RHS: 7 anos conectando o Movimento HumanizaSUS!

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(Imagem da Apoiadora Carolina Santos da Silva – Passo Fundo,RS, -UFRGS,PA)

Hoje, 22 de fevereiro de 2015, a Rede Humanizasus (RHS) completa 7 anos de existência, tendo se consolidado como uma ágora eletrônica, espaço público e gratuito, aberto à participação de qualquer “cibercidadão”, conectando uma considerável rede nacional de trabalhadores, gestores, apoiadores, pesquisadores e, cada vez mais, usuários do SUS.

Nesta data, além de comemorar, também cabe falar brevemente do que tem se produzido por aqui, segundo um certo olhar (focado principalmente em seu papel como dispositivo de uma política pública) que, é claro, nem de longe abrange toda sua riqueza. Seria preciso ainda revisitar os inúmeros posts publicados na própria RHS, cujos autores, generosamente, compartilharam suas reflexões sobre os significados dessa experiência de socialização de conhecimentos e afetos.

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A Rede Humanizasus (RHS) é uma experiência única e bem sucedida de uso de ferramentas colaborativas e das redes sociais como dispositivo de uma política pública (Política Nacional de Humanização – PNH).

Os usos que têm sido inventados deste espaço são múltiplos, mas algumas características gerais muito marcantes foram se delineando ao longo desses anos. Algumas destas características representam traços muito singulares da experiência RHS, do que tem sido possível experimentar com este dispositivo.

Destacaremos, a seguir, três dessas características, que nos parecem indicar importantes potencialidades deste dispositivo e que podem representar uma grande contribuição para o alcance de alguns dos principais objetivos estratégicos atuais da PNH e do Ministério da Saúde (MS).

A primeira característica da RHS que a singulariza perante outras experiências de redes colaborativas/sociais é a sua história: nasce no seio de uma política pública, em estreita articulação com alguns dos movimentos mais importantes da PNH, mas realizando uma abertura radical ao “fora” dessa política (o que expande, potencializa e ressignifica seu caráter público). Ou seja, ainda que proposta e patrocinada por uma política pública, a ela se articulando e dela dependendo, a RHS acabou se constituindo, sob vários aspectos, numa “zona autônoma”, numa comunidade de compartilhamento de experiências de “humanização” (relacionadas à saúde num sentido muito livremente amplo), que guarda uma relativa independência em relação às propostas mais estritas da PNH. Em outras palavras, deu-se, efetivamente, uma apropriação pública da RHS, que permite caracterizá-la como uma ágora, como um espaço de conversação e de diálogo qualificado, enfim, como invenção democrática de um “espaço público” extremamente original e singular.

O segundo traço marcante e que dá a “cara” da RHS é o que pode ser adequadamente chamado de seu ethos comunicacional. É, sem dúvida, um traço muito notável da experiência RHS, assinalada por muitos usuários ao primeiro contato com a Rede, essa sustentação coletiva de um modus conversandi extremamente acolhedor e favorável à produção de bons encontros. Uma predisposição coletiva a incluir e compartilhar, uma estética do respeito mútuo, uma política da amizade e da camaradagem e que, talvez, seja um importante elemento constituinte dessa "coisa pública não-identificada" (res publica inexplicata) que tem sido produzida, um comum que foi se inventando como uma espécie de "regime afetivo" próprio da RHS, e que é, sem dúvida, uma das grandes contribuições que tem a dar, tanto para a constituição de zonas de alta potência de ação coletiva (“redes quentes”), quanto para a conformação de uma espécie de "cultura democrática do SUS" na web.

Há ainda um terceiro traço bastante singular da experiência RHS que merece ser destacado no presente contexto. Corresponde a um dos vários usos que foram sendo inventados para as ferramentas colaborativas (certamente, favorecido pelo “regime afetivo”, pelo ethos comunicacional referido acima), consistindo no compartilhamento de experimentações, invenções, diferentes formas de criação e resistência, problemas, desafios, dúvidas, angústias vividas por trabalhadores, gestores, apoiadores e usuários do SUS, que se abrem, assim, à co-laboração pública e que, efetivamente, “se matriciam” nesse processo de discussão coletiva e aberta dos “casos”.

Há um amplo reconhecimento, hoje, de que o desempenho das redes de trabalho em saúde é estreitamente dependente de seu componente conversacional e de produção afetiva. Há também bons indícios, colhidos na literatura especializada e na própria experiência da RHS, de que a participação em uma rede colaborativa/social temática aberta na web pode ter – através de mediações que precisamos e pretendemos conhecer melhor – um impacto importante no desempenho das redes de trabalho em saúde.
Nesse sentido, considerando apenas um dos dispositivos hoje propostos na busca de qualificação do trabalho em saúde e, em particular, na Atenção Primária à Saúde (APS), que é o apoio matricial, pode-se dizer que a RHS tem elementos de uma experimentação de matriciamento aberto em rede colaborativa/social.

Essas três características são bastante expressivas do que constitui e dá força à “experiência RHS”, mas, como disse mais acima, nem de longe esgota o que se passa em torno e a partir desse dispositivo. Ainda mais se considerarmos que ela permanece uma experiência intensamente aberta, que todos os seus usos possíveis ainda não foram inventados.

Continuemos por mais muitos anos a explorar todas as possibilidades que essa plataforma colaborativa nos oferece de ampliar nossa potência de ação coletiva e, assim, fortalecer e aprimorar o SUS, enquanto uma política pública em defesa da vida!