Distrito 9: Uma reflexão sobre as (in)signicâncias do humano.

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Pois é. Ontem fui ver "Distrito 9" e tive essa sensação com relação aos mundos possíveis que surgem de nosso olhar. Sim. São mundos, em parte gestados no complexo de produção (direção, roteiro, atores etc) mas, mais ainda, em nosso próprio olhar. Munido que está de todos os recursos singulares que nos definem. Senti que aquilo que achamos ser tão absoluto, nossa identidade, é apenas a superfície das profundezas existenciais que partilhamos com toda a forma de vida que nos precede e sucederá neste mundo.

Ainda estou tomado pelas imagens viscerais de um filme que nos propõe olhar para o ser extraterrestre da mesma forma como vemos "nossos outros" daqui mesmo deste planeta.

Primeiro, os povos do terceiro mundo, negros, pobres e desumanizados, pelo significado que transportam dentro de uma cultura de eleitos e condenados a priori. Em segundo, pelo outro que como nós é um ser vivo, o camarão.

Na apaixonada recusa do outro, encontrei a negação de si mesmo e da vida. De outro lado, a aceitação do outro, como parceiro na jornada existencial aparece em sua forma mais magnífica. A luta para preservar a si mesmo e a aos seus levada ao linite máximo: Recusar a si mesmo, e aceitar o outro como a única forma de redenção possível.

A forma hibrida, que ao ser produzida bio-geneticamente, parece apenas refletir um hibridismo fundamental e ancestral que nos liga a outros mais distantes na forma, mas muito mais próximos em termos de tempo sob o sol e em cima da terra.

Partilhamos algo de íntimo com os seres mais distantes na forma existencial: seres que são "outros" na forma, mas que são "nós" na teia existencial em que estamos inseridos.

Os insetos, os artrópodes, os peixes e toda a infinidade de seres "não nós", não mamíferos, não primatas, nos facinam, por que, como irmãos na condição de seres vivos e parceiros de ocupação da terra que nos nutre, eles nos ligam aos que já tiveram seu tempo e não o partilharam conosco: As milhares de espécies que existiram e sumiram antes de nós, animais humanos. Intuímos que nosso tempo irá passar e ansiamos por outros que contem nossa história aos que virão.

Nós – que deliramos ser o supra sumo da criação – vamos vendo, dia após dia que somos a casquinha fina de um longo processo existencial neste mundo e a rapa de uma longa linhagem de seres que habitaram e habitarão a galáxia.

No filme, milhares de ETs, abandonados a deriva em nossa atmosfera, perderam misteriosamente seus líderes e suas razões de ser: eram os operários de alguma outra cultura, que tendo sido alienados em sua sociedade, estão livres para novas alienações em nosso planeta.

São acolhidos e, paradoxalmente, aviltados por nós. De um outro mundo hospedamos um outro tipo de ser vivo e nos deparamos com o confronto com os exessos de nós mesmos. Nosso amor e nosso ódio pelo outro são sempre, ao mesmo tempo, amores e ódios por nós mesmos…