TRABALHO E REDES DE SAÚDE

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O trabalho em saúde se dá a partir de encontros entre trabalhadores e desses com
os usuários, isto é, são fluxos permanentes entre sujeitos, e esses fluxos são operativos,
políticos, comunicacionais, simbólicos, subjetivos e formam uma intricada rede de
relações a partir da qual os produtos referentes ao cuidado ganham materialidade e
condições de consumo. A imanência das redes nesse processo traz a idéia de pertença,
isto é, os trabalhadores pertencem uns aos outros enquanto equipe que opera mesmo
que na informalidade; pertencem também a uma rede maior que faz fluxos-conectivos
com outras equipes e unidades de saúde e tem suas conexões expandidas para o
território da área da unidade ou equipe e o domicílio do usuário.
Para verificarmos essa afirmativa, basta observarmos o trabalho de qualquer
profissional em um serviço de saúde, tomando como exemplo uma equipe de saúde da
família (ESF), verificamos que há conexões em diferentes direções, que podem vir do
agente comunitário de saúde no domicílio, que faz vínculo com a família e fluxos com
entidades da comunidade e ainda se conecta à equipe de saúde; assim como podem vir
de qualquer trabalhador da equipe ou mesmo dos usuários. Se o profissional da equipe
identifica um problema de saúde, ele tem condições de disparar um projeto terapêutico, e
vai a partir dele multiplicar sua rede rizomática nos processos de trabalho que virão em
seguida, com outros profissionais ou mesmo outros serviços de saúde, sendo essas
relações locais ou à distância, pactuadas ou não é fato que elas existem e operam para a
produção do cuidado. Em uma UBS ou ESF que tenha o acolhimento como diretriz do
processo de trabalho, a equipe de acolhimento faz rizoma com todos os trabalhadores da
unidade de saúde, isto é, ela opera múltiplas conexões nas micro-unidades de cuidado,
onde há o encontro entre o usuário e o trabalhador, se formam redes com alta capacidade
conectiva entre si mesmo e para outras instâncias do amplo cenário de produção.
A idéia de integralidade nos serviços de saúde, amplamente discutida nas
coletâneas organizadas por Pinheiro e Mattos (2001, 2003), pressupõe processos em
rede para sua efetivação. Pinheiro sugere que a integralidade se realiza como produto da
ação social, em dois planos, a saber: “plano individual – onde se constroem a
integralidade no ato da atenção individual e o plano sistêmico – onde se garante a
integralidade das ações na rede de serviços” (PINHEIRO, 2001, p. 65). Concordando com
a afirmativa, entendemos que pode haver uma rede que integra os diversos serviços de
saúde e uma outra operando na atenção individual. Esta, quando vista sob o critério da
micropolítica do processo de trabalho, revela atos sincronizados de trabalhadores em
relação entre si e com o usuário, configurando nesse cenário uma microrrede de alta

potência para o cuidado