enfatizar o trabalho em saúde na perspectiva ampliada, como Zarifian, referido por Santos Filho que diz a produção de serviços é uma ‘ arena de interação de recursos e pessoas’ assim com produzindo transformações, na esfera da prestação de serviços e na organização de trabalho. Segundo o autor com a articulação desses referenciais acima, o trabalho visa: a produção de serviços para os usuários; a sustentação da produção com eficiência e a produção dos sujeitos trabalhadores. Com isso segue as premissas da PNH e em torno dessa compreensão de que uma relação forte entre pares e usuários não seja centrada na produtividade e sim na ‘lógica multicriterial’
Ao assumir essa compreensão tecemos os eixos de análise do trabalho em saúde, articulando a inserção – inclusão dos trabalhadores no processo de produção
Os Objetos-Sujeitos em Foco
Espera-se uma permanente construção de autonomia e corresponsabilização com intervenções para a transformação da realidade dos serviços e de si mesmo, compreender o trabalhador como ‘protagonista’
O Foco da Análise
As dimensões e lacunas são importantes para serem problematizadas.
O autor traz temas como valorização e motivação por vezes, são tratadas de modo simplista, a satisfação sendo dissociada da realidade e dos interesses dos trabalhadores e não tendo como base as necessidades dos sujeitos, o autor refere que ai se dá uma grande lacuna, por outro lado não pode ter a motivação para neutralizar ou amenizar os problemas do funcionamento do trabalho. A proposta é explorar as dimensões a partir do aprofundamento da análise coletiva do trabalho, avaliar o contexto de produção e também dos processos de subjetividade. Zarifian associa motivação a sentidos relacionados ao ‘sentimento de utilidade’ no que realiza, aos valores ‘éticos profissionais’ e aos projetos pessoais
Complementa que no trabalho, não se motiva, nem se satisfaz a partir dos modelos ideais da instituição, mas sim da realidade concreta e do sentido dado pelo trabalhador. A valorização sinalizada pelo trabalhador se dá na expectativa de reconhecimento pela trajetória e implicação com o trabalho.
As Bases de Sustentação do Trabalho em Equipe e em Rede
A PNH propõe o entendimento da lógica de redes cooperativas no domínio da cogestão e o autor lembra que a efetividade de uma rede é compreendida na esfera das ‘relações de força e não de forma instituídas’ e propõe que o trabalho em equipe seja colocado em análise pelas próprias equipes para emergir os diferentes incômodos e conflitos vividos ma maioria das vezes em silencio na esfera dos saberes, poderes e afetos. Esse dado não só serve de diagnóstico de situações de fragmentação, mas sim possibilitar explorar indicadores e estratégias e um componente importante é a investigação do equilíbrio entre incorporação de diretrizes institucionais, ‘autonomia individual e coletiva’ e tem como base de constituição da equipe é cooperação e que segundo Dejours referido pelo autor, é o que funda o coletivo de trabalho e o faz eficiente e eficaz.
  Para Zarifian a comunicação é entendida como ‘intercompreensão mútua entre sujeitos e um importante aspecto para analisar situações de trabalho, produtividade e mudança organizacional e investindo na cogestão, constrói-se um campo fértil de comunicação.
Informação como Analise da Organização.
A informação é um requisito importante no contexto da produção em saúde e envolve múltiplas interlocuções.
Para dimensionar a análise deve-se abranger tudo que surge nas relações no trabalho, então tem significado homogêneo tem um caráter simbólico e os sentidos são identificados pelos sujeitos.
Em outra perspectiva sobre a informação, o autor refere que é um meio de contradições dos modelos atenção e gestão, os modelos exigem participação ativa, mas muitas vezes o próprio sistema /organização inviabiliza o exercício como protagonistas, como exemplo da pouca governabilidade, da falta de autonomia, pela ineficiência da formas de participação, do planejamento e de decisões.
O autor complementa que por vezes os trabalhadores desconhecem os próprios indicadores de análise, cenário esse, um desafio para produzir outros modos, métodos compartilhados de lidar com a informação n avaliação do trabalho.

As Guias protocolares e as regulações de seu uso
O autor refere que o trabalho em saúde é cada vez mais dependente de fluxos e ferramentas organizativas, como protocolos clínicos e indicadores do caminho do usuário, complementa que servem de guia orientam, mas não garantem o ‘ cumprimento ‘ do trabalho e na prática do cotidiano não as variabilidades das atitudes dos trabalhadores diante das diversas situações.
Outra forma de entender os protocolos é que a padronização pode ser útil aos trabalhadores, entretanto, há uma diferença entre o uso padronizado e o uso inteligente, subordinado à apreciação e individualização de soluções para o atendimento.
Na ponta ou nos serviços, para o autor os protocolos não conseguem cumprir o seu objetivo, são compartimentalizados por tipos de doença, induzindo atuações também compartimentalizada do profissional, fragmentando o cuidado, como parâmetros de produção esperada, mostrando situações de insatisfação dos trabalhadores com contradições entre práticas e preceitos.

Reconfiguração institucional do trabalho
Uma demarcação que vem no sentido de fazer dialogar as dimensões que emergem nas modalidades de trabalho / gestão, diálogo que propõe eixos interrogativos e investigativos sobre a capacidade de fragmentação da instituição em direção para transformação do trabalho, potencializar sujeitos, como produtores do sistema.
A PNH no cenário das intre-locuções exige que o próprio campo de luta e ponto de partida da análise seja um espaço de diálogo entre as perspectivas da organização e gestão do trabalho, com a postura de colocar o trabalho em é a de provocar efeitos de alteração de posicionamentos e atitudes diante dos fatos
Importante lembrar que na esfera avaliativa, os estilos de gestão ou de gerenciamento, devem servir como pistas para redirecionar e potencializar a função de avaliação dos serviços. As cobranças de procedimentos, m ao invés de avaliar a percepção do coletivo sobre os significados e consequencias de não utilização dos procedimentos, deslocando as cobranças para o âmbito dos ‘sentidos’ e de corresponsabilização
Para a PNH a função de gestão, alerta para que a solidariedade, satisfação e empatia estejam sempre acesas, compondo com outros sinais que possam pactuar um processo coletivo permanente.

CONCLUINDO
Reafirmar a potencia da atividade – análise – intervenção e deixando desafios
O trabalho em saúde tem sofrido inúmeras criticas e de várias formas e com uma crescente precarização referente as condições de trabalho, os problemas tratados como sintomas isolados e as questões mais amplas em algumas vezes tratadas como reivindicações setoriais com aspectos trabalhistas e o autor grifa que é bem usual o vislumbramento da ‘higienização ‘ dos ambientes de trabalho como forma de neutralizar conflitos
A construção da proposta metodológica da PNH lida com paradoxos um com um cenário do SUS e suas fortes bases e princípios democráticos para os modelos de gestão e organização da atenção e por outro lado, uma tendência de organização a dificultar e não facilitar uma participação ativa dos sujeitos.
Esse contexto revela lacunas entre os princípios e as práticas nos serviços e a PNH surge como proposta de legitimar e reafirmar as diretrizes do SUS, com os referenciais de indissociabilidade entre gestão e atenção e da transversalidade na perspectiva de análise do trabalho. na proposta de cogestão de da inclusão de sujeitos.
Um ponto importante é a apoio institucional com tecnologia de mobilização dos coletivos que possibilita a articulação do movimento de análise intervenção para poder ‘produzir novas posturas’ nas instituições e que de modo tradicional nem sempre são possíveis, com posturas impositivas por parte dos gestores e são esperadas como ‘naturais’.
Muitos são os fatores limitadores da incorporação nos espaços de trabalho.
O artigo busca descrever um caminho metodológico nas realidades de trabalho, com uma perspectiva de construir uma análise-intervenção a partir da própria realidade e do que ela ‘informa’ e revela para ser explorada e traz também outro desafio a da singularidade das realidades sempre heterogêneas que devemos remeter ao contexto ético e estético, gerador de conhecimentos e novos métodos avaliativos e, sobretudo, com a participação ativa dos trabalhadores e usuários, levando em conta dois grandes desafios para praticar o exercício avaliativo, o primeiro, considerar a falta de cultura institucional de análise e avaliação nos serviços e, segundo considerar que o próprio conceito de serviço é um desafio de aprendizado institucional.
O autor acredita que a consolidação da PNH como política pública a ser fortalecida pelo SUS passa pelo investimento no campo avaliativo, com a compreensão de que a apropriação de analisar e avaliar, desejada como indissociável do planejar e do fazer em busca de um método para melhor conhecimento dos referencias e dispositivos da PNH e dos arranjos organizativos das práticas de saúde, com reflexões sobre as mudanças, considerando suas próprias atitudes e repercussões.