Oficina pela mente e pelo lixo: intervenção lúdica com pacientes mentais e conscientização sobre o lixo

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I-Introdução

Esta intervenção foi realizada durante o Internato de Saúde Coletiva do Curso de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, desenvolvida pelos doutorandos Gabriel Sales Lima de Carvalho, Meline Sousa Carvalho e Tiago Dias Rodrigues Leão do 9º período, realizada na Unidade Básica de Saúde de Cidade das Rosas, no município São Gonçalo – Grande Natal/Rio Grande do Norte (RN), coordenado pela profª. Ana Tania Lopes Sampaio, sob a tutoria da Profª Vyna Leite, preceptoria da médica Dra. Rosângela Correia e da Enfermeira Aline.

A escolha do tema decorreu do diagnóstico social alcançado durante o processo de territorialização e visita domiciliar e das principais queixas explicitadas na roda de co-gestão. Desse modo, foram contemplados, respectivamente, a saúde mental/sofrimento psíquico e a poluição das ruas pelo lixo.

•Objetivo Geral:

Formar um grupo comunitário de apoio psicossocial por meio do desenvolvimento de atividades lúdicas com material reciclável.

•Objetivos Específicos:

1.Dar início a um grupo comunitário que espera-se perpetuar;

2.Melhorar o painel de saúde mental e sofrimento psíquico da comunidade;

3.Convidar pessoalmente os pacientes cadastrados em saúde mental para participação no grupo;

4.Conscientizar sobre o correto destino do lixo;

5.Recolher material reciclável para utilizar em oficina de artesanato;

6.Desenvolver oficina de trabalho manual com material reciclável na reunião inaugural do grupo criado;

7.Dialogar com os participantes sobre questões ambientais envolvendo o descarte do lixo na comunidade;

8.Dialogar sobre saúde mental e as vantagens de atividades lúdicas em seu manejo;

9.Orientar sobre onde e como buscar apoio psicossocial de profissionais habilitados na rede atenção a saúde de São Gonçalo do Amarante.

II-Metodologia

O Planejamento:

A esquematização da intervenção teve início logo após realizada a roda de co-gestão, quando foi definido o tema a ser abordado e foram traçados os esboços primários que se tornariam a intervenção.

Planejou-se, ainda naquele mesmo dia, uma forma prática de atender às diversas demandas da comunidade: fundar um grupo comunitário de apoio psicossocial por meio de desenvolvimento de atividade lúdicas, no qual, em sua reunião inaugural, seriam abordados temas sobre reciclagem e destino do lixo, além de realizada uma oficina de artesanato com material reciclado.

Também foi programada uma sessão de alongamentos e aquecimento com educador físico local a ser realizada antes da oficina.

O apoio da líder comunitária (Dona Edineide) foi fundamental no processo formativo da intervenção. A própria líder se dispôs a auxiliar na intervenção pelo fato de ser artesã e professora de artesanato.

Atendendo a outra demanda da comunidade percebida durante a roda de co-gestão, planejou-se criar um mural em local estrategicamente bem visualizado da UBS que possibilitasse que os próprios cidadãos expusessem avisos ou outras informações (grupos de capoeira, aula de reforço, reuniões comunitárias, etc), pois antes não conseguiam veicular tais informações.

Os Preparativos:

Foi criado cartaz e afixado na UBS para a divulgação da intervenção com 7 dias de antecedência.

Dois dias completos de trabalho em campo foram necessários para que se coletasse o material a ser utilizado na oficina de artesanato e para que fosse feito de forma oportuna o convite pessoal aos pacientes de saúde mental para participação da reunião inaugural.

Foram abrangidas as duas microáreas adscritas da UBS, contemplando todos os pacientes de saúde mental desses territórios que se encontravam em casa nos dois momentos de campo. Além disso, coletou-se material no comércio local e também foi feita divulgação da intervenção para transeuntes.

Uma pesquisa sobre coleta seletiva e correto destino do lixo foi realizada para que se embasasse de forma teórica e científica a conversa com os participantes no momento da intervenção. Da mesma forma, foi obtido cartaz sobre coleta seletiva e o mesmo foi afixado no local da intervenção e, a posteriori, em mural da UBS.

De forma análoga ao fundamento teórico obtido sobre lixo, foi feita uma pesquisa sobre a relação entre saúde mental e atividade lúdicas, em especial o artesanato. Os resultados encontrados foram utilizados na aplicação de nossas ações e em especial nas conversas com os participantes decorridas durante toda a oficina de artesanato.

Com 01 dia de antecedência foi  organizado lanche coletivo com frutas, sucos e biscoitos para o dia da intervenção. Também foi feita compra de material como cartolina, tinta, cola, tesoura e pincéis para viabilizar a oficina.

Além do convite pessoal na comunidade, foi feito o contato via telefone com educadora física, dona de estabelecimento local, que se dispôs a ajudar na intervenção.

Ainda via telefone, foi tentado contato, sem sucesso, com o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de São Gonçalo do Amarante, de onde pretendia-se obter ajuda pessoal (psicólogo, assistente social, etc) no dia da intervenção. Apesar de não ter obtido sucesso nesse aspecto, a intervenção não foi prejudicada, de modo que continuou como um objetivo específico orientar a todos sobre como e onde obter apoio psicossocial na atual rede de saúde.

A Intervenção:

Um roteiro de ações foi criado e seguido de forma a organizar a logística das etapas. De início, foi feito um acolhimento a todos os que estavam presentes no ambiente do centro comunitário, onde se decorreu a intervenção. Todos foram convidados a participar de qualquer um dos momentos (conversa sobre saúde mental e lixo, sessão de alongamentos, oficina de artesanato e lanche coletivo). Explicou-se que a finalidade daquele momento foi fundar um grupo comunitário de apoio psicossocial por meio de atividades lúdicas e que intencionava-se perpetuar, com a ajuda dos participantes, aquele grupo.

Planejou-se iniciar a conversa sobre lixo de modo expositivo, fundamentado no material teórico obtido em pesquisa, mas de forma que se instigasse uma retórica por parte dos presentes, de modo que a conversa se tornasse dinâmica. Ainda na temática do lixo, tomar-se-ia o vínculo com reciclagem de materiais e terapia manual em pacientes de saúde mental, iniciando, a partir desse momento, a conversa sobre sofrimento psíquico, também fundamentado nos dados de pesquisa prévia.

Em seguimento da sequência planejada das ações, a sessão de alongamentos e aquecimento com educadora física local tomou posição e, logo em seguida, a oficina de artesanato com o material coletado em campo.

De modo a harmonizar o ambiente de trabalho, foi utilizada música ambiente e o lanche coletivo foi disponibilizado.

III-Resultados

A maior parte dos participantes foi de pessoas que estavam presentes no centro comunitário no momento do início e aceitaram o convite de participar. Também tivemos presença de paciente de sofrimento psíquico, que no primeiro momento mostrou-se resistente a permanecer durante toda a atividade alegando dor de cabeça, mas com o decorrer das atividades se mostrou envolvida e permaneceu até o último momento.

Todos os presentes se mostraram interessados em que o grupo fosse mantido e alegaram que convidariam vizinhos e familiares a participar em um próximo momento.

As conversas sobre lixo e saúde mental foram bastante eficazes no sentido de modificar o ponto de vista de todos os presentes sobre a responsabilidade que se deve ter com o próprio lixo e as possibilidades que ele abre em se poder trabalhar de forma a aliviar as tensões da mente e ajudar o meio ambiente.

Foram produzidos acessórios de mesa em garrafa plástica e rolos de papelão, máscaras de carnaval em papelão, quadro de pintura em papelão e uma nova caixa de sugestões para a UBS.

Ainda no tocante do material produzido com a intervenção e que permanecerá na UBS, encontra-se o espaço destinado ao quadro de avisos da comunidade, onde já foi afixada informação sobre coleta seletiva.