CURSO PARA CUIDADORES DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA: Demanda social e compromisso do gestor público municipal.

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Sabe-se que 23,9% da população brasileira têm algum tipo de deficiência, de acordo com o Censo do IBGE de 2010. Em 2010, 8,3% da população brasileira apresentava pelo menos um tipo de deficiência severa, sendo: 3,45% com deficiência visual severa; 1,12% com deficiência auditiva severa; 2,33% com deficiência motora severa; e 1,40% com deficiência mental ou intelectual severa.
Considerando que a população brasileira em 2015 tem cerca de 200.000.000 de habitantes, considerando que, em 2010, 8,3% dos brasileiros tinham algum tipo de deficiência severa, considerando que as pessoas com deficiência severa precisam ser cuidadas por alguém capaz de suprir suas necessidades humanas básicas, significa afirmar que 16.600.000 brasileiros precisam de políticas públicas voltadas para a oferta regular e sistemática de cursos de cuidadores de pessoas com deficiência no Brasil.
Flagrante descompasso com essa demanda, interessante perceber que raras iniciativas do poder público nas três esferas de governo, apresentaram propostas consistentes focadas na formação, habilitação, capacitação, de cuidadores domiciliares para pessoas com deficiência severa. A despeito dos indicativos observados no Censo 2010, revelando crescente expectativa de vida da população, inclusive, das pessoas com deficiência.
Nesse ritmo, é bastante comum identificar núcleos familiares com pessoas com paralisia cerebral, síndrome de Down, autismo, surdez, cegueira, passando dos 40, 50, 60 ou mais anos de idade. Aumento de longevidade que não foi acompanhado pela consecução de meios para a habilitação de membros dessas famílias para o exercício do papel de cuidador principal dessas pessoas em casa.
Hoje, milhões de brasileiras, predominantes cuidadoras principais dos seus filhos, netos, bisnetos, exercem tal função de forma aleatória, porém, corretas pelo embasamento no amor que as move a tão incondicional dedicação. Penso que são dessas fontes que devemos beber conhecimentos para a formulação de conteúdos para cursos de cuidador de pessoas com deficiência severa, considerando serem pautadas no cotidiano e na vida diária.
A exemplo do que já se faz na conjuntura do Ministério da Saúde, Setor Saúde do Idoso, o fato de se ter instituído política pública a programação, produção de material didático padrão, se consolidou com grande êxito, em milhares de municípios brasileiros, o Curso de Cuidador de Idosos, o mesmo poderia ser realizado no Setor Saúde da Pessoa com Deficiência do MS. Afinal, de que vale a existência de Setor específico no Ministério da Saúde, se não serve as suas causas?
Como gestor público municipal de pasta específica para idosos e pessoas com deficiência ao longo dos últimos seis anos e tanto, creio que a proposição de cursos para formação de cuidadores de pessoas com deficiência severa deva também partir das gestões municipais, pois são nos municípios que as pessoas vivem. Caso não haja pasta específica, os gestores municipais de saúde, assistência social, direitos humanos, ou outras afins, devem assumir o compromisso de suprir essa lacuna.
Destarte, a oferta de tais cursos deveria ser fomentada na estrutura das universidades públicas e privadas, de modo a não permitir que seus programas, docentes, pesquisas, ignorem essa faceta da realidade, além de envolver os estudantes da saúde, ciências sociais, humanas, na sintonia das grandes demandas da sociedade.  
Wiliam Machado
Secretário Municipal do Idoso e da Pessoa com Deficiência de Três Rios/RJ