Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes. Um olhar Freiriano em tempos de Narciso.

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Sabido, pois que Narciso, tal qual dotado de incandescente beleza, de sua torpe fugacidade em refletir-se no espelho, imagem que entorpece aos olhos atentos manifestos ao encontro cataclísmico com esse deus, não permitira beleza igual, narciso era único, era incontestavelmente perturbador. Narciso perplexo deixa-se trair pela voz que ecoa, inquietando-lhe, ele enamora-se, percebendo pela reflexão que não era o único, mas que encantava-lhe aquele espelho, decaído, mergulha para um sono profundo motivando-lhe para o fim.

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Mas quantos Narcisos permanecem ainda vivos, latentes, resvalados pelas relações torpes, refletidos em si mesmos, sem encontrar eco nos outros, traídos pela inconsistência dos seus egos, seus eus, inflamados e diabolizados por entre o cotidiano?

Lembro, desta feita, de uma situação nada inusitada há tempos, quando uma médica impossibilitada de fazer as ditas prescrições, solicitou auxílio de um outro profissional de saúde para transcrever o que fora ditado por ela, já em princípio, vislumbrei o modo nada ético, ou que denote a privacidade naquele cenário, visto que um terceiro elemento tomava ciência, mas claro, era necessário, não fosse pois, que se devesse pedir a permissão do usuário para tal companhia, o que não havia ocorrido, ferindo um dos princípios básicos, a autonomia e o direito de ir e vir de cada um de nós. Num dos momentos, lembro, pois eu lá estava,  fato, que deveras  incomodado, pois era uma situação complicada, ser participante e ouvinte de tantas queixas, uma das usuárias manifestou o desejo e pediu para fazer uma ENDOSCOPIA DIGESTIVA, quão surpresa, quando a Narcísica médica dissera: Aqui quem decide sou eu o quê você deve ou não fazer, a médica aqui sou eu, não vou passar endoscopia nenhuma, vocês tem que parar de dar uma de médico e criar os próprios diagnósticos.

Eu, com minha aparência pouco agradável, não detenho a beleza, desses "Narcisos", num franzir de testas, não cria no que aquele eco pronunciava, céus, de fato escutara aquela forma soberana e arrogante de tratar o outro que já se mantinha numa condição inferiorizada tendo que compartilhar as agruras com mais uma pessoa sem ao menos  ser perguntada se queria estar naquela situação confusa.

Enfim…

Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão. Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade.Conhecer é tarefa de sujeitos, não de objetos. E é como sujeito e somente enquanto sujeito, que o homem pode realmente conhecer. A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.

 

Que bom que Freire não era Narcisista…

Pensemos sobre nossas relações e sobre as relações opressoras!