O marginal negro e o adolescente rebelde:

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Ela diz tudo sobre ela… quando fala do Brasil, das pessoas, dos inocentes e dos culpados.

Interrogue o significado de humanidade que a postura dela traz implícita. Para mim humanidade na concepção de Rachel é uma abstração dada a preencher buracos. Quanto mais bonito, mais rico, mais famoso, "mais mais", tudo de bom mais humano você é.

No entanto, por "mais mais" que você seja, você ainda não será plenamente humano. Por isso, ela sugere pegar leve com gente branca, rica, famosa, talentosa e sangue bom. Afinal, para os "mais mais" ter um problema não é motivo de suspeita. É razão para o perdão. É razão para reconhecer a proximidade do ideal santo e imaculado, puro e branco de humanidade.

Mas se você for mulato, pobre, não tiver fãs e pareça que ninguém mais se importa, aí mesmo é que você é um apenas um animal. Se os "mais mais" parecem deuses, mas são só humanos, os pobres parecem gente, mas são só bichos.

Humanidade é uma coisa que preenche vazios no modo de ver se Rachel. Ela me faz pensar na personagem ninfomaníaca de Lars Von Trier e de seu pai, um médico racionalista e filosofo que humanamente se caga diante da morte. Tem tudo a ver a postura da apresentadora de TV, do médico e da ninfomaníaca.

Para apresentadora, os vazios existenciais são preenchidos por imprecações e elogios, segundo a proximidade ou distância da condição humana pela qual cada um é declarado inocente ou culpado. Se você tem, está mais próximo de uma humanidade divina que Deus designou para os poucos santos e redimidos. Se você não tem, então servirá com seu corpo e sua alma de repasto ao príncipe das trevas. É uma loteria. Muitos perdem, ninguém ganha.

Para o personagem do pai da protagonista, no filme de Lars Von Trier, a segurança vem da razão. Não é capaz de ver que a razão começa com a razão. Bem depois da vida, da morte e de todos os mistérios…

Já a protagonista, essa quer preencher todos os buracos de seu corpo. Com os atributos do corpo masculino, de muitos corpos, de muitos homens. Haja pênis, dedos e línguas para tantos buracos.

Nessa tríade de personagens, onde uns são mais irreais do que os outros, é Rachel Sherazade que é a mais plausível, comum e inverossímil. Que sua filosofia não vai tapar nem um buraco é tão real quanto o fato de que, quando mais falar, mais vai dizer de seu próprio vácuo interior. Isso não é feio. É humano. Desumano é ela, e muitos (a maioria de nós) desejarem preencher seus buracos com a carne, o sangue, os corpos e a alma de seus semelhantes.

O curso biológico do corpo de Biber, Sherazade, do meu e do seu será o mesmo. Entre o início e o fim é que está o inferno. Ou o céu.

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=at89CynMNIg

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=EDBIirfsj78
 

Esse post é fruto de uma seminal provocação do querido Erasmo. Ele trouxe o assunto de forma brilhante. Então eu disparei um comentário, visceral e escatológico, refletindo uma leitura do filme "Ninfomaníaca" de Lars Von Trier, elaborada na fina escrita de Eliane Brum

Com esta pequena cartografia do olhar (que provoca o pensamento) e de sua impressão expressa na escrita, pretendo contestar o elogio que o Erasmo faz ao meu comentário em seu post.

Minhas ideias são costuras de apanhados que meu olhar, astuto talvez, tem me permitido cerzir. São retalhos de muitos pensamentos que em meu texto aparecem como um tecido liso, fruto de um único tear. Parece, mas não é. Meu texto não existiria sem diálogo e intercessão. 

Não sou sem eros. Sem era-mos. Então, este que escreve também não é sem Erasmo.