O papel do profissional de saúde sobre o processo de superação dos portadores de transtornos mentais

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Qual o papel dos profissionais de saúde no processo de melhora e auxílio no desenvolvimento de estratégias de superação dos seus pacientes? Que posturas o profissional pode ter, para auxiliar com que o paciente aprenda consigo mesmo e consiga desenvolver projetos pessoais possíveis? Para os profissionais de saúde, a valorização da experiência de autosuperação do portador envolve uma postura mais humanizada de atendimento, que reflete um olhar de valorização sobre as capacidades e potenciais do indivíduo, e não um olhar incapacitante, que foque apenas a doença e sintomas do indivíduo.

Para Chamberlin (1990, 1995) apud Schiff (2004), o recovery teria como princípios o empowerment/ empoderamento, autoajuda e o advocacy. O empowerment envolve a mudança de atitude, passando da condição de passividade para uma postura mais ativa e participativa em sua vida e no tratamento; autoajuda seria um tipo de empowerment através da qual a pessoa encara e interage com o mundo de maneira mais ativa e autogerida e o advocacy envolve uma condição e ação social do portador em prol de seus direitos e reivindicação política.

Nesta condição, o profissional de saúde mental tem um papel importante no empoderamento do portador a fim de que o mesmo aumente sua participação e autonomia. Seguindo as definições apresentadas anteriormente (artigo recovery: uma nova perspectiva para a vida dos portadores de esquizofrenia) pode-se verificar que este processo de autosuperação gera um estado de maior satisfação íntima, pois com o passar do tempo o portador consegue reconhecer, ajustar e adaptar suas limitações e capacidades em suas atividades e interesses, através da realização de projetos de vida possíveis. Neste sentido os profissionais possuem um papel fundamental no auxilio e orientação sobre este processo.

            Conforme Cardoso & Couto (2005) os profissionais de saúde devem criar formas de comunicação e propor estratégias para solucionar as barreiras no percurso do empoderamento do portador. Para Monteiro & Matias (2007) conhecer e valorizar o processo de superação e empoderar o portador propicia uma intervenção mais eficaz e eficiente em termos do bem estar e de inclusão social. Podemos pensar que o processo de inclusão social começa nos consultórios e salas de atendimentos.

            Para os mesmos autores, os profissionais devem proporcionar os melhores contextos e as melhores condições para as pessoas escolherem de acordo com a sua vontade e tomarem as suas próprias decisões e, assim facilitar o recovery. Marsh (1999) o objetivo principal das intervenções profissionais tem de ser o recovery. Neste sentido, Chamberlin (2005) aponta a necessidade dos profissionais romperem posturas paternalistas, saindo do papel de condutores para facilitadores do processo de empoderamento.

Um grupo de portadores em Ohio desenvolveu um conjunto de afirmações para descrever o impacto dos profissionais de saúde mental em seu processo de autosuperação (Ralph, 2000). Estas afirmações estão descritas seguindo o critério do maior para o menor impacto:

– Incentivar meu pensamento independente;
– Tratar-me de uma forma que ajude meu processo de autosuperação;
– Tratar-me como um igual no planejamento de meu tratamento;
– Dar-me liberdade para eu ter meus próprios erros;
– Tratar-me como acreditam ser melhor para moldar meu futuro;
– Me ouvir e acreditar no que eu digo;
– Olhar e reconhecer minhas habilidades;
– Trabalhar comigo para encontrar os recursos ou serviços que eu preciso;
– Estar disponível para falar comigo quando eu precisar falar com alguém;
– Ensinar-me sobre os medicamentos que eu estou tomando;

Neste sentido, levanta-se algumas questões reflexivas para cada profissional de saúde pensar suas intervenções e relações estabelecidas no atendimento:

-Que tipo de relação eu estabeleço com o paciente?
-Percebo que o processo de inclusão social e diminuição do estigma começa em mim, através da relação que estabeleço com o paciente?
-Intervenho na doença ou na vida do paciente?
-Possuo algum preconceito que possa limitar minha intervenção na autonomia do paciente?
-Escuto e atuo como facilitador, auxiliando o paciente a alcançar seus projetos?
-Realizo intervenções para empoderá-lo?
-Reconheço e valorizo o processo de autosuperação do paciente?
-Ajudo o paciente a construir estratégias para seu processo de autosuperação?
-Além do papel de profissional, sou agente de cidadania?

O conhecimento deste tema pode gerar mudanças positivas na maneira como os profissionais entendem e lidam com o transtorno mental de seus pacientes, bem como informar e multiplicar aos portadores o resultado de experiências positivas desenvolvidas por outros portadores/ pesquisadores que já publicaram seus relatos e vivências de autosuperação.