O Cuidar e a Clínica.

Discutir o cuidado no viés da clínica ampliada é a perspectiva que se espera para o SUS, na qual, todos fazemos clínica e trabalhamos em equipe, guiados pelas necessidades dos usuários 

Quando compartilhamos o post no facebook ou no twitter, a hashtag nos conecta a outros posts semelhantes… No entanto, na RHS não usamos # , pois esta não agrupa no caso, a turma "GSCUnB". O professor Gustavos e/ou os monitores devem lembrar disso. Então, a dica é não utilizar a #… Apenas: GSCUnB

Ok? Você poderia espalhar essa informação na sua turma?

AbraSUS,

Luciane

Coletivo de curadores da rhs

Oi Jerry,

Muito interessante a sua provocação sobre o cuidado, a essência de uma clínica humanizada.

Certa vez, fazendo uma busca sobre o tema, encontrei uma informação interessante sobre a origem do nome Medicina, um termo grego: “medeor”, que significa “aquele que cuida”, o que revela a imanência do cuidado na prática/atenção em saúde.

Penso que o cuidado e a clínica são portanto, indissociáveis, e devem estar presentes em toda linha de atenção. Entretanto, como cuidar de forma transversalizada com outros saberes, superando o modelo biomédico ainda forte, com compromisso ético e político, focando a pessoa em suas múltiplas dimensões subjetivas? Para refletir!

Um abraço!

Emília

Olá, pessoas humanas.

Relutei em entrar no debate desse tema. Isto porque não me sinto seguro o suficiente. Sou taurino e pediatra, portanto, obsessivo. Gosto de me sentir seguro sobre o que pretendo.

Mas, não resisti e faço alguns comentários, com a ressalva de que são provisórios. Provocações.

Vamos lá.

O que se convencionou denominar de Clínica, desde o século XVIII-XIX, corresponde a um olhar sobre o homem. Um olhar singular construído por sobre um triângulo composto pela vida, a doença e a morte, tendo esta última como vértice. A partir da observação da morte os médicos construíram um olhar que, a partir do sentir do indivíduo, o sintoma se quiserem. Tal olhar, portanto, se reduz ao corpo doente do homem e, a partir de um cálculo baseado em similitudes e probabilístico traduz o sentir do homem em um signo: analogia e cálculo. Primeira abstração do sujeito. A clínica reduz o sentir a um sinal, calculado, traduzido para uma linguagem é um julgamento que já não é original do mal.

De posse desse signo, a clínica opera uma segunda abstração utilizando o mesmo procedimento de cálculo. A partir de um conjunto de signos, engendra um quadro. O olhar forja de maneira associativa, um quadro que retém todos os sinais e representa uma nova e definitiva etapa do olhar, um diagnóstico se desejarem. Segunda abstração.

O olhar trespassa o sujeito na construção do quadro. Trespassa e vê o invisível, ou seja, a lesão e/ou a disfunção. O olhar atravessa o corpo do homem doente e lhe aplica duas séries de abstrações. Tudo o que não se enquadra nessa construção é isolado para o espaço do que não é passível de consideração. Tudo que, no sujeito, interfere nesse sistema está lançado para o espaço do não pertencimento.

A partir daí o sujeito está aliado como ele mesmo, ou seja, deixa de ser o corpo de alguém, para ser abstraído no sentido do quadro constituído pelo olhar.

Ora, para a clínica sequer há sujeito. Ele é uma interferência que não cabe no olhar. O sujeito é devidamente transformado em objeto do olhar da clínica. E esse objeto é o corpo – o corpo doente do homem.

Decorre daí que, primeiramente, não podemos confundir a Medicina com a Clínica. Esta última corresponde a um sistema de pensamento datado. Nem sempre foi o sistema que dá sustento à Medicina – essa prática, a um só tempo, técnica e social. E nem é assim em todo lugar; carece de universalidade.

Portanto, para mim, isto é a clínica, aquela que trata o corpo humano doente.

Se desejamos "ampliar" o escopo da Medicina Contemporânea, dirigindo-a para o cuidado, quer dizer, para uma outra prática que não esteja alicerçada na Clínica, conforme a Modernidade a constituiu, precisamos aprofundar o modelo vigente, expor cada vez mais suas contradições, elencará suas fragilidades e, se for o caso e se houver sustentação, propor uma mudança radical, engendrando um outro sistema de pensamento com o nome que se quiser dar.

Tenho lá minhas duvidas a propósito da "ampliação". Ampliar faz sentido se pretendemos incluir outros olhares. Mas penso que isto é pouco. Não se trata de incluir outros olhares, mas de forjar um outro olhar que seja tão potente quanto o da Clínica instaurada no que costumamos denominar de Modernidade e que seja capaz de transformar as abstrações que citei em um olhar para a concretude dos sujeitos, para além de um corpo doente. Tarefa hercúlea de engendrar um outro sistema de pensamento sobre o triângulo  vida-doença-morte.

Continuamos insistindo …

Beijo todos.

Carão.

Oi, pessoas humanas. Olha eu aqui de novo.

Minha intenção foi e é esclarecer, em que pese isto ser algo pretensioso, porque significa, em parte dar a luz, deixar claro, límpido. O que digo é que o construto da Clínica moderna e que deu forma e representação à Medicina Moderna e que nos afeta a todos. O que se propõe como "Clínica Ampliada", para mim, se configura um foco de resistência ao modelo hegemônico na Medicina moderna e contemporânea.

Ora, não penso ser possível efetivar e tornar paradigmática uma nova maneira de pensar algo com o poder da racionalidade da clínica, sem entrar nela mesma. Creio ser fundamental "dissecar" os elementos constitutivos desse sistema de pensamento para identificar as contradições dentro dele mesmo e, a partir daí, escolher estratégias de resistência ao modelo qualificadas e robustas para, quem sabe, modificá-lo em direção ao que se denomina de "ampliação".

Para mim, "ampliar" a clínica corresponde a forjar um novo paradigma construído com os elementos que a Emília traz e que o Gastão formula quando veicula as ideias centrais da "Clínica Ampliada".

Essa ideia é um desejo de todos nós, para promover o cuidado. Contudo, a Clínica na Modernidade foi construída em bases racionais sólidas, difíceis de questionar e modificar. Faz parte da história própria das sociedades ocidentais com pretensões a universalidade. Portanto, há que se procurar focos e estratégias de resistência menos nas proposições de um modelo substitutivo, avaliado como positivo, do que no questionamento do modelo negativo, dentro dele mesmo e das suas contradições. Um duplo exercício, portanto: imprimir práticas que questionem o modelo e expor, sem trégua suas contradições.

Beijo todos.

Carlão.