APOIO PAIDÉIA

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O texto de Gastão Wagner Souza Campos, datado de 2001/2003, sob o título Paidéia e a Gestão: Indicações Metodológicas Sobre o Apoio, trata de “uma postura metodológica que busca reformular os tradicionais mecanismos de gestão” não no sentido de substituir modelos gerenciais existentes e sim como complemento para que a coordenação, planejamento, supervisão e avaliação do trabalho em equipe seja realizada com o envolvimento de todos os atores sociais, ainda que com distintos graus de saber e poder.

Para que haja esta inteiração, ou sinergia de ações, é necessário que o Apoio Paidéia conduza os envolvidos à compreensão da tríplice finalidade do trabalho:  1)a produção de bens de consumo e serviços para o outro (pessoas externas à organização);  2) a reprodução ampliada da organização e 3) a interferência que a ação (produto) provocará no social e no subjetivo (modo de ser e proceder) dos trabalhadores e usuários. É no âmbito da coesão dessas três finalidades que o Apoio Paidéia interfere, introduzindo formas democráticas para coordenar e planejar o trabalho levando em conta a experiência, o desejo e o interesse dos sujeitos envolvidos, instalando uma forma de cogestão na instituição.

Desta forma o efeito Paidéia provoca um “processo social e subjetivo onde as pessoas ampliam a capacidade de buscar informações, de interpretá-las, buscando compreenderem-se a si mesmas, aos outros e ao contexto, aumentando, em consequência, a possibilidade de agir sobre estas relações.” Este agir se consolida por três formas básicas: as  práticas sociais,  a política e  a gestão de coletivos organizados, onde a micro e macro dimensões sociais são representadas respectivamente pelas práticas sociais e a política e a gestão  como um modo de mediar as duas dimensões sociais.

O método Paidéia aplica-se na política do movimento, onde se busca a composição de interesses e de projetos, cabendo à metodologia Paidéia evitar a guerra de posições e criar mecanismos para que os conflitos se expressem, mas ao mesmo tempo intervindo para que se estabeleçam contratos e compromissos entre os envolvidos, para que o conflito seja solucionado de forma consciente, tendo como base a experiência seja ela coletiva ou subjetiva.

A metodologia Paidéia considera que o controle social sobre as pessoas se dá através da produção contínua e interativa de afetos (subjetividade, religião e arte), conhecimento (pedagogia, meios de comunicação, informática, propaganda) e o poder (políticas e modos de operar) e essas três dimensões atuam na realidade de forma conjugada e não podem se separar, muito menos quando o objetivo é a  constituição de novos sujeitos, novas instituições e novas necessidades sociais. Estes três elementos (afeto, conhecimento e poder), agem em sinergia, quando uma dimensão está no foco, as outras duas atuam no seu campo de força e não podem ser desconsideradas.

Desta forma a técnica (conhecimento) não pode subjugar o poder e o afeto e nem o afeto pode se sobrepor ao conhecimento e ao poder, da mesma forma o poder não pode eximir os outros dois elementos. Há de se considerar nas relações de trabalho a construção da cidadania e da democracia. Esta é a função da metodologia Paidéia,  instigar os atores a agirem ora com o conhecimento técnico (a ciência), ora o afeto (a subjetividade), ora o poder (estratégias e políticas) agindo harmonicamente, dentro da legalidade e produzindo sujeitos pensantes, capazes de analisar a si mesmo, às situações e o contexto ao qual está inserido.

Na sequência o ator lista nove recursos metodológicos úteis à função do Apoio Paidéia que possibilitarão que a Metodologia Paidéia seja estabelecida:
1) Construção de Rodas;
2) Incluir as relações de poder, de afeto e a circulação de conhecimentos em análise;
3) Trazer para o trabalho de coordenação, planejamento, supervisão e avaliação a lógica da tríplice finalidade das organizações;
4) Trabalhar com uma metodologia dialética que traga Ofertas externas e que ao mesmo tempo valorize as Demandas do grupo;
5) Apoiar o grupo tanto para construir Objetos de investimento, quanto para compor compromissos e contratos com outros;
6) Pensar e fazer junto com as pessoas e não em lugar delas;
7) Ampliar o espaço onde se aplica o Método;
8) Autorizar os grupos a exercer a crítica-generosa e a desejar mudanças;
9) Autorizar-se a ser agente direto e não somente apoiador de equipes.

Por fim, diz o autor, “todo Apoiador minimamente sábio descobre que somente se consegue apoiar quando nos autorizamos a sermos apoiados pelo grupo a quem pretendemos ajudar. Um bom dirigente dirige e é dirigido, comanda e é comandado por aqueles com quem trabalha.”

Podemos perceber,  nesse modelo de cogestão, o interesse em construir a cidadania e a democracia nas relações de trabalho, sem deixar de mencionar a construção do homem como homem (humanização), haja vista o trabalho e o bem produzido irão repercutir  nos demais seguimentos da vida e vice e versa. 

Para que a metodologia Paidéia seja efetivada na equipe o Apoiador deve ter  como objetivo, entre outros,  coordenar as rodas, instigar o homem a pensar por si, introduzir valores de cidadania através do debate das situações de conflitos, fazendo com que o homem/cidadão (inclusive ele próprio) exerça seus direitos e ao mesmo tempo entenda suas obrigações como parte da instituição que, ora oferta bens de consumo ou serviços a terceiros que também são homens/cidadãos. Essa compreensão homem/cidadania  deve ir  muito além dos trabalhadores e dos usuários,  deve atingir as  pessoas que estão no “topo” (gestão) das organizações.

No caso dos gestores, estes também como entes sociais que participam do desenvolvimento do trabalho, a eles cabe, não  apenas exercer a função de poder, ordenando, cobrando e avaliando sozinhos, mas em equipe, junto com o todo e ao mesmo tempo, aprendendo com o próximo, ouvindo e também expressando pareceres, assumindo compromissos e instituindo contratos para com os liderados . A instituição é uma equipe, onde todos trabalham para o bem comum e cabe aos atores envolvidos entender que não existe cidadania sem participação e sem cidadania não há democracia. Todos os envolvidos devem entender que cada um tem dever de cumprir com o papel a si designado, ora isoladamente, ora em grupos, porém sempre em equipes.

Entende-se, por fim que  a sinergia entre os saberes, poderes e afetos faz despontar  a realidade local, quebra paradigmas e, consequentemente, promove a recomposição de divisões e paradoxos, constituindo o sujeito cidadão e a instituição democrática de fato e de direito, mediando as relações de trabalho e destruindo conceitos  hegemônicos de gestão através da inserção  da cogestão e da corresponsabilidade nestas relações.

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