A violência na escola: os rumos da educação

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Dia destes, manhã bem cedo, estava tomando café numa padaria qualquer. Televisão ligada no Jornal da Rede Globo, como não poderia deixar de ser. A notícia que fixava todos os olhares na telinha, inclusive o meu (como esse negócio pega a gente!) era sobre violência nas escolas. Alguma coisa sobre alunos “vândalos” que, cada vez mais freqüente, têm praticado a destruição das escolas públicas; fisicamente quero dizer, porque funcionalmente não foram eles, pelo menos sozinhos! Não faltou na matéria a violência destes alunos contra seus professores (Não lembro se falaram também da violência dos professores contra estes mesmos alunos, que insistem em lhes enfiar goela a baixo um monte de lixo desnecessário. Acho que não! Mas, isso é outra coisa e não tem nada a haver com a precedente). Do meu lado, dois rapazes, que bem pareciam paladinos da justiça e da moral, decretavam que a solução era “baixar o pau” nestes vândalos, que a escola já não era mais a mesma e era preciso energia para resolver este problema, que na verdade era mais de policia do que de educação.

 

            Que a escola não é mais a mesma, nosso heróis justiceiros até que tinham razão. Agora, onde é que esta o problema de fato? Não me parece ser coisa de policia. Mas, nem tampouco de educação. A questão é: para que serve a escola? A escola tem menos a função de educação (aqui educação no sentido mais restrito: saber tecnológico etc.) do que “tornar dóceis os corpos para sua utilidade social” (Foucault, Deleuze e Guattari etc.).  

            Ora, neste sentido, a escola pública perdeu de fato sua função. Com a passagem de uma sociedade de regime disciplinar para o aspecto do controle, a escola privada refinou seus mecanismos, redefiniu seus fluxos, encontrou sua maneira de tornar aptos seus pupilos à nova maneira social de agir, adequando-os às exigências da maneira como o capital vem sobrecodificando as nossas vidas. Isto não ocorreu com a escola pública. Afinal, o que fazer com as “classes menos favorecidas” (esses eufemismos me matam!)? Como sobrecodificalas? Como incluí-las, tornando-as úteis socialmente, mas sem deixar de dizer que em algum momento elas serão descartadas do sistema e terão de se conformar com isso?

            Esta é a hora do ensino público. Eis ai a ruptura para a invenção de uma nova educação. Romper com um processo educativo que produz dependência, tristeza e só reproduz miséria. Oportunidade para a criação de uma educação potente, que crie linha de autonomia e de potência. Que invista no pensamento.

            Mas, o perigo é iminente. As forças despóticas de plantão estão sempre prontas a capturar e sobrecodificar tudo. Se não nos esforçarmos, se não habitarmos estas linhas criativas, logo o modelo do privado (que afinal funciona tão bem! – só precisa ver a que preço?) se instalará em tudo. O único consolo, então, é que, talvez, a polícia saia da escola.

Altair Massaro