Excesso de cesarianas e suas possíveis causas

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O Brasil é o campeão mundial na realização de cesarianas, e este é um problema multifatorial. Houve a preocupação com as condições dos nascimentos, por volta dos anos 60, que levaram à migração em massa das gestantes às maternidades. O parto num centro hospitalar, segundo o pesquisador Michel Odent, já é em si uma intervenção desnecessária que atrapalha o processo do nascimento. A mulher perderia o seu ponto de referência, o aconhego do seu lar, e ficaria mais ansiosa do que o necessário. Essa ansiedade é comprovadamente prejudicial para o trabalho de parto, causando o que é conhecido como "distócia emocional", que pode inclusive paralisar o processo, exigindo a intervenção final para salvar o bebê: a cesárea.

Houve a crença, desde o século 18, de que a maneira correta de parir era na posição horizontal. Reza a lenda que um rei francÊs, fascinado pelo nascimento de um filho, exigiu que suas esposas parissem deitadas para que ele pudesse ver melhor o momento, já que de cócoras, uma das posições mais populares para parir até então, dificultava a visão. Ao que parece, depois disso, muitas mulheres "adotaram" o modelo, já que era assim que as rainhas pariam. Novamente, a intervenção desnecessária provocaria uma série de consequências, como maior dor e ansiedade.

Houve o fato de que, por muito tempo, os profissionais designados a atender às gestantes no momento do parto agiam, a grosso modo, por achismos. Muitos viram bebês nascerem sem vida, com um cordão enrolado, e assumiram que essa havia sido a razão do seu óbito. Muitas das práticas realizadas hoje em dia de rotina foram protocoladas, na verdade, sem nunca terem sido testadas pela sua eficácia, e sem terem sido estudadas os seus efeitos colaterais.

Houve a medida que a Agência Nacional de Saúde (ANS) tomou nos anos 70 que estipulava a presença do médico na sala de parto. Até então, os médicos só eram chamados nas emergências, e quem atendia as gestantes eram as enfermeiras ou parteiras. A medida pode ter sido tomada porque os médicos recebiam por cada parto que acompanhavam, e portanto era preciso garantir que o médico estivesse realmente atendendo partos, em vez de apenas assinando papeis. Esta medida pode ter sido decisiva na perpetuação da ideia de que o parto é um ato médico, e não um evento fisiológico.

Houve ainda a falta de fiscalização da ANS quanto aos valores pagos aos profissionais que atendiam partos, fazendo com que estes valores se aproximassem muito, tornando a realização de uma cesariana eletiva algo mais lucrativo para o médico.

O modelo obstétrico atual desvaloriza o nascimento natural e a criação com apego, e vários estudos vêm mostrando que essa desvalorização está trazendo consequências negativas à população. A cesariana, seja ela necessária ou não, está ligada a uma maior tendência à aquisição de doenças crônicas, riscos de infecção hospitalar ou do corte da cirurgia, de atrapalhar na amamentação, de causar um pós-parto sofrido com direito a depressão, baixa auto-estima na mãe e agressividade na criança.