Uma pequena comparação entre a vacinação no SUS e a vacinação em uma clínica particular

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Este relato foi realizado a partir do incentivo da disciplina de Estágio II, no curso de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo.

Durante toda a minha vida, sempre fui usuária de planos de saúde. Foi apenas bem recentemente que eu e minha família fizemos o cartão do SUS. Até então, eu só havia procurado o serviço público de saúde para vacinações, porque este é um serviço para o qual não é necessário haver cadastro.

Há algum tempo atrás, tomei uma vacina antigripal em uma clínica de vacinação particular, pois eu não fazia parte do segmento da sociedade que tem direito à vacina na rede pública. A pessoa que me atendeu, ao olhar o meu cartão de vacinação, informou-me que eu deveria tomar, ainda, outras três vacinas, a anti-tetânica, a anti-meningocócica e a contra Hepatite-A. 

Estranhei um pouco essa indicação, pois eu sempre havia mantido a minha vacinação em dia, e não me parecia correto receber tantas doses de uma vez. Como essas vacinas, na rede privada, são bastante custosas, resolvi procurar uma Unidade de Saúde onde pudesse receber o serviço de graça.

Quando visitei o posto de vacinação próximo à minha casa, pedi à profissional que me atendeu que verificasse no meu cartão se todas aquelas vacinas eram realmente necessárias.

Rapidamente, ela me informou que eu não tomaria nenhuma daquelas doses. A minha vacina anti-tetânica ainda estava ativa, a anti-meningocócica se toma apenas na infância e não são necessárias outras doses, e eu havia recebido as minhas e, por fim, a contra Hepatite-A não é oferecida pelo SUS, pois é uma doença de tratamento relativamente simples.

A profissional comentou que, nos postos de vacinação particulares, não há limites para o que podem empurrar ao cliente. A situação me fez lembrar algumas visitas à farmácias onde já me foram oferecidos complexos vitamínicos que estavam na promoção, com a promessa que faziam bem para tudo, quase como uma garantia de bem-estar, porém, sem preocupação se existia uma real demanda minha por aquele produto.

Esses dois discursos, bastante divergentes, dizem muito da realidade da saúde brasileira. No setor privado, onde prioriza-se o lucro e onde eu fui atendida por toda a minha vida, quantas foram as vezes em que eu fui receitada o tratamento mais lucrativo, e não o mais compatível com a minha real situação?

O SUS permite a existência de  outras formas de cuidar, centradas na recuperação e mantenimento da saúde da população que atende, de forma bastante independente da lógica econômica de mercado. Essa liberdade de criação de práticas me parece a característica mais genial e mantê-la e fortifica-la está nas mãos de todos os usuários.