Tratado de Antropologia Visual

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Esse vídeo é um verdadeiro tratado de antropologia visual, dos jornalistas da Folha de S.Paulo. Ao verem a câmera e o microfone ligados, parece que os VIPs não resistiram a tentação. Eles soltaram a voz na busca desesperada de uma escuta. Mas não é qualquer coisa que estão dizendo, nem é qualquer escuta que será capaz de dar continência a profundidade desses lamentos.

Os depoimentos demonstram a inutilidade do dinheiro, e dos adereços de consumo que deveriam demarcar o limite a partir do qual, o ter significaria ser feliz. A marca, a grife e o produto "exclusivo" aparecem em todas as falas como signos de falta. 

E, curiosamente, a frustração não explicitada é a da constatação de terem sido enganados: satisfação garantida, ou seu dinheiro de volta! Não importa o quanto o serviço e a exclusividade fossem garantidas, não há satisfação que dure no consumo. E nunca, o dinheiro volta.

A inclusão é virada ao avesso. Quanto mais exclusivo e seleto o signo do pertencimento, mais tristeza e frustração. A perda da condição comum, por mais desejada que seja, aparece como um roteiro para o niilismo, uma via-crúcis do desespero.

É claro, que essa ilusão não é privilégio dos abastados. Todos, em certa medida, perseguimos a ilusão do consumo. Vivemos como maquinas desejantes, em busca de satisfação, como um motor aspira e consome combustível. Mas somos mais que máquinas. E nossos desejos dobram-se sobre eles mesmos e nem os esquemas do mega esquema capitalista podem satisfazer desejos, ainda que possam estimulá-los.

A Riqueza da Humanidade é o resultado de um empreendimento civilizatório que vem de milênios de aprendizados e sacrifícios das gerações passadas, em benefício das futuras. Ter água encanada e alimentos suficientes para as populações, nas proporções de grandeza atual, não é efeito do suor ou talento de qualquer um individualmente. Na essência, todos os merecimentos são coletivos.

Qualquer riqueza individual, além de ser inútil, como podemos ver no vídeo da Folha de São Paulo, é uma forma de expropriação de recursos que nenhum ser humano poderia prover para si mesmo sem o esforço dos outros… No passado, ou atualmente.

A felicidade, ou os momentos felizes, não são mercadorias ou serviços. É por ser mais simples e mais complexa do que os objetos que ela não pode ser comprada.